Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.5 - Corpos e cuidados: percepções e experiências

45210 - INTERSECÇÃO RAÇA, GÊNERO E CLASSE NO AUTOCUIDADO EM SAÚDE REPRODUTIVA POR MULHERES DE BAIRRO DA ZONA NOROESTE/SANTOS
TAÍS COSTA BENTO - DOCENTE UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS; DOUTORANDA UNIFESP, SILVIA REGINA VIODRES INOUE - PROCESSOS MIGRATÓRIOS INTERNACIONAIS E SAÚDE COLETIVA (PROMIGRAS) -UNIFESP


Apresentação/Introdução
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (2004), Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (2009) e o caderno sobre Saúde Reprodutiva e Sexual na Atenção Básica (2010) trazem em comum a necessidade de encarar as demandas em saúde a partir de um viés interseccional a fim de promover maior equidade em saúde às mulheres negras. Para abordar uma temática complexa tal como Autocuidado em Saúde Reprodutiva faz-se necessário considerar diferentes vivências baseadas em gênero, raça e classe. O conceito de Interseccionalidade analisa como as dinâmicas estruturais de interação entre diferentes eixos de subordinação são promotoras de diferentes expressões de desigualdade, assim, ser mulher negra em situação de vulnerabilidade social expressa-se de forma especifica quanto ao acesso à informação, atendimento e à qualidade do serviço em Saúde.

Objetivos
Identificar as concepções de mulheres negras em vulnerabilidade socioeconômica de um bairro da região da Zona Noroeste/Santos sobre autocuidado em saúde reprodutiva partindo-se do recorte raça, gênero e classe.

Metodologia
Pesquisa qualitativa com entrevistas semiestruturadas com 19 mulheres autodeclarada negras (pretas e pardas) acima dos 18 anos de idade. A saturação de dados delimitou o número de participantes, e os resultados coletados foram analisados a partir do método de análise de conteúdo sistematizada por Bardin.

Resultados e discussão
As concepções de autocuidado em Saúde Reprodutiva remeteram à necessidade de cuidado em caráter preventivo, através da manutenção de hábitos saudáveis e uso de chás/banhos com folhas naturais – saberes muitas vezes advindos de religiões de matriz africanas, reconhecidos como práticas integrativas de cuidado pelo SUS. Tal autocuidado não limita-se ao aspecto biomédico, remetendo ao Cuidado de Si cunhado por Foucault (2006). O uso de chás/banhos também apareceu como alternativa ao uso de fármacos, com ensinamentos passados de geração em geração entre as mulheres da família. As mulheres se colocaram como protagonistas na manutenção do próprio autocuidado principalmente na realização de hábitos de saudáveis (exercícios e alimentação saudável), entretanto, ainda delegam ao médico a manutenção do (auto)cuidado. Tais concepções de autocuidado também foram analisadas em “saúde reprodutiva” e percepções sobre se/como a raça pode influenciar. Apesar das mulheres possuírem uma visão de saúde que permeia a prevenção e questões sociais (violência contra a mulher, por exemplo), a concepção de Saúde Reprodutiva limitou-se ao aspecto reprodutivo associado ao planejamento familiar, bem como os recortes de raça raramente foram pontuados como promotores de desigualdades em relação à saúde reprodutiva. Apesar das associações ao racismo institucional, expressado em como as mulheres negras são recebidas e tratadas no ambiente hospitalar de forma desigual e problemas de saúde mais recorrentes em mulheres negras, a maioria nega alguma influência/determinação da raça na saúde reprodutiva e baseiam-se em suas experiências pessoais para tal conclusão. A compreensão acerca de Saúde Reprodutiva direcionada à gestação pode apontar à academização das informações e estudos sobre o tema e ao ideário racista atuante nas relações raciais brasileiras, muitas vezes apropriado pela própria população negra, que torna borrada a associação entre ser negra e estar em situação de vulnerabilidade socioeconômica, bem como ser mulher e negra resultando em iniquidades de saúde.

Conclusões/Considerações finais
A pesquisa mostrou a importância de maior promoção de informação acerca de como a raça e outras intersecções permeiam as relações de saúde/doença, prevenção, acesso e cuidado em saúde. O autocuidado surge nas ações individuais das mulheres para promoção de saúde e bem-estar, mas também se observou a importância do modelo de cuidado médico como essencial. Referências: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 1. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 300 p. BRASIL. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - Seppir. Ministério da Saúde Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Brasília: N, 2007. 60 p. FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Curso dado no Collège de France, 1981-1982. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2004b, 82 p.