03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC16.4 - Interseccionalidade e atenção à saúde |
48257 - SAÚDE MENTAL DE HOMENS NEGROS QUILOMBOLAS: UMA ANÁLISE INTERSECCIONAL MARCOS VENICIUS GOMES DE SÁ - UFRB, JEANE SASKYA CAMPOS TAVARES - UFRB
Apresentação/Introdução Apesar dos avanços alcançados através da luta social e política, os(as) negros(as) ainda ocupam majoritariamente os espaços marginalizados, nos quais o acesso a direitos garantidos por lei não se concretiza ou não são suficientes para sanar as desigualdades demográficas, sociais e econômicas produzidas pelo racismo.
A despeito de sua importância histórica e política, há escassez de estudos sobre as repercussões do racismo na saúde mental dos povos quilombolas, isto é particularmente relevante, pois o sofrimento contínuo por discriminação pode ser acentuado nas comunidades tradicionais quilombolas, uma vez que as mesmas possuem especificidades, crenças e saberes que requerem modos e políticas singulares para dar conta das desigualdades raciais e de gênero, bem como as desigualdades em saúde.
Em relação à saúde mental, diante da escassez de publicações, podemos considerar que esta é uma dimensão da saúde negligenciada por pesquisadores. Os poucos estudos encontrados destacam a desassistência, precarização do acesso e ou qualidade dos serviços. Posto isso, o racismo como problema social, ferramenta para o exercício de poder e opressão, parte importante na construção de subjetividades, torna-se agente imprescindível a ser analisado buscando identificar suas consequências na saúde mental dos indivíduos que dele são vítimas.
Assim sendo, a interseccionalidade configura-se uma importante ferramenta metodológica e amplia também as possibilidades analíticas, proporcionando uma maior e mais robusta compreensão do que se propõe analisar nesse estudo.
Objetivos O estudo analisou a produção de sofrimento psíquico produzidos pelo racismo e sexismo, bem como as formas de superação dessas opressões desenvolvidas por homens negros quilombolas de uma comunidade rural do interior do estado da Bahia.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa com metodologia qualitativa com abordagem exploratória. A mesma está em conformidade com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, submetida à apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, obtendo parecer favorável. Os participantes tiveram sua inclusão efetivada após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os participantes foram 06 homens e 4 mulheres maiores de 18 anos de idade, quilombolas, autodeclarados negros (pretos e pardos) conforme classificação do IBGE, escolhidos(as) por conveniência pelo autor, dada sua pertença à comunidade, as(os) convidadas(os) são pessoas que moram e residem em um quilombo, de Senhor do Bonfim – BA. Para esse momento do estudo e análise, considerou somente 5 entrevistas de 5 homens quilombolas.
Resultados e discussão Dos dados emergiram 04 (quatro) categorias temáticas: construção social da masculinidade quilombola; discriminação racial; o homem quilombola e o trabalho; estratégias para lidar com o sofrimento psíquico e de enfrentamento ao racismo.
Construção social da masculinidade
Nessa categoria foram identificadas as seguintes subcategorias: educação familiar sobre ser homem e tarefas domésticas. A construção social da masculinidade que se dá no âmbito das relações interpessoais perpassa o âmbito familiar com significativa relevância na vida dos sujeitos, muito provavelmente por ser nesse espaço que se dão os primeiros contatos.
Discriminação e sofrimento psíquico
Ações de (des)tratamento e ou tratamentos diferentes, justificados pela cor da pele ou lugar de origem foram formas de discriminação racial verificadas no estudo.
O homem quilombola e o trabalho
Nessa categoria foi verificada que de modo geral todos os homens negros iniciaram suas atividades laborais antes dos 18 anos, alguns quando ainda criança. Essa iniciação se justificou pela necessidade em ajudar os pais na manutenção do lar, bem como para ter uma renda própria.
Estratégias para lidar com o sofrimento psíquico e de enfrentamento ao racismo
A distração foi um modo bastante pontuado pelos participantes. Elas variaram na sua forma, alguns utilizaram a música a fim de espairecer, filmes/séries, outros a contemplação da natureza, a pesca e atividades esportivas como ciclismo e futebol.
Conclusões/Considerações finais A relação entre racismo, classe e gênero e suas implicações na saúde mental dos homens negros, constitui-se uma relação conflituosa em que os sistemas de opressões, isto é, racismo, sexismo e classe social coadunam para uma maior exposição ao sofrimento psíquico desses sujeitos. De outro modo, observou-se que os homens quilombolas ao longo de suas vivências produziram modos sofisticados de sobreviver e enfrentar as situações de sofrimento psíquico, bem como, de enfrentamento ao racismo que contribuíram para sua sobrevivência e possibilitaram modos de vida menos adoecedores.
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