Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC15.5 - Direito humano fundamental à saúde: identidade e símbolos na diversidade

47176 - MASCULINIDADE, PRIVACIDADE E PRAZER NA ERA DIGITAL: UM ESTUDO SOBRE A PORNOGRAFIA NO TWITTER E SUAS REPERCUSSÕES PARA A SAÚDE COLETIVA
JONATHAN DE OLIVEIRA ALMEIDA - UERJ


Apresentação/Introdução
O resumo que ora se apresenta é extraído de parte do meu projeto de pesquisa do curso de doutorado, que vem sendo desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva do IMS/UERJ, desde o ano de 2021, na Área de Concentração “Ciências Humanas e Saúde”, sob a orientação do Prof. Dr. Sérgio Carrara. Em linhas gerais, com o presente trabalho, pretende-se explorar as noções e possíveis articulações entre masculinidade e privacidade no que concerne à produção, divulgação e comercialização de conteúdo sexual homoerótico explícito na rede social Twitter. Tal conteúdo é, em regra, criado, produzido, comercializado e consumido por homens gays cisgêneros, enfatizando-se não só os corpos que são selecionados ou excluídos sob a ótica do prazer, mas também as suas interrelações com o binômio público/privado. Com efeito, vem crescendo no Twitter um movimento de criação de perfis com conteúdo sexual homoerótico e explícito ou pornográfico, que, na referida rede social, são conhecidos como perfis “18+” ou “+18”. Nesse quadro, surgem questões relevantes a serem debatidas em torno de como a masculinidade e a privacidade são construídas e negociadas nesse ambiente digital, além dos desafios concernentes à produção e divulgação do conteúdo sexual. Ainda, verifica-se que a motivação dos usuários que produzem conteúdo sexual (homo)erótico para o Twitter 18+ é diferente daquela que conduz apenas ao seu consumo, sendo, por isso, imprescindível analisar, na perspectiva dos estudos de gênero e sexualidade, os corpos expostos que mais obtêm engajamento na rede social, de modo a assinalar as noções de masculinidade gay ali apresentadas e os possíveis marcadores sociais que influenciam na criação de um perfil 18+ e os seus desdobramentos.

Objetivos
Busca-se compreender os imaginários que os indivíduos que criam, produzem, comercializam ou consomem pornografia no Twitter têm sobre masculinidade, privacidade e prazer, identificando-se as dinâmicas subjacentes e os impactos na construção de sua identidade na esfera digital. A inferência que se faz é que essas complexas intersecções poderão, a um só tempo, revelar homofobia dentro da própria comunidade (gay), excluindo-se os corpos ou os comportamentos que não sejam correspondentes à norma sexual vigente no âmbito da rede (o que se ora nomeia como “homonormatividade”), ou, de outro lado, servir de instrumento de respeitabilidade social, uma vez que se aproxima da masculinidade heteronormativa ou hegemônica. Sem embargo, destaca-se, mais uma vez, que os marcadores sociais da diferença (como raça, gênero e classe social) podem ser determinantes para a criação de um perfil no Twitter 18+, além de permitirem identificar as implicações dessa “escolha” em relação ao reconhecimento do sujeito de direito e do sujeito erótico, tangenciando a ideia de cidadania ou democracia sexual, bem como o aspecto relacional, isto é, para o desenvolvimento da afetividade, do erotismo e do prazer, principalmente com base nas racionalidades e moralidades dominantes no contexto brasileiro.

Metodologia
A partir de uma abordagem qualitativa, que combina revisão bibliográfica, análise de conteúdo de mais de 100 (cem) perfis e entrevistas com usuários masculinos do Twitter que, não só praticam sexo com outros homens, como também produzem, divulgam, comercializam e/ou consomem pornografia na mencionada rede social, faz-se imprescindível investigar as representações de masculinidade nesse espaço, levando em consideração todas as dimensões da privacidade e da (auto)exposição. Ademais, o compartilhamento do conteúdo pornográfico no Twitter pode se apresentar como mecanismo de livre exploração da sexualidade, emponderamento e (auto)afirmação, bem como de produzir o senso de comunidade e de pertencimento, além de se mostrar como um meio de exercer atividade remunerada (já que, repisa-se, alguns usuários comercializam as fotos e os vídeos produzidos), dentre outros aspectos.

Resultados e discussão
Considerando que a presente pesquisa está em andamento, eventuais resultados parciais poderão ser apresentados na ocasião do congresso. De toda forma, vale dizer que o compartilhamento do conteúdo sexual explícito ou pornográfico no Twitter pode produzir amplos efeitos para a sociedade em geral, sobretudo quanto aos desafios éticos e legais relacionados ao consentimento, à objetificação e ao papel das redes sociais na formação de possíveis normas de comportamento sexual, o que traz importantes repercussões para a saúde coletiva.

Conclusões/Considerações finais
Por fim, a partir dos diálogos realizados a partir deste estudo, espera-se contribuir para um melhor entendimento das sinuosas articulações entre masculinidade, privacidade e pornografia nas redes sociais, fornecendo ideias e subsídios valiosos para outros pesquisadores, profissionais de saúde e atores políticos na formulação de políticas públicas voltadas para a sexualidade e para o uso responsável da tecnologia.