Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.4 - Interseccionalidade e atenção à saúde

46173 - AVALIAÇÂO DA PERCEPÇÃO DAS MULHERES NEGRAS SOBRE O ACESSO ASO SERVIÇOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
MARCELIA ALVES DE SOUZA MARTINS - SMS RJ, ANDRIS CARDOSO TIBRUCIO - SMS RJ


Apresentação/Introdução
Esta pesquisa qualitativa foi realizada por profissional da gestão em saúde pública e estudante do Mestrado Profissional em Atenção Primária Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública - FIOCRUZ (2022)e procurará observar a saúde das mulheres negras sob o prisma étnico-racial ,compreendendo o racismo como um determinante social que pode intervir diretamente no processo saúde-doença. As formas como as relações raciais estão conformadas no Brasil tornam a população negra mais vulnerável e tendem a dificultar seu acesso aos serviços de saúde. A população negra (somatório de pessoas pretas e pardas) representa 56,11% da sociedade brasileira (IBGE, 2019), porém , este número não é refletido no acesso a bens básicos de sobrevivência, como saúde , educação, habitação, entre outros (IBGE,2019).Observa-se, ainda , que em nossa estrutura societária, essa população encontra-se alocada nos piores postos de trabalho, recebem os menores salários, com o acesso à educação precarizado e limitado, residindo em zonas periféricas onde estão sujeitos a diferentes tipos de violência em seus corpos, física e mentalmente ( ALMEIDA, 2019). Nesse sentido, na saúde , a situação de iniquidade e vulnerabilidade afeta negativamente a população negra, reconhecendo o racismo como fator que compreende o acesso dessa população aos diversos serviços públicos de saúde (BRASIL, 2017). O racismo institucional e estrutural no campo da saúde, influenciam nas condições de acesso aos serviços ofertados na espera da Atenção Primária à Saúde, sendo relevante essa discussão do recorte racial que atinge mulheres negras numa tripla discriminação racial, social e de gênero.

Objetivos
Analisar a percepção das mulheres negras sobre o acesso à uma Unidade de Saúde na Atenção Primária à Saúde no município do Rio de Janeiro:


Metodologia
A pesquisa de campo foi realizada por meio da realização de entrevistas, com roteiro semiestruturado, para capturar as percepções dessas usuárias, sobre o acesso e o cuidado ofertado na CF. O roteiro abordou os seguintes tópicos: identidade étnico racial, perfil sociodemográfico, acessibilidade geográfica, com enfoque no efeito da distância sobre a frequência no serviço de saúde, condições e necessidades em saúde, percepção acerca do serviço de saúde e a relação com os profissionais (expectativas das usuárias) e a percepção em relação a influência do quesito raça/cor no atendimento recebido.

Resultados e discussão
Com relação a percepção das mulheres negras sobre a interferência do quesito raça/cor e de manifestações de racismo na unidade de saúde, as usuárias entrevistadas trazem narrativas em que estão presentes a discriminação racial e o racismo institucional, desconheciam o conceito e o significado material do racismo, declararam nunca ter vivido ou presenciado discriminação racial, de uma forma direta. Identificou-se o quanto o racismo institucional se expressa nas entrelinhas dos depoimentos. Ele não se dá de forma visível, está sutilmente enraizado no âmago das instituições e nas relações sociais. A visão de que há preconceito de classe e não de cor também esteve presente nas falas das entrevistadas. Apesar de ter sido perceptível que as mulheres compreendem e relatam situações discriminatórias, algumas delas demonstraram dificuldades para perceber e reconhecer que também são vítimas. Dada a não frequente verbalização, nem sempre é fácil captar sinais de racismo, até mesmo pela mulher negra que poderá se sentir diminuída, desafiada e humilhada.

Conclusões/Considerações finais

Diante das situações de racismo é necessário estimular discussões sobre o tema e desenvolver estudos que além de dar visibilidade as iniquidades raciais possam contribuir para a compreensão de como as discriminações atuam sobre a saúde das mulheres negras . È salutar construir caminhos e propostas de enfrentamento ao racismo institucional e mecanismos que estimulem as denúncias contra o racismo dentro dos espaços institucionalizados, dentro e fora do setor saúde. O resultados desta pesquisa devem servir como subsídios para outros estudos que se proponham a investigação do racismo na saúde, bem bem como adoção de redução das iniquidades raciais e promoção e políticas como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

A forma sutil como as situações ocorrem, indicam racismo institucional, de tal forma que permanece sob um viés implícito.Nesse sentido, a construção de políticas públicas de saúde voltadas à população negra devem se fundamentar nos princípios básicos de combate à discriminação racial, refletindo na redução das desigualdades sociais, bem como a inserção do tema racismo nas discussões dos serviços de saúde.