03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC19.2 - Fomes, interseccionalidades nas políticas públicas em Alimentação e Nutrição |
46569 - INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL SOB A PERSPECTIVA DA INTERSECCIONALIDADE NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE – MG KARYNNA MARIA DA SILVA FERREIRA - UFMG, ELIS MINA SERAYA BORDE - UFMG, ALINE DAYRELL FERREIRA SALES - UFMG, URIEL MOREIRA SILVA - UFMG, AMÉLIA AUGUSTA DE LIMA FRICHE - UFMG, WALESKA TEIXEIRA CAIAFFA - UFMG
Apresentação/Introdução Embora a associação entre Insegurança Alimentar (IA) e chefe da família, renda, escolaridade e raça/cor autodeclarada já seja conhecida e haja uma produção significativa sobre desigualdades sociais e insegurança alimentar (IA) no Brasil, ainda existem desafios em sua compreensão relacionados à magnitude e interação das diferentes dimensões das desigualdades sociais, às configurações específicas da insegurança alimentar nas diferentes regiões do Brasil e à compreensão dos processos que (re)produzem/reforçam a IA no país. Em parte esses desafios se devem a limitações epistemológicas e, para superar essas limitações, a Medicina Social e Saúde Coletiva Latino-Americana trouxe considerações importantes ao abordar as determinações sociais dos processos saúde-doença em relação aos sistemas de opressão, assim como as ciências sociais e humanas que trouxeram conceitos relacionados às desigualdades sociais como: discriminação e, recentemente, a interseccionalidade. A interseccionalidade segundo Kimberle Crenshaw, Patricia Hill Collins e Silma Bilge permite descrever como as relações de poder se sobrepõem e funcionam de maneira unificada, estruturando posições sociais e experiências nas sociedades. É reconhecida como um instrumento útil para abordar as desigualdades em saúde, e vem se tornando a perspectiva mais usada nas pesquisas internacionais, o que não acontece na América Latina e no Brasil. No campo da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) a abordagem praticamente não é utilizada e a SAN vem sendo estudada em uma perspectiva unitária e limitada ao papel de identidades ou fatores sociais.
Objetivos O presente trabalho tem como objetivo resumir os resultados da análise descritiva preliminar dos padrões e prevalência da Insegurança Alimentar e Nutricional sob a perspectiva da interseccionalidade em Zonas e Áreas Especiais de Interesse Social (ZEIS) selecionadas do município de Belo Horizonte e apresentar os principais eixos da operacionalização da abordagem no estudo.
Metodologia Foi realizado um estudo transversal com base nos dados da segunda fase do projeto BH-Viva, projeto que buscou analisar os impactos das intervenções de requalificação urbana, desenvolvidas pela prefeitura de Belo Horizonte/MG como parte do Plano de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, a partir de inquéritos domiciliares, nos anos de 2017 e 2018, no Aglomerado da Serra e na Cabana do Pai Thomás no município. A variável dependente foi a segurança alimentar (SA), definida em termos de níveis de insegurança alimentar. As perguntas utilizadas para caracterizar a SA foram retiradas da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar e Nutricional (EBIA). As variáveis independentes foram criadas a partir da operacionalização da abordagem da interseccionalidade com os dados disponíveis no estudo BH-Viva. No intuito de superar a mera junção de diferentes variáveis sociais para operacionalizar a interseccionalidade, construímos índices e variáveis-síntese que permitissem captar processos de vulnerabilização diante da IA. Sexo, vulnerabilidade de gênero, índice de privação relacionado a IA (construído a partir de 3 domínios: renda, escolaridade e condições de domicílio), raça/cor (análise binária – branco e não branco – e terciária – branco, preto e pardo), deficiência e dependência de benefícios sociais foram as variáveis independentes utilizadas. Como covariável utilizamos o Índice de Vulnerabilidade à Saúde (IVS), que é um indicador de vulnerabilidade para cada setor censitário do município estudado.
Resultados e discussão Como resultado do estudo, encontramos tanto no Serra quanto no Cabana que na maioria dos domicílios os respondentes eram casados, não recebiam nenhum tipo benefício dos programas sociais do governo, se autodeclaravam pardos e eram do sexo feminino. Além disso, encontramos que 51,10% dos domicílios estavam em SA no Serra, 13,94% em insegurança alimentar leve e 34,96% em insegurança alimentar moderada a grave, totalizando 48,9% com algum grau de insegurança alimentar. No Cabana, 50,18% dos domicílios do Cabana estavam em SA, 13,3% em insegurança alimentar leve e 36,49% em insegurança alimentar moderada a grave, totalizando 49,79% com algum grau de insegurança alimentar.
Conclusões/Considerações finais Entender como eixos de opressão e suas articulações estruturam as posições de grupos e os tornam mais susceptíveis à insegurança alimentar, a partir da abordagem da interseccionalidade, pode contribuir para a implementação de políticas públicas mais efetivas que propiciem justiça social e equidade em saúde.
|
|