03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC16.5 - Corpos e cuidados: percepções e experiências |
47615 - NARRATIVAS DE MULHERES COM CÂNCER DO COLO DO ÚTERO ISABEL MARCO HUESCA - INCA, ÉLIDA AZEVEDO HENNINGTON - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução O câncer do colo do útero faz parte do grupo de doenças crônicas não transmissíveis, que podem ser caracterizadas pela longa duração e a necessidade de tratamento contínuo. Ao promover ruptura no cotidiano das mulheres pela necessidade de tratamento e acompanhamento, em geral, por um longo período, a doença ocupa o centro de todas as relações sociais e suas repercussões se fazem sentir em todos os aspectos da vida. Nesse sentido, o trabalho entendido como parte constitutiva da identidade social da mulher, sofre profundas transformações devido ao adoecimento.
Objetivos Este estudo teve como objetivo compreender como o adoecimento por câncer do colo do útero (CCU), um evento disruptivo, repercutiu no processo saúde-doença-trabalho das mulheres em tratamento no Hospital do Câncer II (HCII), a partir da perspectiva interseccional.
Metodologia A pesquisa foi elaborada em duas etapas principais: primeiro, foi estabelecido o perfil epidemiológico descritivo das usuárias matriculadas com câncer do colo do útero (CCU) no HCII, nos anos de 2019 a 2021, a partir de variáveis demográficas, socioeconômicas, ocupacionais e clínicas. Foram levantados dados de 1182 usuárias matriculadas no hospital com CCU.Em seguida, foram realizadas treze entrevistas narrativas com usuárias do hospital, com foco no trabalho e suas trajetórias a partir do adoecimento. Para categorização e análise dos dados qualitativos, utilizou-se a análise narrativa que permite a inteligibilidade da vida social a partir de formas discursivas que expressam os modos como as pessoas organizam suas experiências e eventos significativos da vida, numa construção contínua de suas identidades e de sentidos sobre si mesmas.
Resultados e discussão Foram levantados dados de 1182 usuárias matriculadas no hospital com CCU. Esse grupo foi composto prioritariamente por mulheres na faixa etária de 35 a 54 anos, negras, com baixa escolaridade, inseridas em ocupações tipicamente femininas, caracterizadas pela precarização e baixa remuneração, que chegaram à unidade de tratamento especializada com a doença em estadiamento avançado.A análise das narrativas mostrou que as relações sociais de gênero, raça/cor e classe foram determinantes na vida das mulheres, tanto no que se refere ao mundo do trabalho quanto às condições de saúde. Foram destacadas as dificuldades encontradas para acesso ao diagnóstico e tratamento precoce e, a centralidade que o trabalho assume na vida dessas mulheres. O CCU repercutiu nas histórias de vida e de trabalho das entrevistadas, pois todas estavam em idade produtiva e, após o adoecimento, tiveram que se afastar de suas atividades laborais e reorganizar seu cotidiano. As mulheres, além de se responsabilizarem pelo trabalho de reprodução social, estão cada vez mais inseridas no mercado de trabalho, em geral, em situação de precarização e vulnerabilidade, e necessitaram conciliar seus diversos papéis no contexto de adoecimento crônico.
Conclusões/Considerações finais Apesar das medidas de prevenção como a vacinação contra o HPV e da possibilidade de cura na quase totalidade dos casos, se for detectado precocemente por meio de exame de rastreamento, o CCU continua atingindo um grande contingente de mulheres brasileiras, principalmente mulheres negras, de baixa escolaridade e renda e em situação de precarização e vulnerabilidade ocupacional, trazendo prejuízos emocionais, físicos e psicossociais às mulheres na diversidade de seus papéis sociais, como mulher e como trabalhadora.
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