Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC21.2 - Diálogos e possibilidades no cotidiano da saúde indígena

47656 - SAÚDE COLETIVA E ETNIAS INDÍGENAS: VIVÊNCIA NO TERRITÓRIO DOS XUKURU DE ORUBÁ
ISABELLE ALICE DOS SANTOS - UFPE


Contextualização
As consequências deixadas pelo processo colonizador a população indígena, além de trazer marginalização socioeconômica, gerou grandes desafios nos processos de saúde que se perpetuam até os dias atuais. Compreendendo essa problemática, vê-se a importância do estudo acerca do desenvolvimento dos sistemas de saúde nesses territórios e suas articulações com a população e demais órgãos. Como as características culturais e políticas se consolidam como determinantes relevantes no processo saúde-doença de diferentes etnias, logo, percebe-se que o reconhecimento das identidades e a reflexão acerca de suas especificidades podem auxiliar na garantia da acessibilidade e melhoria da qualidade nas ofertas de ações e serviços em saúde as etnias indígenas.

Descrição
A excursão didática foi promovida por uma disciplina do curso de Saúde Coletiva do Centro Acadêmico de Vitória, Universidade Federal de Pernambuco. Foi desenvolvida por meio de encontros teóricos e atividades de acompanhamento, seguida pela realização de uma viagem de campo de três dias, com o intuito de promover o reconhecimento da identidade, cidadania e democratização das etnias indígenas do Nordeste Brasileiro. Além da apresentação da cultura, política, cotidiano e das principais ações e serviços desenvolvidos para a população indígena. Nessa prática, foi possível compreender melhor a organização dos serviços de atenção à saúde dos povos indígenas na forma de Distritos Sanitários Especiais e Polos-Bases. Ademais, também foi possível ver um pouco como é a preparação de recursos humanos para atuação em contexto intercultural, o monitoramento das ações de saúde, articulação dos sistemas tradicionais indígenas e do sistema oficial de saúde, a promoção do uso adequado e racional de medicamentos e plantas medicinais, a promoção de ações específicas em situações especiais e da ética na pesquisa e nas ações de atenção à saúde envolvendo comunidades indígenas, assim como o cuidado na promoção e manutenção de ambientes saudáveis.

Período de Realização
22, 23 e 24 de setembro de 2022.

Objetivos
Entender a organização e participação social e política dos xukuru de orubá no Subsistema de Atenção a Saúde Indígena, assim como compreender as características culturais e políticas que influenciam os condicionantes e determinantes biopsicossociais do processo saúde-doença desse território.

Resultados
Foram realizados rodas de conversas contendo como principal temática a relação do povo xuruku de orubá com o conhecimento tradicional, como as plantas medicinais, e com os serviços e ações de saúde da região. Também foram feitas entrevistas com os responsáveis pelas comunidades, contando suas perspectivas sobre a temática, além de relatórios conforme as perspectivas dos estudantes. As aulas de campo evidenciariam as características sociais dessa população, revelando a força de sua organização política, além de mostrar na prática a importância da participação social na construção do sistema de saúde.


Aprendizados
Ressalvou-se como a medicina tradicional pode ser trabalhada em conjunto a medicina biomédica, de forma que um não sobreponha o outro. Ademais, tornou-se claro que não basta apenas um serviço de saúde disponível no território. Para cuidar, tratar e prevenir agravos nas condições de saúde, é preciso saber manejar os casos, respeitar e valorizar a cultura e as tradições e não tentar impor, sempre prezando pelo bem coletivo e individual.

Análise Crítica
A relação ensino e práticas do campo é uma ferramenta potente para a formação, produção de conhecimento, responsabilidade e consciência social que constrói e muda atitudes, comportamentos e práticas sociais. A experiência coloca em evidência a necessidade de fortalecer o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) que foi reivindicada pelos povos indígenas e que se mantém firme com a participação dos mesmos em cada passo, trazendo bons resultados e mostrando ser possível garantir o acesso à atenção integral à saúde, consoante os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política segundo a Política Nacional de Atenção a saúde dos povos indígenas. Ademais, a experiência mostrou o quanto é indispensável o controle social e como pode funcionar muito bem em um território que dialoga com as diferenças. Notou-se o cuidado e a organização do sistema de maneira completamente diferente, para entender que não basta apenas um medicamento ou um curativo, a saúde vai além e pode abordar diferentes contextos que precisam ser analisados e acima de tudo escutados.