Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC23.2 - Migrações e processos de saúde, doença e cuidado II

45995 - VULNERABILIDADES DOS IMIGRANTES SOB A PERSPECTIVA DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DA REGIÃO SUL DO BRASIL
EDUARDA CAROLINE CERIOLLI MARTINELLO - UNOCHAPECÓ, GABRIELA DOS SANTOS - UNOCHAPECÓ, LETÍCIA HELENA COSSA - UNOCHAPECÓ, JUNIR ANTÔNIO LUTINSKI - UNOCHAPECÓ


Apresentação/Introdução
Entre 2019 e 2020 a região Sul do Brasil esteve entre as três principais regiões do país a receber imigrantes de longo termo. Em 2021 a região atingiu 46,7% do total de trabalhadores imigrantes do país (OBMIGRA, 2021). A vulnerabilidade em saúde se relaciona com a chance de exposição das pessoas ao adoecimento, resultante de um conjunto de aspectos de ordem individual, social e programática, que tornam os sujeitos suscetíveis a infecções e ao adoecimento ou que funcionam como recursos para a sua proteção (AYRES et al., 2009). Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) atuam por meio de um trabalho no território, a partir das visitas domiciliares, possibilitando maior proximidade com a realidade dos sujeitos, facilitando a compreensão de seus contextos de vida (MELO; CAMPINAS, 210). Conhecer as vulnerabilidades em saúde no contexto dos imigrantes, contribui para formular políticas públicas direcionadas para atender as demandas em saúde dessa população.

Objetivos
analisar as vulnerabilidades no contexto dos imigrantes a partir da percepção dos Agentes Comunitários de Saúde

Metodologia
Participaram da pesquisa 210 Agentes Comunitários de Saúde pertencentes a sete municípios localizados nos estados da região Sul. Os dados foram coletados a partir de um questionário estruturado contendo perguntas sobre as vulnerabilidades presentes no contexto dos imigrantes e do instrumento Primary Care Assessment Tool (PCATOOL) Brasil (2020) versão profissionais da saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unochapecó, sob o protocolo n 5.614.191. Os dados foram analisados no programa Statistical Package for the Social Science (SPSS), a partir de estatística descritiva.

Resultados e discussão
As vulnerabilidades em saúde do eixo social e programático foram as mais evidentes na pesquisa. No eixo social, 52,3% dos ACS informaram que os imigrantes enviam dinheiro aos seus familiares no país de origem, demonstrando dependência econômica da família em relação ao imigrante, o que compromete o sustento do imigrante no país de acolhimento (AGUDELO-SUÁREZ et al., 2020). Sobre o trabalho, 89,0% dos ACS afirmaram que os imigrantes homens trabalham nas agroindústrias e para 75,6% deles as mulheres imigrantes também. Percebe-se que os empregos ocupados pelos imigrantes na região pesquisada são de nível básico, de baixa qualificação profissional, com baixos salários e em condições difíceis (RISSON; DAL MAGRO; LAJUS, 2017). Além disso, 38,6% dos ACS observaram a existência de desemprego e 12,9% de subemprego dentre os imigrantes. Isso indica a necessidade de políticas e ações que possibilitem a integração dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro (JUSTIÇA DO TRABALHO, 2022). Em relação as vulnerabilidades no eixo programático, o acesso aos serviços de saúde foi destaque. Para 81,0% dos ACS as barreiras linguísticas são responsáveis por dificultar o acesso dos imigrantes aos serviços de APS. As barreiras linguísticas comprometem o cuidado em saúde, porque dificultam a comunicação e as compreensões acerca do processo saúde doença entre profissional e usuário (LOSCO; GEMMA, 2021). O acesso aos serviços de saúde deve ser compreendido como a capacidade desse serviço responder as necessidades de saúde da população com base na sua realidade, ajustando os serviços prestados as necessidades da população (BRASIL, 2017). Assim, a pesar dos imigrantes serem atendidos pela APS, o acesso não tem sido efetivo. As barreiras de acesso também foram verificadas a partir da análise dos escores gerais e essenciais da APS avaliados pelo PCATOOL, os quais receberam médias que os classificaram como insatisfatórios. Essa constatação indica dificuldades dos serviços para garantir atenção integral aos imigrantes do ponto de vista biopsicossocial, demonstrando indicadores de saúde frágeis, com menor satisfação dos usuários, maior custo e menor equidade (STARFILD, 2001). Ainda, 93,4% dos ACS informaram que não receberam formação para realizar o trabalho com os imigrantes e 78,5% responderam sentir a necessidade de maior conhecimento para atender aos imigrantes. A frágil formação dos profissionais da saúde na temática da migração e a escassa capacitação para o atendimento, acolhimento e orientação dos imigrantes intensificam as dificuldades de acesso dessa população aos serviços de saúde (MACHADO et al., 2022).

Conclusões/Considerações finais
Verifica-se a existência de vulnerabilidades no contexto dos imigrantes que se relacionam aos eixos social e programático das vulnerabilidades em saúde. O acesso aos serviços de saúde por parte dos imigrantes não tem sido integral. Avalia-se a necessidade de formulação de políticas públicas de saúde especificas para os imigrantes, que colaborem para dirimir as barreiras de acesso aos serviços de saúde. A limitação do estudo se relaciona ao fato de a coleta de dados ter sido realizada exclusivamente com os profissionais da saúde. Sugere-se novas pesquisas que analisem as vulnerabilidades em saúde a partir das percepções dos próprios imigrantes.