Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC17.2 - Saúde de crianças e adolescentes - desafios para a assistência e potencialidades do cuidado participativo

47123 - A NATUREZA E A AUTOLESÃO NA ADOLESCÊNCIA: EXPERIÊNCIAS E FOTOGRAFIAS DE ADOLESCENTES COM HISTÓRICO DE AUTOLESÃO
LUIZA CESAR RIANI COSTA - UFSCAR, ANA PAULA DE MIRANDA ARAÚJO SOARES - UFSCAR, ISABELA MARTINS GABRIEL - UFSCAR, LETÍCIA GIÁCOMO - UFSCAR, TALIANE MACHADO DE OLIVEIRA LEAL - UFSCAR, CAROLINE IZABELA SILVA - UFSCAR, JANIELY SENNE - UFSCAR, DIENE MONIQUE CARLOS - UFSCAR


Apresentação/Introdução
A autolesão na adolescência tem sido uma temática amplamente discutida na mídia, nas plataformas digitais, na literatura científica e não científica, na saúde, na educação e também nas políticas públicas. Ao longo da última década, foi estudada em múltiplos contextos, alguns exemplos sendo contexto escolar, comunitário, de atenção básica ou primária, hospitalar, de serviços de internação e contextos virtuais como blogs e grupos de facebook.  O assunto também vem sendo debatido por múltiplos referenciais/abordagens, e perspectivas. Existem estudos que pensam sobre a autolesão na adolescência, e estudos que ouvem adolescentes que se autolesionam, mas faltam pesquisas que as coloquem na promoção de saúde, que valorizem seus conhecimentos e experiências sobre o que as faz sobreviver em meio a histórias de sofrimento. Quando falamos em promoção de saúde na adolescência, o contato com a natureza tem sido apontado como um importante elemento. Uma revisão de escopo mapeou evidências que avaliavam associações entre o tempo de tela, o tempo de exposição à natureza e desfechos psicoemocionais para crianças e adolescentes. Os autores trouxeram que, no geral, elevado nível de tempo de tela esteve associado com desfechos desfavoráveis, enquanto exposição à natureza a favoráveis. Os autores ainda chamam a atenção da subutilização de espaço públicos verdes, que podem funcionar como recursos para promoção à saúde, em tempos de era tecnológica, em especial junto aos jovens (OSWALD et al.,2020).

Objetivos
Compreender as relações entre o contato com a natureza e a promoção de saúde mental na perspectiva de adolescentes com histórico de autolesão.

Metodologia
Pesquisa de abordagem qualitativa, com referencial teórico da teoria psicanalítica de Winnicott. Entendemos que o pensamento de Winnicott e seus desdobramentos contemporâneos contribuem para o campo de estudo sobre autolesão, ao expor as ambiguidades e propor sentidos alternativos. As participantes foram 9 adolescentes com histórico de autolesão, com idades entre 12 e 17 anos. A coleta de dados foi realizada entre os meses de março de julho de 2021 por meio do Photovoice e de entrevistas semiestruturadas. As adolescentes responderam à pergunta “O que alivia a sua dor?” por meio de fotografias. Este trabalho é um recorte de uma dissertação de mestrado e selecionamos, para este trabalho, os dados que se referiam ao contato com a natureza, e estes foram analisados mediante a análise temática reflexiva, proposta por Braun e Clarke. O estudo seguiu as recomendações das Resoluções nº 466/2012 e 510/2016 sobre pesquisa envolvendo seres humanos, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos em 19 de dezembro de 2020 (CAAE 37968120.9.0000.5504).

Resultados e discussão
Durante as entrevistas ouvimos múltiplas histórias sobre o valor de estar em contato com a natureza, mostrando o papel de elementos como ar, terra, folha, céu, Lua e Sol na busca por saúde, sentido e pertencimento. As fotos e histórias trazem elementos de estética, conexão, contemplação e espiritualidade, iluminando o valor da conservação destes espaços. Após a análise, apresentamos os dados em dois principais temas: natureza como introspecção, e natureza como pertencimento. Alice e Sarah apontam para o potencial reflexivo e introspectivo da contemplação da natureza, possibilitando, ao mesmo tempo, estar só e estar em relação. É um momento de conexão consigo, com o todo e com a espiritualidade. O componente de espiritualidade traz sentido, propósito e alívio. Outro ângulo foi trazido por Esmeralda (12 anos), que encontrou, em elementos da natureza, uma possibilidade de presença e relação. Mesmo quando estava sozinha, encontrou conexão e companhia. Lua (15 anos) (destaca-se aqui que a própria escolha deste pseudônimo pela adolescente é significativo) retrata a contemplação da natureza como possibilidade de ser transportada para outros espaços. As adolescentes apontaram a conexão com a natureza como elemento sustentador e promotor de saúde às adolescentes. Tal aspecto nos leva a entender que pensar as questões estruturais e contextuais deve incluir também a preservação ambiental. A literatura tem corroborado tais achados.

Conclusões/Considerações finais
Este estudo traz contribuições que permitem avançar no conhecimento interprofissional em saúde, com pautas relevantes à agenda de saúde das adolescências. No âmbito da pesquisa, o estudo traz técnica de coleta de dados que permitiu acessar as vozes de um grupo marginalizado e em sofrimento, por vias genuínas e seguras. Permitiu um pesquisar ético, respeitoso e terapêutico.