48129 - PARA ALÉM DA COVID-19: O OLHAR RESOLUTIVO DOS PROFISSIONAIS E GESTORES DA ATENÇÃO BÁSICA DE MANAUS, MANICORÉ E SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AMAZONAS THALITA RENATA OLIVEIRA DAS NEVES GUEDES - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA; ESAP/SEMSA MANAUS, IZI CATERINI PAIVA ALVES MARTINELLI DOS SANTOS - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, JÚLIO CESAR SCHWEICKARDT - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, FABIANA MÂNICA MARTINS - UFAM, ANA ELIZABETH SOUSA REIS - UNB
Apresentação/Introdução O cotidiano da vida das pessoas se modificou ao longo da pandemia, emergiu a necessidade de reorganização dos processos de trabalhos em saúde, especialmente na Atenção Básica.
Objetivos Analisar as medidas da saúde de enfrentamento à pandemia de Covid-19, desenvolvidas nos municípios de Manaus, Manicoré e São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, a partir do olhar dos profissionais de saúde e gestores da Atenção Básica.
Metodologia Foram realizados três encontros, entre maio e julho de 2022, nas Unidades Básicas de Saúde, de Manaus, Manicoré e São Gabriel da Cachoeira, com a participação de 65 profissionais e gestores da atenção básica. Utilizamos as técnicas participativas: Árvore Explicativa de Problemas; Planejamento de Projeto Orientado por Objetivos e narrativa. Para análise foram definidos os códigos: atenção primária; vigilância em saúde; informação e comunicação; saúde do trabalhador e participação da comunidade. Utilizamos o auxílio do software Maxqda, versão 2022.3 na análise de conteúdo das transcrições com base em Bardin (2011). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE:51941321.4.0000.5020.
Resultados e discussão Os profissionais (re)organizaram protocolos e se utilizaram de ferramentas como WhatsApp para realizar consulta médicas e psicológicas, orientações de prevenção de doenças crônicas e pré-natal, utilizando equipamentos e insumos próprios (telefone e internet), o que demonstra o comprometimento destes profissionais com a saúde pública. O envolvimento da comunidade nas ações de prevenção e controle da Covid-19 também foram marcantes, especialmente no que tange ao uso de saberes tradicionais e plantas medicinais. As singularidades do conhecimento tradicional presente nos territórios amazônicos, desafiam e demarcam o fazer saúde nesses territórios, pois são embrenhados de história, cultura e espiritualidade, numa prática de cuidado que se baseia na simplicidade dos usuários que gentilmente partilham os conhecimentos entre as gerações e atravessam a “cientificidade” da produção do cuidado. Nos planos de ação propostos, verificamos que a descentralização dos atendimentos e diagnósticos da Covid-19 são necessárias, principalmente para promover acesso ao atendimento, mas também na construção de práticas interprofissionais que passam pela organização cotidiana da equipe de saúde e acolhimento do usuário. A necessidade de qualificação de profissionais, seja por meio cursos de educação continuada, oficinas de trabalho ou implementação de “tempo protegido” nas unidades de saúde para Educação Permanente em Saúde são ações de interesse comum para os participantes. Os participantes discutiram problemas correlatos enfrentados tanto na área indígena como não indígena. A produção de material educativo bilingue é uma atividade considerada essencial para os profissionais do Distrito de Saúde Indígena, visto que eles lidam com usuários de diversas línguas e etnias. Propuseram a ampliação e reorganização da rede de atenção mental e a implementação de fluxograma na Atenção Básica, a fim de atender as demandas dos usuários e profissionais de saúde do município de Manicoré.
Conclusões/Considerações finais A pesquisa participativa trouxe resultados que podem apoiar a intervenção imediata, propositiva, gerada e produzida por seus participantes e nortear as políticas públicas de saúde sobre os modos de vida e as necessidades das populações locais. A integração entre atenção básica, vigilância em saúde e saúde do trabalhador é necessária para produção de saúde nos territórios amazônicos em tempos de pandemia, por isso, recomendamos que se incluam nos Planos de Contingência, ações voltadas para Saúde do Trabalhador como eixo prioritário. Nos territórios estudados houve um resgate de saberes e práticas tradicionais, indicando resistências e reafirmações do modo de vida de cada lugar. Neste territórios, o enfrentamento da Covid-19 se deu, no lugar onde a vida cotidiana do amazônida ganha sentido e forma e, onde os sistemas de saúde locais, com suas fragilidades e potencialidades, é construído e apropriado coletivamente pela população. Vimos que a saúde do trabalhador foi negligenciada pela gestão em saúde, mas não passou despercebida pelos usuários que em meio a dor, se dispuseram a cuidar do cuidador. A solidariedade presente nos territórios nos toca profundamente, por duas razões: é uma ação eminentemente humana, um compromisso que se estabelece na ação pelo coletivo, ao enxergar a necessidade do outro; e, é um dos princípios constitucionais, e, portanto, norteiam as políticas públicas brasileiras que buscam a ampliação de processos de integração que se baseiam na cooperação, solidariedade e gestão democrática. São duas vertentes que caminham para sustentabilidade da civilização e do Estado democrático de direito.
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