Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.4 - Interseccionalidade e atenção à saúde

46973 - FALTA DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE POR MULHERES NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19: INTERSECCIONANDO RAÇA E CLASSE ECONÔMICA
JOSSIANE TEIXEIRA DE OLIVEIRA - UFES, ANA PAULA SANTANA C. ALMEIDA - UFES, CAROLINA DUTRA D. ESPOSTI - UFES


Apresentação/Introdução
Há farta literatura mostrando a necessidade de fortalecimento de um sistema de serviço de saúde acessível, equitativo, integral, resolutivo, em especial, a partir da pandemia de COVID-19, que pressionou os sistemas de saúde em todo o mundo, como nunca visto. Apesar de todos os cidadãos serem iguais perante a lei e merecem receber as mesmas condições de acesso e de cuidados em saúde, independentemente da raça, gênero, religião ou condição social, são notáveis as barreiras de acesso aos serviços de saúde pela população negra, especialmente mulheres pretas e pardas. Nesse contexto, discutir sobre interseccionalidade torna-se importante, uma vez que essa é compreendida como uma teoria que analisa de que forma as categorias sociais e culturais se entrelaçam e as relações de diferentes categorias são examinadas em vários níveis, com o intuito de explicar as diversas desigualdades que existem na sociedade.

Objetivos
Analisar a prevalência de falta de acesso à consulta médica por mulheres, segundo raça/cor e classe econômica.

Metodologia
Estudo do tipo transversal de base populacional, a partir de entrevistas domiciliares com mulheres acima de 18 anos residentes no município de Vitória, Espírito Santo. O estudo tem como varável dependente a falta de acesso à consulta médica e como varáveis independentes a idade, a renda, a classe socioeconômica, a escolaridade, a posse de plano de saúde e o índice de Jeopard. Sua análise se baseia no risco múltiplo, ou seja, vários fatores da identidade de uma pessoa que levam à opressão, como classe ou raça, esses podem ter efeito cumulativo na discriminação que uma pessoa experimenta. Foram calculadas as prevalências e razão de prevalência da falta de acesso, segundo variáveis independentes. A análise dos dados deu-se por meio do programa Stata 13. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa (processo n°163/2021) e as participantes assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e discussão
De um total de 1.107 mulheres, 64,4% delas perceberam que precisavam ser atendidas por um médico generalista. Dessas 91,9% procuraram pelo atendimento e 6,6% delas apresentaram falta de acesso aos serviços de saúde. A maior prevalência de falta de acesso ocorreu entre mulheres adultas (9,8% (6,7 – 14,3)), não brancas (8,1% (5,8 – 11,3)), pertencentes à classe D (10% (4,2 – 22,0)), de nível mais baixo de renda (10,6% (4,2 – 22,0)) e sem plano de saúde (12,7% (9,3 - 16,9)). O menor quartil de renda per capita (menor renda) aumentou em 8 vezes o risco de ter falta de acesso aos serviços de saúde, comparada ao maior quartil (maior renda). Mulheres com a formação escolar primária tiveram 2,9 mais risco de ter a falta de acesso, comparada a mulheres com ensino superior ou mais. A análise segundo o Jeopard index mostrou que o risco de falta de acesso aos serviços de saúde é aumentado quando aumenta o somatório de posições de intersecção de identidades sociais de opressão.

Conclusões/Considerações finais
Conclui-se que a intersecção raça e classe econômica de mulheres impactou em sua falta de acesso aos serviços de saúde durante a pandemia de COVID-19. Esse é um problema que precisa ser abordado quando da formulação de políticas, da organização dos serviços de saúde e da formação de profissionais de saúde, para que caminhos sejam pensados e implementados, visando a construção de uma saúde mais igualitária, para todos.