47293 - O NEGACIONISMO CIENTÍFICO COMO ESTRATÉGIA DE DESINFORMAÇÃO E AS REPERCUSSÕES NAS RESIDÊNCIAS EM SAÚDE EM UMA UNIVERSIDADE DO INTERIOR DE SÃO PAULO RICARDO MASSUDA OYAMA - UNESP, WILLIAN FERNANDES LUNA - UFSCAR, ELIANA GOLDFARB CYRINO - UNESP
Apresentação/Introdução A pandemia de Covid-19 desencadeou fenômenos como a desinformação e a infodemia, dificultando o trabalho de profissionais e serviços de saúde, tornando o enfrentamento ainda mais complexo. Os residentes em saúde também sofreram esses impactos neste período, trazendo consequências para sua formação.
Discursos negacionistas dos governantes por meio da divulgação de notícias falsas e do descaso com a vida e a saúde pública provocou reações de distanciamento dos meios de comunicação, como redes sociais e telejornais, como estratégia para suportar a angústia pelas mortes e o negacionismo.
Objetivos O objetivo deste estudo foi compreender as repercussões na formação de residentes em saúde, de Programas de Residência Médica e Multiprofissional, em uma universidade do interior de São Paulo, devido ao fenômeno da desinformação e infodemia, durante período de pandemia da Covid-19.
Metodologia Estudo de investigação qualitativa com uso de entrevista semiestruturada e foco nas narrativas dos residentes, no qual usou-se um roteiro de perguntas e videochamada com gravação para auxiliar na transcrição. Todas as entrevistas foram realizadas pelo pesquisador principal, totalizando aproximadamente 14 horas. O recrutamento foi realizado através da indicação por conveniência e técnica da bola de neve e saturação, participando residentes em saúde de Residência Médica e Multiprofissionais, matriculados no primeiro, segundo e terceiro ano, totalizando 14 entrevistas, sendo Medicina de Família e Comunidade, Pediatria, Saúde da Família, Saúde do Adulto e Idoso e Saúde Mental. O conteúdo foi submetido a uma análise qualitativa mediante a Técnica de Análise de Conteúdo temática.
O estudo foi aprovado pelo Comite de Ética em Pesquisa da Instituição. Os resultados apresentados representam uma categoria nomeada “Abandono, desinformações e infodemia”, que faz parte de um estudo de mestrado do primeiro autor.
Resultados e discussão Declarações do ex-presidente com desinformações contribuíram para confundir a população acerca da transmissão da doença. Fontes oficiais de informação, como o Ministério da Saúde, diante de todas as interferências do ex-presidente da república, com as constantes trocas de ministros de saúde e contradições nas orientações à população, eram motivo de muita angústia e sofrimento, forçando o afastamento das notícias da pandemia.
O que mais me estressava assim no começo eram os pronunciamentos do Bolsonaro. Eu via que o Bolsonaro ia se pronunciar eu já ficava nervosa, e daí saía o pronunciamento, só decadência, nenhuma proteção aos profissionais da saúde, é Ministro da Saúde que não parava. Sofia (R1, enfermeira em Saúde Mental).
O governo federal contribuiu para a disseminação de Fake News por meio de publicações diretas do ex-presidente em suas redes sociais, pronunciamentos e lives para seus seguidores, além de censurar a divulgação dos dados relacionados ao avanço da pandemia no país, como número de casos e óbitos diários. Diante do apagão de informações sobre a pandemia, o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) desenvolveu meio para divulgar os dados epidemiológicos por meio de parceria com a imprensa, reunindo as informações de todo o território nacional.
O desespero e a ausência de respostas para o tratamento da Covid-19 e o fato de os médicos estarem amparados pelo CFM ao serem isentos de infrações éticas no caso de uso de medicações off-label fizeram com que até mesmo um médico residente utilizasse medicações sem comprovação científica como uso profilático para tratar familiares.
Eu tenho essa questão do não cientifico e do científico, e aí foi bem complicado essa situação, porque pra falar com a família era algo assim que eu ficava pesando os apesares, e acaba usando, o que é não científico se pode trazer algum benefício. Eu vou dar um exemplo, foi a ivermectina de uso profilático durante o vírus que poucas pessoas, ainda não se sabe realmente, alguns defenderam, outros não defenderam. E eu tive alguns professores que tomaram e são muito idosos e passaram pelo vírus, e aí a gente fica assim, com a opinião de médicos que não é algo científico, mas que quando se passa da sua família ainda vindo de um remédio que não faz mal, em geral, assim, eu acabei até trazendo pros meus pais, tratando eles dessa forma, minha mãe teve Covid, então eu acabei indo pra algo às vezes não científico naquele momento. Roberto (R2, médico em Pediatria).
Conclusões/Considerações finais O cenário da pandemia apresentou-se mais complexo para os residentes quando o fenômeno da infodemia acerca da desinformação em relação ao vírus surgiu nos discursos de figuras públicas e consequentemente afetou a compreensão da população a respeito da veracidade e gravidade da doença. Notícias falsas, como cura para a doença por meio de medicamentos sem comprovação científica, passaram a ser compartilhadas em larga escala e sem possibilidade de controle, dificultando o trabalho dos profissionais de saúde em combater a desinformação nos serviços de saúde.
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