03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC21.2 - Diálogos e possibilidades no cotidiano da saúde indígena |
46774 - VIVÊNCIAS EM SAÚDE NO TERRITÓRIO DA ETNIA XUKURU DO ORORUBÁ: UMA ABORDAGEM INTERPROFISSIONAL EMERSON JOSE DA SILVA - UFPE, MATEUS SANTOS SILVA - UFPE, HUGO HENRIQUE DE OLIVEIRA SILVA - UFPE, MARCELA MARTINS DA SILVA NASCIMENTO - UFPE, WEDJA KEYLLA ALVES DE MELO - UFPE, NATHÁLIA PAULA DE SOUZA. - UFPE
Contextualização O presente trabalho é resultado de experiências vivenciadas por discentes dos cursos de Ciências Biológicas (licenciatura), Educação Física (bacharelado), Enfermagem e Nutrição, na disciplina eletiva “Etnias indígenas e Saúde coletiva”, ofertada no Campus do Centro Acadêmico de Vitória - Universidade Federal de Pernambuco. Nesta eletiva, além da abordagem teórica, a mesma propicia uma imersão e vivência prática no território da etnia Xukuru do Ororubá. A história e as memórias do povo Xukuru são citadas e pontuadas por marcos históricos por eles eleitos como fundantes e que serviram de incentivo para outras etnias.
Descrição O povo Xukuru habita a Serra do Ororubá, que se localiza no Município de Pesqueira, ficando a 215 km da capital do estado Recife, situada na Região Agreste de Pernambuco. As terras Xukuru foram demarcadas em 1995 e homologadas em 2001 pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). De acordo com a FUNAI, essa etnia possui uma população de cerca de 12.000 indígenas, o maior quantitativo populacional indígena do estado de Pernambuco, morando em 24 aldeias, divididas em três regiões: Agreste, Ribeira e Serra, as quais compõem os aproximados 27.555 hectares do território.
Período de Realização A aula de campo no território Xukuru do Ororubá ocorreu durante o período de 16 à 18 de março de 2023.
Objetivos Busca-se compreender mais sobre a realidade desta etnia indígena através de uma dinâmica interprofissional, buscando conhecer sua organização política, compreender a espiritualidade e ritos, entender o perfil epidemiológico local e seus mecanismos farmacológicos e tradicionais para tratamento das doenças. Buscando contribuir com a formação e atuação de profissionais da saúde mais humanos e conscientes das múltiplas realidades dos povos tradicionais.
Resultados Através da imersão no território Xukuru foi possível constatar que este povo possui uma organização política e social bem estruturada e adaptada a cada aldeia. Este contexto social está diretamente relacionado à espiritualidade e ritos Xukuru que se expressam como algo importante na sua cultura, pois faz parte de quem são e fortalece seu vínculo com seus ancestrais e encantados. Ainda foi possível perceber o quanto busca-se resgatar a história do seu povo e reforçar sua identidade através da educação. Com a visita ao Polo Base de Saúde Indígena e Unidade Básica de Saúde de Cimbres foi possível entender a organização da assistência à saúde que se dá por uma rede integrada e bem organizada, onde todas as áreas do território são cobertas. Quando ao perfil epidemiológico há predominância de hipertensão e Diabetes Mellitus, além de casos crescentes de transtornos de saúde mental. A alimentação no território é um ponto sensível, pois existe presença marcante de alimentos industrializados e sua inserção na dieta de forma cada vez mais precoce, havendo uma troca de alimentos naturais, produzidos localmente, por produtos ultraprocessados, sendo encontrado também no território desafios como a limitação de transporte e profissionais para uma melhor assistência. As plantas medicinais são constantemente recomendadas pelos profissionais, mas o público mais jovem tende a não utilizá-las pelo trabalho para elaborar e a praticidade dos remédios. Um ponto importante no uso de plantas medicinais é que esta medicina tradicional tem sido cada vez mais utilizada no território Xukuru como estratégia menos invasiva de desmame de antidepressivos.
Aprendizados Através da imersão no território foi possível compreender e ressaltar a importância dos povos tradicionais para a cultura, tradição e história. Aprendendo a valorizar mais suas crenças, valores e costumes e percebendo a importância de uma atenção especializada à saúde, que leve em consideração suas especificidades, respeitando seus ideais e valorizando sua cultura e território. Através da interprofissionalidade foi possível levantar debates importantes a respeito dos objetos de interesse dos diferentes núcleos de formação e ampliar o olhar a respeito da saúde dos povos indígenas, possibilitando uma atuação profissional mais humana.
Análise Crítica O povo Xukuru apresenta um histórico de luta por sua identidade, valores e crenças, apesar da proximidade com a área urbana e da inevitável inclusão da tecnologia na rotina. A alta rotatividade do médico no território, a constante regulação do município (dependente da gestão) e a ausência de outros profissionais na equipe são desafios para a saúde indígena local. Apesar das dificuldades e necessidade de aprimoramento constante, eles avançam no caminho de um modelo de cuidado organizado, humanizado, com uma atenção básica de alta capilaridade e cobertura, acolhedora e que agrega práticas tradicionais ao conhecimento técnico-científico.
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