03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC15.4 - Violência de gênero física, política e simbólica: lições para o sistema de saúde |
46629 - CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E O CUIDADO ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA EDNA MARA MENDONÇA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS, PAULA DIAS BEVILACQUA - INSTITUTO RENÉ RACHOU - FIOCRUZ MINAS
Apresentação/Introdução A violência contra as mulheres representa um fenômeno social estando articulada a contextos de vulnerabilidade, desigualdades de classe, gênero, raça/etnia, idade e orientação sexual. No que se refere à saúde, especificamente, a violência produz múltiplas consequências e adoecimento das mulheres, estando associada a acometimentos físicos, psíquicos e emocionais.
Os sintomas de sofrimento mental aparecem em diferentes maneiras como tristeza, solidão, baixa autoestima, medo, comportamentos agressivos e, como quadros psicopatológicos: síndrome do pânico, quadros de ansiedade, depressão, abuso de substância, tentativas de autoextermínio e o transtorno de estresse pós-traumático (MINAYO; SCHENKER, 2018; TANIZAKA et al.; 2021). Situações que demandam cuidados mais sensíveis e em rede para abarcar toda a complexidade dos casos.
Objetivos - Compreender como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se organizam como espaços de cuidado para as mulheres em situação de violência.
- Compreender como os profissionais reconhecem a violência nos casos de mulheres atendidas no CAPS em seu cotidiano de trabalho;
- Compreender como os CAPS se articulam a outros serviços para atender às demandas relacionadas à violência contra as mulheres;
Metodologia O cenário de estudo compreende a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do município de Pará de Minas, Macrorregião de Saúde Oeste do estado de Minas Gerais, envolvendo, mais especificamente, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), compostos por dois equipamentos, o CAPS tipo II e o CAPS AD II. A pesquisa, de abordagem qualitativa, utilizou entrevistas semiestruturadas individuais com um roteiro básico de questões para construção de dados e foram realizadas com profissionais dos CAPS II; CAPS AD, os gerentes dos CAPS, a diretora e as referências técnicas da saúde mental do município. Também, como método de pesquisa, realizou-se observação participante no decorrer do processo de acompanhamento dos profissionais dos CAPS. Os dados da observação participante foram registrados no caderno de campo. As entrevistas foram gravadas e transcritas e posteriormente analisadas por meio da Análise de Conteúdo e em triangulação com os dados da observação participante.
Resultados e discussão Os resultados da pesquisa revelaram dificuldades do profissionais no acolhimento das usuárias nos serviços de saúde mental. Tal fato ressoa no cuidado ofertado nos CAPS minimizando as possibilidades de enfrentamento das situações de violência além de atravessamentos na garantia dos seus direitos.
Constatou-se também que, o uso acentuado de medicamentos devido a patologização do corpo das mulheres dificulta a percepção sobre a verdadeira causa do adoecimento. Questões que são amplificadas pela precariedade das políticas públicas, pela falta de investimento em formação profissional com repercussões graves na saúde dessas mulheres.
Entende-se que o modelo de Atenção Psicossocial não possibilita o cuidado adequado às mulheres em geral, fato carece de inserção das pautas relacionadas ao gênero e suas interseccionalidade. Percebe-se que as percepções dos profissionais, acerca de temas correlatos à violência, favorecem o surgimento de obstáculos para a produção do cuidado e da articulação intersetorial, indispensáveis para o enfrentamento das violências.
Conclusões/Considerações finais A violência, o uso de álcool e outras drogas e o sofrimento mental se interrelacionam na experiência de mulheres em situação de violência e incidem no cotidiano dos CAPS. Contudo, a falta de compreensão por parte dos profissionais e gestores acerca do processo saúde-doença como fenômeno de múltiplas determinações faz com que as situações de violência não sejam identificadas, resultando, muitas vezes, em abordagens focadas na medicalização das suas consequências, especificamente, o adoecimento mental e o uso de álcool e outras drogas.
O trabalho em rede ainda se apresenta desafiador devido sua fragilidade. Há necessidade de alinhamento conceitual sobre as atribuições de cada serviço, a (re)pactuação dos fluxos de atendimento, o investimento nas práticas intersetoriais e o diálogo com a comunidade. Além do mais, há necessidade de instituição de espaços de educação permanente aliados ao fortalecimento dos espaços coletivos como as reuniões de rede com, inclusive, incentivo a produção de conhecimento a partir da experiência dos serviços.
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