Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.4 - Interseccionalidade e atenção à saúde

46274 - PERFIL DOS TRABALHADORES DE SAÚDE EM HOSPITAL PÚBLICO NO CONTEXTO DA PANDEMIA COVID-19: ANÁLISE NA PERSPECTIVA DO TRABALHO INTERPROFISSIONAL E DA INTERSECCIONALIDADE
LÍVIA BEZERRA RODRIGUES - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, MARINA PEDUZZI - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, CRISLAINE LOQUETI SANTOS RAINHO PRADO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, CAMILA MOITINHO DE ARAGÃO BULCÃO - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Apresentação/Introdução
Apresentação/Introdução: Estudo sobre o trabalho interprofissional (REEVES; XYRICHIS, ZWARENSTEIN 2018) e sua relação com os marcadores sociais da diferença que produzem e expressam desigualdade entre os trabalhadores de saúde: gênero, raça/cor e profissão/ocupação. Adota-se a interseccionalidade como ferramenta analítica e teoria social crítica em construção (COLLINS, 2023), o referencial de processo de trabalho e necessidades em saúde do campo da Saúde Coletiva e os estudos da interprofissionalidade. A pesquisa busca contribuir na produção de conhecimento sobre as práticas de saúde no Sistema Único de Saúde, sua tendência a se constituírem como trabalho interprofissional e as desigualdades entre os trabalhadores com base em gênero, raça/cor e profissão/ocupação. A última categoria está fundamentada na sociologia das profissões que caracteriza as profissões com base no domínio de conhecimento técnico científico específico que as distinguem das ocupações e atribuem autoridade aos seus agentes e configuram desigualdades das condições de trabalho e vida. Os trabalhadores são elementos críticos das práticas de saúde e, assim, objeto da Saúde Coletiva.

Objetivos
Objetivos: Analisar o perfil dos trabalhadores de saúde e sua relação com os marcadores sociais em um hospital público no qual foi implementado um Plano de Contingência de Saúde do Trabalhador durante a pandemia Covid-19.

Metodologia
Metodologia: Estudo descritivo-exploratório desenvolvido em duas etapas: a primeira de abordagem quantitativa com base em dados secundários e, a segunda, qualitativa através de entrevista semi-estruturada. Serão apresentados resultados da primeira etapa. Realizado em hospital público de administração direta no município de São Paulo. Foram utilizados informações de quatro bancos de dados do hospital estudado e as variáveis foram: sexo, raça/cor, categoria funcional e escolaridade mínima requerida, idade, imunização e testagem de Covid-19. Na análise utilizou estatística descritiva e de agrupamento.

Resultados e discussão
Resultados e discussão: O hospital tem 1011 servidores públicos estatutários: 72,7% do sexo feminino e 27,3% masculino; quanto a raça/cor, 56,6% brancas, 26,3% pardas, 12,3% pretas e 4,8% amarelas; quanto à escolaridade mínima requerida para a função: 38,6% de ensino superior, 37% de ensino médio, 24,4% de ensino básico. Sobre a caracterização por grupos de trabalhadores por semelhanças, utilizou-se a análise de agrupamentos (Two Step Cluster) que resultou em três grupos homogêneos. O grupo 1 corresponde a 25,3% dos trabalhadores sem formação específica em saúde e quanto à raça/cor, 34,3% pardas e 15,9% pretas. O grupo 2 corresponde a 36,1% dos trabalhadores com educação profissional em saúde e ensino médio, 79,5% do sexo feminino e quanto à raça/cor, 31,3% pardas e 16,9% pretas. O grupo 3 corresponde a 38,6% dos trabalhadores com formação em saúde de ensino superior, 60,3% do sexo feminino e quanto à raça/cor 66,5% brancas e 11,5% amarelas, porcentagens maiores comparativamente aos demais grupos de trabalhadores do sexo masculino no ensino superior. Observou-se diferenças no perfil de raça/cor com maioria de brancos com formação de ensino superior e maioria de negros com formação de ensino básico. Destaca-se a categoria profissional médica com porcentagens maiores de trabalhadores do sexo masculino em relação às femininas (47,1% versus 12,4%), os trabalhadores do sexo masculino apresentam maior porcentagem em relação às do sexo feminino com formação no ensino superior (55,1% versus 32,4%); Embora o perfil geral dos trabalhadores seja composto majoritariamente por brancos, ao realizar o recorte quanto às categorias funcionais e requisito mínimo de escolaridade, percebe-se entre aqueles com menor requisito de escolaridade por função há maior porcentagem de trabalhadores do sexo feminino e negras; e nas categorias funcionais com ensino superior maior porcentagem do sexo masculino.

Conclusões/Considerações finais
Conclusões/Considerações Finais: O perfil dos trabalhadores de saúde revela diferenças que quando analisadas segundo os marcadores sociais de gênero, raça/cor e profissão/ocupação, sob o referencial da interseccionalidade, expressam processos de opressão que impactam negativamente na vida e na saúde dos trabalhadores, em especial das trabalhadoras negras, visto que estas estão presentes, sobretudo nas ocupações sem formação específica em saúde e nas profissões em saúde que requerem educação profissional e ensino médio, que são reconhecidas como agentes de trabalhos com menor valor social. O estudo está em desenvolvimento e tem continuidade com a segunda fase (qualitativa) na qual serão realizadas entrevistas com uma amostra do subgrupo de trabalhadores do hospital que participou do atendimento interprofissional do Plano de Contingência de Saúde do Trabalhador no enfrentamento da pandemia de Covid-19, para compreender sua experiência quanto ao trabalho em equipe e as possíveis diferenças e iniquidades no cuidado aos três grupos homogêneos identificados e aqui apresentados.