Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC15.4 - Violência de gênero física, política e simbólica: lições para o sistema de saúde

46701 - PROCESSOS FORMATIVOS PARA O ENFRENTAMENTO DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES NO SETOR SAÚDE
JULIA COSTA DE OLIVEIRA - FIOCRUZ MINAS, JANETE GONÇALVES EVANGELISTA - FIOCRUZ MINAS, KENIA ARAUJO PIRES - FIOCRUZ MINAS, ANA PEREIRA DOS SANTOS - FIOCRUZ MINAS, PAULA DIAS BEVILACQUA - FIOCRUZ MINAS


Apresentação/Introdução
A violência contra a mulher (VCM) é um problema multifatorial, manifestando-se em diversas facetas, podendo ser física, psicológica, sexual, moral, patrimonial. O setor saúde compõe a rede de enfrentamento da VCM, por uma abordagem intersetorial, multiprofissional e interdisciplinar. Para isso, é necessário que os seus serviços ofertem atenção qualificada, o que se depara com o desafio de uma exígua formação dos trabalhadores sobre a temática.

Objetivos
Analisar como trabalhadores da saúde têm se qualificado para atuar na prevenção e enfrentamento das violências contra as mulheres no Brasil.

Metodologia
Uma revisão integrativa da literatura foi realizada, partindo da pergunta norteadora: “Como a temática da VCM é abordada na formação dos trabalhadores da saúde?”. Após um processo de seleção em pares por leitura de título e resumo e leitura completa, foram incluídos artigos indexados em periódicos, que abordem as trajetórias formativas de trabalhadores da saúde sobre VCM no Brasil, a partir de 2011, devido à publicação da Política Nacional de Enfrentamento da Violência Contra as Mulheres, que prevê a formação dos trabalhadores atuantes na assistência. Os artigos incluídos foram sistematizados com auxílio de um instrumento construído pelas autoras e testado por pares para descrição pelos eixos: lacunas na formação acadêmica e/ou em serviço; descrição de processo formativo realizado e seus possíveis efeitos; propostas para processos formativos. Assim, foi possível identificar 4 categorias de artigos: aqueles que abordam a trajetória formativa de estudantes da saúde sobre VCM na universidade; aqueles que relatam a experiência de processo formativo sobre VCM para estudantes da saúde na universidade; os que abordam a trajetória formativa de trabalhadores da saúde sobre VCM em serviço; e os artigos que relatam a experiência de processo formativo sobre VCM para trabalhadores da saúde em serviço.

Resultados e discussão
A busca identificou 350 artigos e 16 foram incluídos na revisão, sendo que 8 abordam a formação acadêmica e 8 abordam a formação em serviço. Todos os artigos apontam que há fragilidades na formação sobre VCM tanto na graduação, quanto em serviço, o que pode ocasionar oportunidades perdidas para a detecção dos casos, atendimento e encaminhamentos das mulheres em situação de violência para demais setores dessa rede de enfrentamento. Em relação à educação em serviço, destaca-se que a temática não é foco das discussões em ações de Educação Permanente em Saúde. Nesses termos, o primeiro contato com a questão da VCM acontece, muitas vezes, quando o profissional está em serviço, pela própria prática. Os participantes de um dos estudos foram unânimes em afirmar que nunca estiveram envolvidos em cursos sobre a temática. Os profissionais participantes de outros estudos afirmaram que buscaram por diversas formas de capacitação por conta própria, além da existência de ações pontuais propiciadas pelo Ministério da Saúde e, em menor grau, municipais, caracterizando-se como iniciativas isoladas, não vinculadas a uma cultura institucional em que se valorize a educação permanente como política, privilegiando conteúdos fundamentados na lógica biomédica, sem abordar aspectos históricos e culturais. Foram identificados alguns relatos descrevendo experiências formativas na graduação - como disciplinas e projetos de extensão - e em serviço, os quais podem instigar a promoção de futuros processos formativos, necessidade reafirmada em todos os artigos analisados. Em relação aos relatos de formação em serviço, todos se situam na Atenção Primária à Saúde, dialogando com Agentes Comunitários de Saúde, e foram provenientes de pesquisas participativas, as quais consideraram seus métodos enquanto dispositivos formativos, tomando-os como objeto de análise.

Conclusões/Considerações finais
Parcerias entre universidade e Sistema Único de Saúde podem ser potentes para a criação de processos formativos criativos, participativos e que considerem a complexidade social do fenômeno da VCM, pautados por lentes reflexivas, interseccionais e críticas. Defendemos que o debate da VCM não seja um apêndice eventual nos cursos da graduação em saúde e em formações pontuais em serviço, mas que os diversos atores que compõem o setor saúde se comprometam ético-politicamente com o enfrentamento dessa problemática de forma continuada.