03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC20.2 - Violências, racismo obstétrico e (in)justiças reprodutivas |
47985 - AS ESTRATÉGIAS DE RESISTÊNCIA DE ARIANA DE SOUZA RODRIGUES DOS SANTOS ATRAVÉS DO PROJETO SANKOFA ATENDIMENTO GESTACIONAL JANAÍNA TERESA GENTILI FERREIRA DE ARAÚJO - UERJ
Apresentação/Introdução Conheci Ariana Santos como integrante do Coletivo de Parteiras, uma equipe de parto domiciliar formada por Enfermeiras Obstetras, em 2017 ano que me tornei doula. No perfil do site dizia ser ativista, defensora dos direitos das mulheres e outras minorias, da liberdade sexual, da justiça, mulher, negra e feminista. De lá pra cá fundou o Projeto Sankofa Atendimento Gestacional ressignificando o ‘quem sou’ para afirmar que ‘hoje é a crença naquilo que os olhos não podem ver e as mãos não podem tocar. É mulher. Preta. Neta de uma parteira preta que recebeu muitos dos seus descendentes na mesma casa que conheceram os pés de Ariana ainda miúdos. É resistência negra. É Enfermeira obstétrica por formação. Parteira por determinação daqueles que vieram antes de dela. Seu trabalho é ‘Ajudar o espírito a chegar’. Ajuda que considera melhor porque estudou e olhou para trás, entendendo que é um pouco do que seus antepassados foram. E por isso é muitas, e assim não é mais só. E não sendo só, pode estar. Junto. Ao lado. Inteira e em paz.
Objetivos Estou em fase da escrita da minha dissertação com prazo para defesa até agosto de 2023. O trabalho dialoga com e contribui para os debates políticos e acadêmicos sobre a (des)humanização do parto a partir de uma perspectiva feminista negra ao entrevistar Ariana Santos, fundadora do Projeto Sankofa Atendimento Gestacional demonstrando quais são as estratégias de resistência (DE ASSIS, 2018 e HOOKS, 2019) à violência e ao racismo no ambiente obstétrico através dos “arranjos de cuidado” vivenciados por ela em conjunto com os diversos atores sociais envolvidos nas dinâmicas da gestação, parto, nascimento e puerpério (FAZZIONI, 2018), entre elas, três doulas negras.
Metodologia Realizei entrevista semi-estruturada com Ariana de Souza Rodrigues dos Santos, na sede do projeto situada na Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro porque em sua dissertação, defendida em 2020, com o título Do corpo colonizado ao corpo humanizado: trajetórias e percepções acerca do cuidado perinatal e a agência feminina negra, informou que ‘o projeto tem como objetivo principal o atendimento perinatal de mulheres negras e periféricas. É formado por cinco enfermeiras, quatro mulheres negras e uma mulher branca, todas moradoras de zonas de periferia da cidade. Atuamos realizando rodas de conversa sobre a temática do ciclo reprodutivo puerperal em diversas áreas da cidade, dando preferência a regiões de periferia. Além de estabelecermos parcerias com entidades que também atuam junto a famílias em maior vulnerabilidade, como o Movimento dos trabalhadores sem teto (MTST). Os valores a serem pagos pelas famílias que desejam realizar pré-natal e parto domiciliar com a equipe são decididos em conjunto com a família, tendo como critérios a raça, classe social e localização da residência. Desta forma, em um sistema de retroalimentação, o projeto se sustenta através do pagamento das famílias que são consideradas classe média e que pagam o valor usualmente cobrado por outras equipes. As enfermeiras recebem o mesmo pagamento independente de qual gestante atenderem e o dinheiro restante vem sendo usado para compra de materiais e aluguel de espaços para a realização de oficinas educativas e rodas de conversa. Dentre as famílias que são atendidas no projeto, muitas haviam buscado outras equipes em busca de atendimento pré-natal ou ao parto, mas por suas condições financeiras não foram absorvidas pelas mesmas. Em dois anos completos de atendimento em 2019, 57% das clientes atendidas pela equipe foram mulheres negras e moradoras de regiões distantes das zonas nobres da cidade.’ (SANTOS, 2020).
Resultados e discussão Embora o trabalho não esteja concluído a trajetória percorrida até aqui possibilita constatar que as ações do projeto Sankofa com seus arranjos de cuidado mitigam as lacunas do Sistema Único de Saúde, sobretudo no enfrentamento das violências e dos racismos no ambiente obstétrico.
Conclusões/Considerações finais Almejo que minha dissertação contribua para o fortalecimento e implementação efetiva das políticas públicas para a saúde da população negra.
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