Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC16.5 - Corpos e cuidados: percepções e experiências

46050 - A INFLUÊNCIA DA ESTÉTICA E DO CULTO AO CORPO NA AUTOESTIMA DE ESTUDANTES MULHERES DE UM CURSO DE GRADUAÇÃO DE MEDICINA: UM ESTUDO QUALITATIVO
LAURA MARQUES LUSTOSA - FPS, ANA MARIA LIMA E SILVA - FPS, MARIA JÚLIA BISPO JUSTINO - FPS, JULIANA DE FARIAS PESSOA GUERRA - FPS, MARIANA MACIEL NEPOMUCENO - FPS


Apresentação/Introdução
O culto ao corpo é uma expressão com enfoque na adequação da forma corporal ao padrão de beleza estabelecido, sendo uma construção social conforme aspectos culturais, biológicos e temporais. Na contemporaneidade, o corpo tem se moldado como um dos principais espaços simbólicos na construção dos modos de subjetividade. Diante do conceito da biomedicina, e suas intervenções médicas, o corpo se transformou em investimento para mantê-lo sob controle e disciplina, seja em nome da saúde, da beleza ou da juventude (Foucault, 2007; Butler, 2010). A partir das teorias de gênero, segundo as quais problematizam a condição do corpo da mulher como objeto de discursos e práticas de opressão, o culto ao corpo apresenta-se como instrumento de adequação a valores idealizados. Após a realização de entrevistas em profundidade com estudantes de medicina em Recife, foi possível compreender o processo de subjetivação desse grupo social acerca da formação da autoestima quanto à influência da estética. Percebemos que a grande questão que se impõe entre as entrevistadas reside na propagação de um padrão ideal inatingível, na culpabilização da jovem por não atingir este ideal, levando ao sofrimento e à falta de pertencimento ao grupo, agravado pela superexposição às redes sociais.

Objetivos
Compreender a percepção de estudantes mulheres da graduação de medicina da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) a respeito do impacto das representações sociais de estética e de culto ao corpo na formação de sua autoestima.


Metodologia
Estudo qualitativo de base fenomenológica, seguindo a abordagem hermenêutica e uso de entrevistas em profundidade, realizado com 15 estudantes do sexo feminino, de 20 a 38 anos, do curso de Medicina da FPS entre os dias 26/10/2022 e 07/11/2022. A análise de conteúdo (Bardin, 2010), por meio das narrativas das entrevistadas, foi realizada através das categorias: Autoimagem, Autocuidado, Aparência, Padrão de beleza, Relação com as Redes Sociais e Autoestima.

Resultados e discussão
Muitas mulheres sentem vergonha de admitir a relevância da aparência física em suas vidas (Wolf, 2018). Comprovamos isso por meio da fala das estudantes que sofrem com a pressão estética por se sentirem inadequadas. Para a medicina hegemônica e a indústria da beleza, o corpo da mulher deve ser moldado. Ou seja, para atingir a propagada “boa forma”, foi criado esse corpo distintivo, manipulado e domesticado (Goldenberg, 2015; Foucault, 2007; Le Breton, 2012). Multiplicam-se os casos das chamadas “doenças da beleza” entre as mulheres, dos distúrbios alimentares e das cirurgias plásticas, numa tentativa de se livrarem da indignidade corporal. A maior insatisfação das entrevistadas está relacionada ao peso. A maioria já realizou ou demonstrou desejo para fazer implante de silicone, mentoplastia (estética reparadora), cirurgia de redução de mama, preenchimento labial, rinoplastia, lipoaspiração, etc. A supervalorização da construção corporal, seja por musculação, cirurgias estéticas ou dietas, ganhou um espaço privilegiado no ocidente. Essa premissa foi verificada nas falas, que destacaram a musculação como forma de autocuidado e associaram o padrão de beleza atual à cultura “fitness”. Na sociedade capitalista, a autoimagem assume protagonismo associado ao consumo e à satisfação. A imagem corporal está ligada à formação da autoestima, por meio da interação com o outro nas relações afetivas. Essa dinâmica pode se tornar danosa quando as jovens passam a se volatizar nas imagens, sobretudo em redes sociais, em busca de aceitação.

Conclusões/Considerações finais
Os cuidados com a aparência e com o corpo são essenciais não apenas no tocante à saúde, mas também ao bem-estar. Detectou-se, nos depoimentos, que o problema reside na propagação de um ideal inatingível e na culpabilização das entrevistadas por não atingir este ideal. O discurso hegemônico da medicina, em defesa do modelo do corpo biomédico, revela uma faceta excludente de um grande contingente de pessoas, sobretudo jovens, que não conseguem atingir tal padrão. Essa “incapacidade” leva ao sofrimento e à falta de pertencimento, agravado pela superexposição às redes sociais, como visto nos depoimentos, pois a vida postada não corresponde à realidade. O almejado padrão tem gerado baixa autoestima, insatisfação e frustração nas jovens estudantes de medicina. E isso faz com que elas sintam uma forte solidão em sua angústia na busca incessante de identidade e pertencimento a um grupo social, que esteja em consonância aos padrões ideais de beleza vigente.