Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.4 - Interseccionalidade e atenção à saúde

45126 - GÊNERO, MASCULINIDADES E ATENÇÃO BÁSICA: MOVIMENTOS INSTITUINTES NA SAÚDE COLETIVA DE VASSOURAS/ RJ.
PAULO ARMANDO ESTEVES MARTINS VIANA - SMS VASSOURAS/RJ, RAIANE FURTADO - SMS VASSOURAS/RJ, LARISSA SUELY VIEIRA RAMOS - SMS VASSOURAS/RJ, ROSE HONÓRIO BRANDÃO - SMS VASSOURAS/RJ


Contextualização
Sabemos que a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem/2009 ainda reverbera muito pouco nas práticas cotidianas de saúde, tendo em vista sua recente inserção no campo e as ainda proeminentes interferências de lógicas patriarcais e machistas na saúde coletiva. Frente a esta questão, criamos um Protocolo e Fluxograma de atendimento à população masculina baseados nos eixos estruturantes da PNAISH, com vistas a respaldar e nortear o trabalho das esquipes de saúde da família. O fluxograma se constitui partindo de sete (07) públicos alvos específicos, quais sejam: pré-natal do parceiro, alteração de pressão arterial e glicemia, uso abusivo de álcool e/ou outras drogas e sofrimento psíquico, suspeita ou confirmação de violência, usuário sem queixas, usuário tabagista e abordagem em saúde sexual e reprodutiva. A partir desses públicos alvos são estabelecidas ações e condutas que privilegiam estratégias de acesso e acolhimento do usuário, bem como um olhar integral em saúde, compreendendo o homem como um sujeito generificado e os usuários em suas singularidades. Desta forma, criamos um calendário de reuniões com as unidades de saúde para apresentar o fluxograma e problematizar o trabalho das equipes junto à população masculina, partindo das ações e condutas apresentadas no documento e dialogando com as práticas já instituídas nas UBS.

Descrição
Com o objetivo de efetivar o fluxograma de atendimento à saúde do homem junto às equipes de saúde da família, construímos um calendário de reuniões em cada unidade de saúde convidando todos os profissionais das equipes. Desta forma, partimos de uma discussão específica sobre gênero e sexualidade para apresentar a PNAISH, partindo de seus eixos norteadores e, em seguida, nos utilizamos da fisicalidade do fluxograma como dispositivo para pensar as práticas já realizadas pelas equipes.

Período de Realização
2022 - em andamento.


Objetivos
Geral: Apresentar o fluxograma de atendimento à saúde do homem às unidades de saúde como um dispositivo de reflexão das práticas de saúde dirigidas a esse público, permitindo, com isso, a ativação de novos modos de cuidado que garantam acesso e acolhimento deste público que, historicamente, encontra-se afastado das lógicas de prevenção e promoção ofertadas pela atenção básica. Específicos: Implementar o fluxograma de atendimento à saúde do homem; Garantir acesso e acolhimento dos homens; Promover espaços de discussão e educação em saúde com as equipes de saúde da família; Favorecer uma atenção integral à saúde dos homens fundamentada na perspectiva de gênero; Fomentar um olhar atento à paternidade ativa, bem como garantir maiores reflexões acerca do exercício da dupla paternidade e da dupla maternidade; Fomentar discussões baseadas nas relações de gêneros e interferir sobre modos relacionais que (re)produzam desigualdades de gênero.

Resultados
Já nos reunimos com nove (09) unidades de saúde e é possível observar que temos conseguido mobilizar e sensibilizar as equipes quanto à temática, visto que todas, até o momento, já estão estabelecendo horários noturnos de atendimento e fomentando algumas ações para melhorar o atendimento de homens grávidos (pré-natal do parceiro) nas unidades. Conseguimos perceber, também, que as equipes têm colocado em análise algumas posturas machistas que vinham reproduzindo até então e atentando às estratégias de acesso e acolhimento desses homens nas unidades de saúde. Desta forma, compreendemos que a ação, mesmo que em seu início, está criando inflexões e análises que têm promovido desvios e transformações nas práticas estabelecidas.

Aprendizados
Percebemos, nesse processo de trabalho, que podemos garantir uma transformação do atendimento à saúde do homem através de um fluxograma que serve como dispositivo de reflexão do cotidiano de trabalho.

Análise Crítica
Realizar essa atividade junto às equipes de saúde da família nos fez atentar que o fluxograma de atendimento pode ser um dispositivo analisador das práticas em saúde, já que em meio as discussões, concepções duras/instituídas sobre gênero aparecem, produzem reverberações nas falas e colocam em circulação contradições que constituem o campo social que formata e desmonta noções históricas sobre masculinidades, heterossexualidades, homofobias, transfobias e misogenias. Nessa medida, podemos colocar em análise, junto aos trabalhadores do campo da saúde, com autores como Rene Lourau, Judith Butler e Welzer-Lang discursividades que tanto interferem nos modos como produzimos saúde no contemporâneo. Nessa medida, seguindo uma estratégia dialógica, vamos tecendo possibilidades de atuação frente aos limites impostos pelo cotidiano do trabalho e suas potências.