03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC19.2 - Fomes, interseccionalidades nas políticas públicas em Alimentação e Nutrição |
46228 - RELATO DE EXPERIÊNCIA: O RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO COMO EQUIPAMENTO SOCIAL PARA FORMAÇÃO DA CIDADANIA GABRIELA SANTOS DE ALMEIDA FERREIRA - UFRJ, MARIA CLÁUDIA DA VEIGA SOARES CARVALHO - UFRJ, JULIA MEDEIROS RAMALHO - UFRJ, VERÔNICA OLIVEIRA FIGUEIREDO - UFRJ
Contextualização O Restaurante Universitário (RU) funciona como uma ferramenta de suporte ao corpo estudantil através da acessibilidade à alimentação adequada, sendo esta uma de suas várias funções, uma vez que este espaço tem como intuito a promoção da educação por ações pedagógicas, além de sua função assistencialista, para formação da cidadania por meio de pensamento crítico e diálogo. Como equipamento social, possui vocação para compartilhar saberes, implementando a participação política e dinâmicas cidadãs em suas práticas cotidianas (CARVALHO, 2020). O Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) compreende ações de interseccionalidade no exercício da Cidadania. É um equipamento de apoio às ações de educação alimentar e nutricional no SUS com a criação de ambientes saudáveis e desenvolvimento de habilidades pessoais, seja em relação à autonomia culinária ou na conscientização de escolhas saudáveis. Entendendo a conscientização nos termos de Freire (1987) não apenas como conhecimento ou reconhecimento, mas opção, decisão e compromisso.
Descrição É um estudo descritivo na modalidade de relato de experiência a partir da vivência de estágio no curso de Nutrição realizado dentro do Restaurante Universitário. No início da graduação, a relação do RU com o aluno tem valor apenas de assistência estudantil, suporte necessário para se manter na instituição: comida no prato. Porém, ao passo que os estudantes começam a se envolver em atividades relacionadas ao restaurante, se inicia a percepção de que a refeição está sendo conquistada por ele, não apenas cedida. Segundo referencial teórico de Martin-Barbero, a questão não se encerra no funcionalismo, se estende ao conjunto dos processos sociais de apropriação dos produtos. As práticas que constituem o viver cotidiano de comensalidade nos RUs dão sentido à vida e assim, estes equipamentos sociais de alimentação são mediações possíveis na construção da cidadania.
Período de Realização A experiência ocorreu durante o estágio obrigatório de Nutrição Normal (Maio e Junho de 2023) anexado a um doutorado do PPGN/INJC-UFRJ.
Objetivos Refletir sobre as atribuições do RU além de sua função assistencial como equipamento social formador de cidadania de usuários e a importância para a sociedade.
Resultados As ações de inclusão social iniciaram na participação dos alunos no funcionamento interno de produção de refeições pela força do corpo estudantil, em ações de extensão, pesquisas, hortas e o próprio estágio. Nesse espaço de atuação social o processo de educação constitui uma metodologia que se apresenta favorável à construção do cidadão que conhece seu direito, convive nesse meio, pensa e transforma seu cenário dependendo das situações que enfrenta, conversando com a educação construída por Paulo Freire, que traz resultados positivos. O período de estágio permitiu presenciar esta prática de educação em muitas atividades, como exemplo, visitas técnicas realizadas pelo grupo de estágio à cozinha do RU para a turma do 4º período do curso de Nutrição, como também para alunos do Ensino médio, mostrando um pouco do trabalho feito no local, fazendo com que os próprios educandos, grupo de estágio, pudessem trocar o conhecimento adquirido aos mais novos neste meio. Além disso, atividades abertas ao público da Universidade, permitiram que o grupo pudesse dividir sua vivência com alunos de outros cursos, visto que o grupo de estágio está inserido neste ambiente (universitário), dominando os assuntos debatidos, como mitos, dúvidas, curiosidades, proporcionando a divulgação do conhecimento para além do curso de Nutrição, trazendo todo o corpo estudantil a reconhecer o RU para mais que apenas entrega de refeições. Com isso, experimentamos o sentimento de pertencimento ao todo, a sensação de merecimento e afirmação de cidadania.
Aprendizados Foi possível ver na prática como a formação para cidadania e EAN se conectam ao DHAA e SAN, além de ser inegável o papel do nutricionista, devendo sempre estar a par das políticas públicas que existem para a população que ele atende. Sejam os comensais de um restaurante universitário ou pacientes do hospital, este é um processo de inclusão social que combina iniciativas de apoio ao SUS através do DHAA. As interações entre comensais em relação a diferenças de gênero, etnia, raça ou localização geográfica é reforçada numa interseccionalidade positivada no ambiente cidadão de formação. Conhecer seus direitos, tomar posse deles e repassar o conhecimento é uma função dos restaurantes universitários.
Análise Crítica O curso de nutrição se mostra ainda muito voltado à área clínica, em vista de um currículo que precisa se renovar. A fração que está canalizada à educação, ciências humanas e sociais, deveria acontecer perpassando todos os momentos da graduação, provocando a inclusão do aluno com protagonismo de cidadão no meio universitário, evitando uma formação robotizada, conteudista que escapa do ponto crucial: o pensamento crítico em relação ao mundo.
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