46982 - COMPORTAMENTO TEMPORAL DA MORTALIDADE FETAL NO RECIFE/PE NO PERÍODO DE 2012 A 2021 CAMILA DA SILVA SANTANA - SESAU RECIFE / IMIP, ELAINE MARIA TALIA DE MENEZES - SESAU RECIFE / IMIP, CONCEIÇÃO MARIA DE OLIVEIRA - SESAU RECIFE
Apresentação/Introdução O óbito fetal é a morte de um produto da concepção antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez. No Brasil, são considerados os óbitos fetais aqueles com mais de 22 semanas de gestação, ou peso igual ou superior a 500 gramas e/ou estatura igual ou superior a 25 centímetros. A taxa de mortalidade fetal (TMF), um dos importantes indicadores da saúde pública, é multifatorial refletindo contextos biológicos, socioeconômicos e qualidade da assistência na gestação e ao parto. Através dos óbitos fetais é possível identificar situações de desigualdade e com isso subsidiar avaliações da assistência prestada à gestação e ao parto. As causas e fatores associados ao óbito fetal mostram-se passíveis de prevenção, com medidas adequadas na assistência desde a gestação ao parto.
Objetivos Descrever o comportamento temporal mortalidade fetal de Recife-PE, no período de 2012 a 2021.
Metodologia Estudo de abordagem quantitativa, utiliza técnicas e procedimentos de levantamento de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). A pesquisa se dará pela quantificação dos óbitos registrados no banco de dados do SIM para classificar e descrever as características das mortes fetais, buscando evidenciar a explicação do “por quê” dos óbitos fetais e a manutenção da TMF na cidade. Foi utilizado dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) para o cálculo da TMF.
Resultados e discussão No período estudado a taxa de mortalidade fetal manteve-se quase sem alteração, com 9,9 óbitos por 1000 nascimentos no primeiro ano estudado (2012) e 9,4 no último ano (2021), perfazendo redução de 5,0%. O ano de 2016 apresentou a maior taxa do período (10,1 por 1000 nascimentos) e 2019 a menor (8,3 por 1000 nascimentos). A faixa etária materna com maior TMF, em quase todos os anos, foi 40 anos e mais, com taxa variando 6,1 óbitos por 1000 nascimentos em 2015 para 25,8 em 2016, média de 15,6. Entretanto, em 2014, 2015 e 2020 a faixa etária <19 anos apresentaram a maior TMF, com 10,1; 11,1 e 11,7 respectivamente. Os fetos provenientes de mães sem escolaridade se sobressaíram com TMF variando de 84,9 em 2012 a 88,2 em 2021. O tipo de gravidez que predominam os óbitos fetais são as duplas e triplas, sendo as triplas nos anos de 2015, 2017 e 2019 com TMF de 52,6; 43,5; 95,2 respectivamente. Os óbitos fetais prematuros, com baixo peso e provenientes de parto vaginal se mantiveram com TMF mais elevada em todo o período, média de 57,7, 76,8 e 15,1 óbitos fetais por 1000 nascimentos, respectivamente. Quanto às causas dos óbitos fetais, constatou-se predomínio em quase todo período da hipertensão materna e sífilis congênita. Destaca-se o aumento de 38,1% dos óbitos por hipertensão materna e de 124,2% por sífilis congênita, quando comparado 2012 com 2021. As causas evitáveis vem aumentando no período estudado passando de 57,7% em 2012 para 79,8% em 2021. O grupo de óbitos reduzíveis à atenção da mulher foi o que mais aumentou no período, de 42,7% a 63,0%, em contraponto às causas mal definidas ou inconsistentes reduziu de 32,6 % para 11,0%. No Recife, nos dez anos estudados, percebeu-se que a TMF quase não apresentou alteração. Outros estudos têm apontado essa lenta redução no Brasil ao longo dos anos (MOURA, 2017; SCHRADER, GREICE, 2017). Verificou-se manutenção nas características socioeconômicas, epidemiológicas e clínicas dos óbitos fetais ao longo do período estudado (BARROS; AQUINO; SOUZA, 2018; THE LANCET’S SERIES, 2016). As doenças hipertensivas maternas e a sífilis congênita foram as principais causas de morte. Contudo, sabe-se que essas causas são possíveis de diagnóstico e tratamento ainda durante o pré-natal (BARROS; AQUINO; SOUZA, 2018). A maioria dos óbitos fetais foram considerados evitáveis, em especial por adequada atenção àmulher na gestação. A ocorrência de óbito fetal evitável é considerada um "evento sentinela", um sinal de alerta para a necessidade de melhorias na assistência à saúde materna, desde os cuidados pré-natais até ao intraparto (THE LANCET’S SERIES, 2016).
Conclusões/Considerações finais A mortalidade fetal reflete a acessibilidade e a qualidade dos cuidados primários de saúde e assistência intraparto disponibilizados à gestante. Essas mortes têm baixa visibilidade e são negligenciadas pelos serviços de saúde, que ainda não incorporaram na rotina de trabalho a análise de sua ocorrência. Faltam também investimentos específicos para sua redução, com políticas e programas públicos de saúde.
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