47398 - INSEGURANÇA ALIMENTAR, CÁRIE DENTÁRIA E FATORES ASSOCIADOS EM TERRITÓRIO QUILOMBOLA: UMA ANÁLISE SOB À PERSPECTIVA DE BOURDIEU MARIA LETÍCIA BARBOSA RAYMUNDO - UFPB, ELZA CRISTINA FARIAS DE ARAÚJO - UFPB, RÊNNIS OLIVEIRA DA SILVA - UFPB, YURI WANDERLEY CAVALCANTI - UFPB
Apresentação/Introdução Indivíduos quilombolas sofrem com vulnerabilidades sociais que marcam a desigualdade racial e social sofrida por essa minoria historicamente negligenciada. Estas, refletem em iniquidades em saúde, por meio dos Determinantes Sociais da Saúde (DSS). A saúde bucal é um aspecto essencial da saúde geral amplamente afetada pelos DSS em comunidades quilombolas. A insegurança alimentar, caracterizada pela dificuldade de acesso a alimentos nutritivos e em quantidade suficiente, desempenha um papel significativo na saúde bucal, uma vez que dietas desequilibradas e ricas em açúcares podem contribuir para o desenvolvimento da cárie dentária, uma doença crônica não transmissível (DCNT). De acordo com a teoria de Pierre Bourdieu, que explica como as desigualdades são reproduzidas e perpetuadas por meio de mecanismos de poder, enfatiza-se a importância da estrutura social, do capital cultural, capital econômico, do capital social e do habitus na distribuição desigual de recursos e oportunidades na sociedade, que afetam diretamente as condições de saúde das populações.
Objetivos Dessa forma, objetivou-se verificar a associação entre condições sociodemográficas e socioeconômicas com a prevalência de cárie dentária e com a insegurança alimentar, sob à luz da teoria dos DSS e da teoria de Bourdieu.
Metodologia Trata-se dos resultados preliminares de um inquérito epidemiológico realizado em um território quilombola localizado no município de João Pessoa-PB, com crianças com idades entre 3 e 9 anos. Foi aplicado um questionário para caracterização sociodemográfica e socioeconômica, hábitos de higiene bucal, insegurança alimentar e consumo de açúcar. Foram realizados exames bucais para verificar a prevalência de cárie dentária nas crianças de 3 a 9 anos de idade. Para análise dos dados, foi realizada a estatística descritiva para caracterização da amostra. Para verificar a associação de fatores sociodemográficos e socioeconômicos com a prevalência de cárie dentária foi utilizada uma regressão linear, e para a insegurança alimentar, foi utilizada uma regressão logística multinomial, considerando o valor de significância de 5%.
Resultados e discussão Da amostra analisada (n=77), apenas 43,2% se autodeclararam quilombolas. Cerca de 95% (n=73) dos responsáveis pelas crianças eram do sexo feminino, com média de idade de 31 anos. Com relação às crianças, 62,3% (n=48) eram do sexo feminino, com média de idade de 6 anos. Com relação à autodeclaração étnico-racial, 51,3% (n=37) dos adultos se autodeclararam pardos, e 57,1% (n=40) das crianças foram declaradas como pardas. A média da renda foi R$800,00 reais ao mês, e 72,7% (n=56) recebem algum benefício assistencial do governo. Da amostra, 66,2% (n=49) encontram-se desempregados. Para Bourdieu, o desemprego é uma consequência das estruturas sociais e relações de poder, uma vez que grupos sociais com menor capital educacional, cultural e social têm menos acesso a empregos de qualidade e com baixa remuneração. Com relação à saúde bucal, a média de escovações dentárias diárias das crianças foi 2 vezes ao dia, e 52% das crianças já fizeram ao menos uma visita ao dentista. Com relação à prevalência de cárie dentária, o ceo-s obtido foi igual a 1. De acordo com Bourdieu, tanto o capital cultural como o conceito de habitus pode se manifestar em maior acesso às informações em saúde e influenciar os comportamentos das pessoas, moldando as atitudes em relação à saúde. Com relação à insegurança alimentar, 81,9% (n=63) das famílias se encontram em algum estado de insegurança alimentar e 49,3% (n=35) das crianças têm uma alimentação com baixo consumo de açúcar. No contexto da insegurança alimentar, o capital econômico desempenha um papel importante na dificuldade em adquirir alimentos adequados e suficientes devido às restrições financeiras, preços elevados dos alimentos saudáveis e falta de acesso a opções alimentares diversificadas. Com base no modelo adotado, foi possível observar que os fatores que estão associados à prevalência de cárie são o fato de o indivíduo se autodeclarar quilombola (p=0,024), se autodeclarar preto (p=0,05) a renda (p=0,009) e a frequência de escovações realizadas pela criança (p=0,004). Com relação à insegurança alimentar, os fatores que estão associados são sexo (p<0,001) e o recebimento de benefício assistencial (p=0,002). Ambos os desfechos do estudo sofrem influência do capital econômico, distribuído de forma desigual na sociedade, o que contribui para a perpetuação das desigualdades sociais. Além disso, há o contexto da desigualdade racial, onde Bourdieu argumenta que a estrutura social perpetua e reproduz formas de dominação e exclusão baseadas no conceito étnico-racial.
Conclusões/Considerações finais A desigualdade racial está profundamente entrelaçada com as formas de desigualdade e, de acordo com os resultados do estudo, estão associadas às condições de saúde bucal e também à insegurança alimentar em um território quilombola.
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