Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC21.2 - Diálogos e possibilidades no cotidiano da saúde indígena

48250 - A SAÚDE REPRODUTIVA DAS MULHERES INDÍGENAS NO MATO GROSSO DO SUL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O CUIDADO INTERCULTURAL NO PRÉ-NATAL E PARTO
JENNIFER ESTER DE SOUSA BASTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, MARIANA HASSE - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, GLÊNIO ALVES DE FREITAS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, RENATA PALOPOLI PICOLLI - FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL, EVERTON FERREIRA LEMOS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MATO GROSSO DO SUL, GISLAINE RECALDES DE ABREU - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL


Apresentação/Introdução
O gestar e o parir nas comunidades indígenas estão enlaçados a um conjunto de aspectos culturais específicos e historicamente situados. A gestação e a parturição são eventos que englobam vivências individuais das mulheres, mas também coletivas, que abrangem a organização social, a relação entre o físico e o espiritual e a prática da medicina tradicional indígena. Diante dessas especificidades, destaca-se que a saúde reprodutiva das mulheres indígenas não pode ser compreendida sem a avaliação dos contextos aos quais elas se inserem. Para se pensar a atenção à saúde dessas mulheres, é necessário atentar-se à complexa relação que se estabelece entre o saber biomédico e tradicional, o processo saúde-doença e quais são os aspectos socio-histórico-culturais das diferentes etnias, dada a diversidade étnica presente no território brasileiro. Sabe-se que os povos indígenas, enquanto minorias, vivenciam um processo de aniquilação, discriminação, negligência e exclusão que contribui para que estejam em uma posição de maior vulnerabilidade, inclusive para agravamentos da saúde. Esse fenômeno é ainda mais evidente quando pensamos nas mulheres, uma vez que são vítimas, no mínimo, de dupla discriminação: por serem indígenas, mas também por serem mulheres. A partir do estudo do estado da arte realizado sobre a saúde reprodutiva das mulheres indígenas, é possível visualizar alguns aspectos importantes, como taxas mais elevadas de mortalidade materna se comparadas às não indígenas, maior índice de mortes maternas por causas obstétricas diretas, maior suscetibilidade para sofrerem violência obstétrica e índices mais baixos do que não indígenas no que concerne aos percentuais de realização das ações de pré-natal. Os estudos também apontam para o processo de substituição do parto domiciliar e natural acompanhado por parteiras, para o hospitalar, medicalizado e com muitas intervenções - e como isso reverbera de forma violenta para as mulheres indígenas, visto que nesse processo os saberes tradicionais e a autonomia são negados. Quando se trata de políticas públicas, tem-se observado ao longo dos anos a necessidade de desenvolver programas culturalmente adequados para atender às realidades dos povos originários. Nesse sentido, a formulação da Rede Cegonha, por exemplo, reforçou a importância de adotar uma abordagem de cuidado que respeite a cultura das mulheres indígenas e combata a medicalização do parto. Apesar desses avanços, ainda não se consegue garantir uma cobertura abrangente, qualidade e integralidade nos serviços de assistência prestados.

Objetivos
Diante desses aspectos, o presente estudo teve como objetivo compreender a qualidade do cuidado oferecido no pré-natal e parto de mulheres indígenas no Mato Grosso do Sul, considerando as especificidades étnico-culturais.

Metodologia
A pesquisa ocorreu a partir da análise dos dados obtidos por questionários respondidos pelas mulheres indígenas e dados de suas cadernetas de gestante sobre aspectos sociodemográficos, pré-natal e parto. Esses dados foram colhidos pelo estudo epidemiológico "Avaliação da cobertura e qualidade da Atenção ao Pré-natal e Parto ofertada às mulheres indígenas na Rede de Atenção à Saúde de Mato Grosso do Sul", aprovado pela CONEP (Número do Parecer: 4.970.421/2021) desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz do Mato Grosso do Sul, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-Fiocruz) e Universidade Federal de Uberlândia.

Resultados e discussão
Destaca-se a caracterização das condições de assistência ao pré-natal e parto das mulheres indígenas no estado do Mato Grosso do Sul e como isso reverbera na saúde dessas mulheres. O estudo demonstrou que mulheres indígenas do Mato Grosso do Sul possuem a assistência pré-natal inadequada, sendo um reflexo das vulnerabilidades sociais e das iniquidades em saúde vivenciadas pelos povos indígenas do estado. Ademais, observou-se uma relação hierárquica e etnocêntrica existente entre o saber biomédico e o saber tradicional indígena, principalmente em relação ao processo de parturação. A partir desses aspectos é fundamental respaldar estratégias que proporcionem o acesso à promoção da saúde por meio de um diálogo intercultural, valorizando o saber tradicional e também a autonomia das mulheres indígenas.

Conclusões/Considerações finais
A pesquisa evidenciou a necessidade de abordagens de cuidado culturalmente sensíveis e respeitosas para as mulheres indígenas. Os resultados apontam desafios na assistência pré-natal e no parto. Logo, para promover a saúde reprodutiva dessas mulheres de maneira integral, é fundamental reconhecer e valorizar suas práticas tradicionais, garantir o acesso a uma assistência de qualidade e fortalecer seu protagonismo nas decisões relacionadas à saúde. A cooperação entre órgãos governamentais, instituições de pesquisa e comunidades indígenas é essencial para a implementação de políticas que atendam às necessidades específicas das mulheres indígenas, buscando respeito, equidade e integralidade no cuidado.