Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC21.2 - Diálogos e possibilidades no cotidiano da saúde indígena

47374 - DOS LIMITES TRAZIDOS PELA PANDEMIA À POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO COMPARTILHADA: ENCONTROS ENTRE INDÍGENAS E NÃO INDÍGENAS NO CURSO INTRODUÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS
WILLIAN FERNANDES LUNA - UFSCAR, CECILIA MALVEZZI - UFSCAR, DENIS DELGADO DA SILVA - UFSCAR, ANA ELISA RODRIGUES ALVES RIBEIRO - UNIFRAN, BRENNO KARLLOS ALVES FEITOSA MENEZES DE SÁ - UFSCAR, VANESSA CARNEIRO BORGES - UFSCAR, JACKSON MENEZES DE ARAÚJO - UFFS


Contextualização
Existe invisibilidade das temáticas que abordam populações indígenas nos currículos de graduação e pós-graduação em saúde. Observa-se fragilidade nas discussões relacionadas à competência cultural e à formação diferenciada para lidar com situações que demandam um diálogo em contextos interculturais, resultando em desconhecimento de estudantes e profissionais de saúde, sobre questões relacionadas à saúde dos povos originários, e dificulta o engajamento neste campo e área de atuação.

Descrição
O curso, organizado em quatro módulos: Identidade Indígena; Cuidado em Saúde Indígena; Direitos Indígenas e Saúde; Educação e Saúde Indígena, tem sido realizado no formato on-line, com encontros síncronos e atividades assíncronas. A metodologia partiu da experiência do grupo coordenador com o projeto de extensão: Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas, desenvolvido desde 2016. São utilizadas estratégias e instrumentos de diversas metodologias ativas de ensino-aprendizagem, com inspirações na problematização, espiral construtivista e aprendizagem baseada em problemas. Buscando uma ressignificação do papel da formação para e na diversidade, a equipe de trabalho incluíu estudantes indígenas de diversos cursos e outras instituições e coletivos parceiros. Dentre os docentes, havia profissionais de diversas áreas da saúde e áreas afins. Promoveu-se uma relação horizontal na construção do curso, com participação de indígenas e não indígenas, estudantes e docentes, em todo o processo de elaboração e desenvolvimento. Por escolha da equipe de organização, a partir da segunda edição, optou-se por convidar apenas palestrantes indígenas. Foram disponibilizadas 48 vagas para os participantes nas duas primeiras edições e 60 na terceira. Os participantes do curso foram divididos em pequenos grupos, mediados por estudantes indígenas e por professores.

Período de Realização
O curso, realizado anualmente, teve sua primeira edição em 2021, e está em sua terceira edição em 2023. As edições tiveram duração de 60 horas, distribuídas em 14 semanas em 2021, 16 semanas em 2022 e 15 semanas em 2023.

Objetivos
Estabelecer um espaço compartilhado entre indígenas e não indígenas, estudantes e profissionais de saúde, discutindo as especificidades da saúde indígena. Colaborar com a formação dos estudantes e na educação permanente de profissionais de saúde, favorecendo a competência cultural. Reforçar o protagonismo indígena na construção de estratégias para as suas necessidades de saúde, também construindo novos conhecimentos a partir do encontro intercultural.

Resultados
Foram 260 candidatos inscritos na seleção em 2021, 173 em 2022 e 164 em 2023. A avaliação foi feita a partir de cartas de intenção dos candidatos, buscando contemplar a diversidade. O grupo selecionado expressou esta diversidade, constituindo-se de indígenas e não indígenas, estudantes da área da saúde e profissionais de saúde que atuam na saúde indígena, professores e lideranças comunitárias. Nesses três anos de experiência, houve candidatos de 21 estados e representantes de 27 diferentes povos indígenas. Ao final, 33 participantes concluíram o curso em 2021, 36 em 2022, a edição de 2023 ainda se encontrava em andamento até o envio deste resumo.


Aprendizados
O volume de inscritos indica a demanda reprimida de cursos na área de saúde indígena. O formato do curso favoreceu o protagonismo e a superação da invisibilidade indígena na construção dos espaços que diziam respeito aos seus próprios contextos sociais e culturais, em um movimento decolonizador. Gersem Baniwa ressalta que o protagonismo indígena na produção e divulgação de conhecimentos científicos, abre perspectivas concretas para diferentes cosmovisões e racionalidades. O uso de metodologias ativas de ensino-aprendizagem proporcionou uma experiência de subversão de hierarquias na relação entre educadores e educandos, entre conhecimento acadêmico e popular, em contraposição a uma visão elitista da educação, que não valoriza a tradição oral.


Análise Crítica
São poucos os cursos ofertados que têm a possibilidade de incluir aqueles que têm interesse, mas que ainda não atuam no contexto indígena, sendo um potencial formador do curso. Iniciativas como esta têm sido buscadas também como caminhos para educação permanente de quem já atua em contexto indígena. A instituição que oferece o curso, possui histórico de políticas afirmativas, sendo observado um maior engajamento, participação e protagonismo dos indígenas nas últimas edições do curso. A multiculturalidade étnica colabora para aprofundamento de conhecimentos dos povos participantes e proporciona novas vivências. O curso desempenha papel na construção do movimento indígena, a partir de uma visão multidimensional de educação em saúde valorizando os saberes originários de várias regiões do Brasil. Através do curso, foi possível experienciar uma universidade democrática, inclusiva que legitima a diversidade cultural e de saberes.