Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC15.4 - Violência de gênero física, política e simbólica: lições para o sistema de saúde

46306 - O ISOLAMENTO SOCIAL E OS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES: UM ESTUDO QUALITATIVO COM PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
MARIA CAROLINA BARTOS - UFPR, REGIANE MATIAS DA SILVA - UFPR, VANESSA OLIVEIRA LUCCHESI - UFPR, CLÓVIS WANZINACK - UFPR, MARCOS CLÁUDIO SIGNORELLI - UFPR


Apresentação/Introdução
A violência contra mulher é um problema de saúde pública reconhecido pela Organização Mundial da Saúde em 1996. Desde então são implementadas diretrizes aos sistemas públicos para combater a violência e promover a igualdade de gênero. Apesar das medidas tomadas, dados oficiais de 2020 constataram que cerca de 30% das mulheres que estiveram em um relacionamento íntimo sofreram violência física e/ou sexual por parte do seu parceiro. A pandemia de COVID-19, decretada em março de 2020, trouxe consigo um alerta da OMS para os governos: pessoas em situação de vulnerabilidade estariam mais expostas a violência doméstica (VD). A atenção primária a saúde, apontada como porta de entrada para casos de VD, foi reestruturada no período da pandemia, agravando problemas e limitando atendimentos.

Objetivos
Analisar as percepções de profissionais da atenção primária à saúde (APS) de Paranaguá/PR sobre as relações entre a pandemia de COVID-19 e casos de VD em seus territórios adscritos, identificando desafios na abordagem, impactos nas famílias e manejo dos casos.

Metodologia
Pesquisa qualitativa desenvolvida a partir de entrevistas semiestruturadas e grupos focais (2020-2021), com 36 profissionais de duas unidades básicas de saúde do município de Paranaguá, litoral paranaense. As entrevistas foram gravadas e depois transcritas e o material passou por uma análise temática de categorias emergentes. Extraiu-se da pesquisa dados inéditos com temas direcionados aos impactos de pandemia de COVID-19 sobre a VD. As categorias resultantes foram cotejadas com literatura da área de saúde coletiva.

Resultados e discussão
Os profissionais da APS foram unânimes em relatar o aumento no número de casos de VD naquelas comunidades, com impactos tanto para mulheres, mas também para crianças e adolescentes, sendo o fechamento das escolas um fator agravante.
Como principais desafios foi relatada a desestruturação da APS durante o auge da pandemia, quando profissionais e recursos foram deslocados da APS para ações emergenciais (hospital de campanha, testagem e vacinação). Somado a desinformação sobre fluxos de encaminhamento no manejo dos casos de VD na rede intersetorial, uma vez que fluxos, serviços e profissionais mudavam constantemente em função da prioridade no atendimento de casos de COVID-19, as vítimas de VD que buscavam atendimento passavam por um transtorno maior que poderia ser um fator desencorajador a dar continuidade do processo.
O medo foi o sentimento mais citado pelos profissionais da APS, tanto da pandemia, quanto de denunciar casos de VD. O medo inibia os profissionais do ato de preencher as fichas de notificação, o que pode ter invisibilizado casos e prejudicado dados oficiais.
A rotatividade de profissionais também foi reconhecida como um agravante no acolhimento das vítimas, já que vínculos de trabalho precários levavam a quebra da relação de confiança construída com a comunidade.


Conclusões/Considerações finais
O período de isolamento social causado pela pandemia intensificou os casos de VD segundo as percepções de profissionais da APS de Paranaguá. O desmonte da rede intersetorial prejudicou ainda mais o cuidado de pessoas em situação de vulnerabilidade e/ou violência. A ausência de diretrizes nacionais do governo federal deixou municípios e profissionais da APS à própria sorte para lidar com o problema.