03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC16.5 - Corpos e cuidados: percepções e experiências |
46256 - SOFRIMENTO MENTAL E GÊNERO: OS HOMENS E O CUIDADO NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL FERNANDO PESSOA DE ALBUQUERQUE - MINISTÉRIO DA SAÚDE
Apresentação/Introdução Esta pesquisa investigou as relações entre Homens e Saúde Mental, a partir da perspectiva de Gênero e dos Estudos sobre Masculinidades, analisando as expressões do sofrimento mental por homens usuários de serviços de atenção de psicossocial
Objetivos Analisar as relações entre homens, masculinidades e sofrimento mental no contexto da rede de atenção psicossocial.
Metodologia Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa em dois CAPS de Brasília-DF, com base em observações participantes em atividades de rotina dos serviços, entre 2017 e 2019, e 16 entrevistas semiestruturadas com usuários homens, selecionados durante as atividades observadas. Os dados foram categorizados em 4 eixos: exercício das masculinidades e sofrimentos mentais; o cuidado ofertado aos homens na Rede de Atenção Psicossocial; Uso de álcool e masculinidades, comportamentos violentos, saúde mental e masculinidades.
Resultados e discussão Os homens entrevistados são majoritariamente negros, pobres, desempregados, migrantes, com baixa escolaridade, que vivenciam uma sobreposição de fatores de vulnerabilidade agravada pela vivência de transtornos mentais ou do uso prejudicial de substâncias psicoativas. Os achados revelaram que as expectativas não realizadas sobre o que deve ser um “homem de verdade” interferem negativamente nas condições de saúde mental, levando os entrevistados a sentirem-se alijados da condição de homem, especialmente, por não trabalharem e não proverem a família. É possível asseverar que em um mundo marcado pelo domínio do capital, o valor de um homem é confundido pelo seu poder de compra e a falta de emprego estável é um abalo à identidade masculina, levando os entrevistados a assumirem comportamentos de risco para compensarem o distanciamento da Masculinidade Hegemônica, como o uso abusivo de álcool. Destaca-se que as opressões por classe e raça se interseccionam com os sofrimentos mentais de masculinidades subalternas, estigmatizadas pela “doença mental” e pelo uso abusivo de álcool. A expressão de emoções e sofrimentos representa um afastamento de um modelo idealizado do que é ser homem, relacionado ao sentimento de invulnerabilidade. Por isso, emocionar-se é interpretado, pelos usuários dos CAPS, como coisa de “fresco”, “fraco” ou um “fracasso”, o que dificulta o acesso e a adesão dos homens a cuidados em saúde mental. Observou-se que esse silenciamento das emoções opera por meio de mecanismos de defesa relacionados à negação, fuga, projeção e pela “passagem ao ato”, especialmente pela expressão da raiva, emoção legitimada pela Masculinidade Hegemônica. Observou-se ainda a importante função psicodinâmica das bebidas alcoólicas no psiquismo dos homens e suas relações com a construção sociocultural das masculinidades, identificando-se o uso da “cachaça” como refúgio ou meio de obter coragem para expressar emoções ou comportamentos para restabelecer posições de poder nas relações, por meio de atos violentos, principalmente, contra as mulheres.
Conclusões/Considerações finais Nos CAPS, foi possível identificar práticas de promoção à saúde mental masculina adequadas aos homens, como os Grupo terapêuticos de Homens, que permitem a problematização de padrões hegemônicos do que é “ser homem” e representam uma possibilidade de inclusão da perspectiva de gênero nos serviços de saúde mental. Avalia-se que os CAPS, ao reconhecerem questões de gênero envolvidas na experiência do sofrimento psíquico, podem contribuir para a desconstrução da imagem idealizada da masculinidade hegemônica, possibilitando a expressão das emoções e de novos modos de ser homem. Constata-se também que a perspectiva interseccional colabora na compreensão multidimensional das consequências da vivência de transtornos mentais sobre o exercício da masculinidade, levando-se em consideração também os marcadores sociais de raça e classe.
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