46159 - "EU VI NO ZAP": PROMOÇÃO À SAÚDE E DIVULGAÇÃO DE (DES)INFORMAÇÕES NO WHATSAPP DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19 LIANA SANTOS DE CARVALHO - UERJ
Apresentação/Introdução Tendo em vista as características descentralizadoras das mídias sociais, quase todos os que têm acesso e habilidade podem ser, simultaneamente, criadores, difusores e consumidores de informação (MORAES, 2007). Especificamente quanto ao WhatsApp, Felipe Bonow Soares et al. (2021) pontuam que, considerando seu potencial informacional, que se expressa devido a sua popularização, muitas pessoas com objetivos e interesses específicos utilizaram o aplicativo como meio de espalhar informações sobre a pandemia da covid-19.
Nesta pesquisa, investigo a instrumentalização do WhatsApp na circulação de informações sobre a pandemia, procurando entender de que forma as informações sobre saúde disponíveis na internet, podem contribuir para a participação dos sujeitos na produção e prática das ações de Promoção à Saúde, sem deixar de averiguar seus potenciais riscos. Nesse sentido, realizo um estudo de caso do projeto Jovens Comunicadores, que durante a pandemia atuou capilarizando da internet e compartilhando no WhatsApp informações confiáveis sobre a covid-19 , e exploro de que modo as mídias sociais permitem a descentralização da comunicação e proporcionam a criação de informações por diferentes grupos sociais.
Objetivos Compreender o papel do WhatsApp, enquanto aplicativo de comunicação, na circulação de informação sobre a covid-19 durante a pandemia, com foco na forma de atuação do projeto Jovens comunicadores e sua contribuição para a participação dos sujeitos na produção e prática das ações de Promoção à Saúde durante a pandemia; Investigar de que maneira o aplicativo WhatsApp foi moldado de acordo com grupos sociais/políticos para divulgação de conteúdos durante a pandemia.
Metodologia A pesquisa tem caráter qualitativo e se baseou na realização de entrevistas semiestruturadas com integrantes do projeto Jovens Comunicadores e análise de relatórios referentes a circulação de informações durante a pandemia. Os resultados da pesquisa foram analisados à luz da Antropologia Digital e literatura sobre promoção da saúde.
Resultados e discussão Com a pandemia, o WhatsApp foi a plataforma digital que mais cresceu, sobretudo em países mais impactados pela crise decorrente da covid-19. Na primeira fase da pandemia, o uso do WhatsApp teve um crescimento mundial de 40%, crescimento acompanhado pela propagação desenfreada da desinformação e do negacionismo envoltos em teorias da conspiração impulsionadas “[...] pelo discurso político e pela falta de alinhamento entre as autoridades” (RECUERO; SOARES, 2020 apud SOARES et al., 2021, p. 77), que orientou, de certa forma, a escolha e a opinião de milhares de brasileiros sobre as recomendações e medidas para evitar a proliferação do vírus no Brasil, em um momento tão trágico para o mundo.
O projeto Jovens comunicadores, com apoio da Missão em Foco FIOCRUZ, surge nesse contexto, visando instrumentalizar o WhatsApp como um meio de difundir informações verídicas, em confronto com as informações falsas que circulavam pelo aplicativo. O projeto
que, entre os meses de julho e novembro de 2020, alcançou 500 jovens das periferias da região metropolitana do Rio de Janeiro, ofertou oficinais sobre produção de conteúdo para mídias sociais. O objetivo das oficinas era auxiliar os jovens na identificação e checagem de notícias falsas que circularam na internet na fase inicial da pandemia para que eles pudessem reunir informações confiáveis sobre a covid-19, produzir conteúdo e compartilhar com seus contatos por meio de listas de transmissão do WhatsApp.
Nessa direção, como destaca Denis de Moraes (2007), a mídias sociais se transformam em um espaço de lutas e conflitos por disputas ideológicas e podem se configurar como importante meio de questionamento da ordem vigente e de ativismo social, possibilitando que diferentes grupos produzam e compartilhem informações num sentido contra-hegemônico. Com a realização das oficinas, o projeto cumpre alguns princípios fundamentais da Promoção à Saúde que são: a educação em saúde, o desenvolvimento de habilidades pessoais e o reforço a ação comunitária. Dessa forma, ao passar pelo processo de capacitação formativo e compartilhar com os seus pares, a saúde começa ser construída de forma conjunto com a comunidade.
Conclusões/Considerações finais Observo que o aplicativo do WhatsApp se tornou um campo de disputas informacionais, e a apropriação do aplicativo pelo projeto Jovens Comunicadores permitiu a construção de outras narrativas para além das que estavam sendo propagadas. Nessa direção, acredito que o WhatsApp nos ofereça elementos que nos ajudam a compreender como a tecnologia digital participa da vida social e a configura, atuando tanto para a manutenção das normatividades sociais existentes quanto na proposição de agências cotidianas e formas de resistência. Assim, frente ao período tenebroso que assombrou o Brasil nos últimos quatro anos, tornou-se emergente as ações realizadas pela população e para a população a fim de salvaguardar a vida dos que foram lançados a sua própria sorte.
|