Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.4 - Interseccionalidade e atenção à saúde

46727 - DA PAUSA À MENOPAUSA?: NARRATIVAS SOBRE INFERTILIDADE E INCERTEZAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19
ULLA MACEDO - INSTITUTO GONÇALO MONIZ (IGM/FIOCRUZ BAHIA) E INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA (ISC/UFBA), CLAUDIA BONAN JANNOTTI - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRAS (IFF/FIOCRUZ), ANA PAULA DOS REIS - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA (ISC/UFBA), CECILIA ANNE MCCALLUM - FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS (FFCH/UFBA) E INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA (ISC/UFBA), GREICE MENEZES - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA (ISC/UFBA), MARIA DA CONCEIÇÃO CHAGAS DE ALMEIDA - INSTITUTO GONÇALO MONIZ (IGM/FIOCRUZ BAHIA), ANDREZA RODRIGUES - ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY (EEAN/UFRJ), NANDA DUARTE - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA (ISC/UFBA), MAIARA DAMASCENO DA SILVA SANTANA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA (ISC/UFBA)


Apresentação/Introdução
O período da pandemia de Covid-19 no Brasil foi marcado por uma série de restrições, entre as quais a suspensão de alguns serviços de saúde, incluindo os relacionados à infertilidade. Houve também a propagação de mensagens desaconselhando gestações durante a crise sanitária. Para as pessoas empenhadas em engravidar, essa possível “pausa” representa obstáculo potencial, haja vista que o tempo e a idade são grandes desafios neste processo reprodutivo.

Objetivos
Analisar, de forma interseccional, narrativas de 20 mulheres cis com vivência de infertilidade, residentes em diferentes regiões do Brasil, cujo foco era o desejo de gestar e o contexto pandêmico.

Metodologia
A pesquisa Pandemia de COVID-19 e práticas reprodutivas de mulheres no Brasil está sendo realizada pelo Grupo de Pesquisa Gênero, Reprodução e Justiça (RepGen), parceria entre Fiocruz, UFBA e UFRJ, com abordagem qualitativa e quantitativa, de amplo espectro investigativo. Esta comunicação trata apenas do tema da infertilidade, com base em entrevistas narrativas realizadas entre 2022 e 2023, via chamada telefônica, com mulheres residentes em diferentes regiões do Brasil. A primeira etapa da pesquisa consistiu na circulação de questionário online, de abrangência nacional, respondido por 8.313 mulheres de 18 anos ou mais. Dessas, 3.859 concordaram em deixar contato para serem entrevistadas posteriormente de forma remota. Ao selecionar as participantes que assinalaram questões referentes à infertilidade, verificamos um total de 242 mulheres, das quais 116 aceitaram participar da etapa qualitativa. Esta comunicação abordará 20 entrevistas, analisadas a partir da análise temática.

Resultados e discussão
As mulheres entrevistadas compartilharam suas experiências que envolviam desejos e tentativas de engravidamento no período da pandemia. Receios e incertezas foram temas correntes, responsáveis, inclusive, pelo adiamento dos planos reprodutivos de algumas das participantes. Outras mantiveram os tratamentos, avaliando que a “pausa” sem retorno previsto poderia inviabilizar a possibilidade da gestação, com o avançar da idade. Tendo em vista a suspensão de alguns serviços de saúde, muitas sequer tiveram chance de escolha, sobretudo as usuárias do SUS, o que aponta para iniquidades que envolvem o tema. Outras preocupações apareceram nas entrevistas, como, por exemplo, o desemprego e/ou redução dos ganhos ocasionados pela crise sanitária e a consequente dificuldade financeira para custear tratamentos excessivamente dispendiosos. Além disso, um fato curioso, atribuído à pandemia, afetou diretamente as tentativas de engravidamento: a alteração do ciclo menstrual, referida por muitas participantes.

Conclusões/Considerações finais
As experiências compartilhadas pelas participantes demonstram a diversidade de vivências, desafios, estratégias e sentimentos que constituem o processo das tentativas de engravidamento no contexto da infertilidade. A pandemia potencializou as dificuldades, mas não representou uma barreira absoluta para todas as pessoas - seus efeitos variaram segundo os marcadores sociais da diferença. Na perspectiva da justiça reprodutiva, isto suscita reflexões sobre a garantia de direitos no campo da reprodução para todes que desejam gestar.