03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC15.4 - Violência de gênero física, política e simbólica: lições para o sistema de saúde |
46595 - DESINFORMAÇÃO E DISCURSOS DE ÓDIO NA INTERNET COMO INSTRUMENTOS DA VIOLÊNCIA POLÍTICA DE GÊNERO: CASO DAS ELEIÇÕES DE 2022 ADRIANO DA SILVA - FIOCRUZ, VERA LUCIA MARQUES DA SILVA - FIOCRUZ, EVELLYN NASCIMENTO XAVIER DA SILVA - FIOCRUZ, GIULIANA PETRUCCI BRAGA MOERBECK REIS - FIOCRUZ, EDILANO MOREIRA CAVALCANTE - FIOCRUZ, MEL GOUVEIA MATOS MORENO LYRA - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução A violência política de gênero direcionada a candidaturas de mulheres e LGBTQIA+ marcou as eleições de 2022, nas quais o uso de desinformação e discursos de ódio contra estes grupos também foi notório. Trata-se de um desdobramento de um ecossistema que tem como lócus privilegiado a internet, cada vez mais presente em lares brasileiros. De acordo com a pesquisa TIC domicílios, 59 milhões de lares (82%) acessam a internet, um aumento em relação a 2019. Em áreas rurais, cresceu de 51% em 2019 para 71% em 2021. Sobre os usos, 93% dos usuários acessam a internet para troca de mensagens instantâneas e 81% para se comunicar por redes sociais digitais. A desinformação pode ser considerada como o espalhamento de notícias falsas ou dúbias. Os discursos de ódio são manifestações usualmente direcionadas a grupos minorizados em virtude do gênero, raça, orientação sexual e pessoas com deficiência, que visam ofender e inferiorizá-los/as. Tratam-se de fenômenos antigos, mas que ganham novos contornos em razão do aumento em quantidade e velocidade, possibilitados pelos avanços tecnológicos das últimas décadas. Este trabalho visa discutir os usos de desinformação e discursos de ódio contra candidaturas de mulheres e LGBTQIA+ durante as eleições de 2022. A observação se deu no âmbito do projeto "Violência política de gênero, discursos de ódio e desinformação em interface com a saúde". O presente resumo visa apresentar dados e reflexões preliminares acerca das observações realizadas até o momento.
Objetivos 1. Discutir os principais aspectos conceituais sobre discursos de ódio e desinformação na política.
2. Apresentar algumas características da desinformação e dos discursos de ódio contra candidatas/os mulheres e LGBTQIA+ durante o pleito eleitoral de 2022.
Metodologia Foi realizado um mapeamento noticioso no G1 e no R7, onde buscou-se aferir tanto a circulação de possíveis conteúdos desinformativos, como também a forma com a qual as candidatas/os foram retratadas. Além disso, foram criados alertas para coleta de notícias a partir do buscador Google Notícias com marcadores sobre "Violência política de gênero" e "Fakenews" durante o período. Foram mapeadas também candidaturas de mulheres e pessoas LGBTQIA+ de diferentes espectros políticos, totalizando 165 candidatas/os. Destas, foram selecionadas dez, sendo oito entre deputadas/os, governadoras/es e presidenciáveis, e as duas candidaturas à Presidência com maior percentual de intenção de votos. A seleção se deu a partir de monitoramento midiático e análises interseccionais sobre as principais candidaturas. Observou-se os perfis das candidatas/os selecionadas/os em suas redes digitais com intuito de verificar perpetração de discursos de ódio contra estas/es. A coleta foi realizada durante todo o período eleitoral de 2022.
Resultados e discussão As candidaturas selecionadas foram Fátima Bezerra (PT/RN), Simone Tebet (MDB/MS), Keyla Ávila (PP/PR), Inianarae Siqueira (PT/RJ), Sônia Guajajara (PSOL/SP), Marina Silva (Rede/SP), Fernando Holiday (Novo/SP), e Érika Hilton (PSOL/SP). Os presidenciáveis com maior intenção de votos foram Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Tanto nos noticiários (G1 com 54 notícias e R7 com 94), como no Google alertas (54 notícias sobre violência política de gênero e 51 sobre fakenews), o principal foco das matérias foram os presidenciáveis. As demais candidaturas foram noticiadas em sua maior parte pelos apoios ou abstenções relacionados aos presidenciáveis. Observou-se pouca exposição das propostas das demais candidaturas/os, destacando assim a centralidade dos dois candidatos à Presidência e invisibilizando as/os demais candidatas/os. Denúncias de violência política de gênero e o enfrentamento da desinformação também estiveram presentes, observando-se assim uma maior consciência pelas candidaturas acerca do tema. No monitoramento realizado nas redes digitais destaca-se o Twitter, onde foram observados comentários explícitos de ódio, com ofensas sobretudo relacionadas ao gênero, raça e orientação sexual das/os candidatas/os. Ameaças de morte, transfobia e racismo, ofensas direcionadas ao caráter das candidatas/os foram amplamente observadas.
Conclusões/Considerações finais É possível afirmar que se tratou de um pleito eleitoral marcado pela centralidade das candidaturas presidenciáveis, o que trouxe desdobramentos para as demais candidaturas, ratificando um cenário de polarização, com pouca exposição de propostas. A manifestação da violência política de gênero disseminada pela internet pode ser considerada um dos problemas críticos consequentes destes novos tempos de avanço tecnológico, sendo agravada pela falta de controle da desinformação e os discursos de ódio. Urge assim compreender o fenômeno a partir das mudanças do cenário tecnológico e discussão na sociedade, em especial nos espaços legislativos, para superação do problema.
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