46352 - MEMÓRIAS ALIMENTARES DE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS ENVELHECIDOS COM DIABETES MELLITUS TIPO 2 E OUTRAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: NO CONTEXTO DO CUIDADO EM SAÚDE IDA OLIVEIRA DE ALMEIDA - UFBA, MARCELO EDUARDO PFEIFFER CASTELLANOS - UFBA, LÍGIA AMPARO DA SILVA SANTOS - UFBA
Apresentação/Introdução A alimentação é um fenômeno complexo, no qual abrange diferentes dimensões biológicas, psicológicas, sociais e culturais. (POULAIN; PROENÇA, 2003; CANESQUI; 2005). A alimentação não só contempla essas dimensões, como também, está inserida dentro de uma temporalidade e que são definidos socialmente nas diferentes etapas da vida, tais como, a alimentação de lactente, de criança, de adolescente, de adulto e de idoso (POULAIN; PROENÇA, 2003). E que marcam as vicissitudes da alimentação no mundo contemporâneo.
É ao longo da vida também que são formadas as memórias relacionadas à alimentação. Segundo Pollak (1992), as memórias se constituem por lugares, pessoas e acontecimentos. Desta forma, as memórias alimentares se compõem desses elementos e se entrelaçam com as práticas alimentares dos sujeitos.
Todavia, as histórias de vida e as práticas alimentares podem ser modificadas em virtude da presença de doenças. O envelhecer abrange diferentes situações, tais como: físicas, mentais, culturais e socioeconômicas (ALMEIDA et al., 2008). O corpo envelhecido também pode experienciar o adoecimento devido a alterações fisiológicas, como também, através do aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (SILVA et al., 2021).
Assim, o adoecimento crônico pode demandar modificações na alimentação e nas práticas alimentares do sujeito envelhecido, uma vez que pode ser central mudanças alimentares no curso da vida devido ao adoecimento crônico. Porém, as implicações dessas orientações podem interferir diretamente na relação dos sujeitos com alimentação e nas suas memórias, uma vez que, comer é um ato social, e possíveis necessidades de mudanças alimentares podem trazer impactos no âmbito pessoal e social da vida dos sujeitos, assim como, nas suas memórias alimentares, uma vez que também são constituídas em espaços sociais (família, aniversários, eventos sociais).
Por conseguinte, modificações alimentares indicadas pelos profissionais de saúde a pessoas acometidas por DCNT (hipertensão, diabetes dentre outras), apoiam-se em visões e referenciais que podem divergir daqueles que orientam os sujeitos adoecidos: “É comum a dieta orientada conflitar com os padrões e normas culturais que informam as práticas alimentares do grupo social de pertença do adoecido, em relação à escolha do quê, quanto e quando (tipo, quantidade, ocasião) comer” (BARSAGLINI; CANESQUI, p. 930, 2010).
Objetivos Descrever as memórias alimentares de funcionários públicos envelhecidos com DCNTs, a partir de suas histórias de vida.
Metodologia O percurso empreendido nesta investigação tratou de uma pesquisa com abordagem qualitativa/exploratória e utilizou o método história de vida. Vale ressaltar que este trabalho faz parte de uma dissertação de mestrado que está vinculada a um projeto maior intitulado “Complicações do diabetes tipo II no Estudo ELSA Brasil: desigualdades e vulnerabilidades em saúde” que está vinculado ao ELSA Brasil (UFBA). Os participantes da pesquisa foram funcionários públicos envelhecidos com diabetes mellitus tipo 2 e outras DCNTs. Os sujeitos do estudo foram selecionados de forma não probabilística e por conveniência, composta por um grupo de 20 funcionários envelhecidos da UFBA, do sexo feminino e masculino. Os participantes do estudo longitudinal de saúde do adulto foram convidados a participar do estudo, através de ligação e foram realizadas entrevistas on-line através da plataforma Jitsi Meet. As respostas foram gravadas em áudio e vídeo na plataforma utilizada e posteriormente foram transcritas pela entrevistadora. Foi realizada a análise temática dos dados obtidos. Como é uma pesquisa que envolve seres humanos, foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, cujo número CAAE: 54339421.5.0000.5030.
Resultados e discussão No que tange as memórias alimentares, estão interligadas com as histórias e trajetórias de cada sujeito do estudo, que perpassa a presença do feijão, arroz, farinha, feijoada no domingo, assim como, ativação de memórias relacionadas a fome e dificuldades financeiras; o cultivo de alimentos para a subsistência; comidas de datas comemorativas; mudanças no tempo e espaço no que concerne à alimentação. Além disso, a infância como momento primordial na aquisição de hábitos alimentares e o consumo de alimentos oriundos da roça, considerados como “naturais”. Memórias de comidas de viagens foram marcantes no grupo estudado e as relações entre adoecimento crônico, sentimentos, alimentação e as memórias alimentares.
Conclusões/Considerações finais Deste modo, o acionamento das memórias alimentares pode ser um caminho para revelar os diversos aspectos que permeiam a alimentação, e que não são muito abordados no cuidado em saúde. Ademais, sobre a importância e a riqueza de levar em consideração as memórias alimentares na dimensão do cuidado pelos profissionais de saúde que atuam no SUS e instituições privadas, uma vez que histórias, narrativas e memórias são de suma importância e não se dissociam da vida dos sujeitos.
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