Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC23.2 - Migrações e processos de saúde, doença e cuidado II

47083 - SEGURANÇA ALIMENTAR E SAÚDE EM COMUNIDADES PERIFÉRICAS: FORTALECENDO VÍNCULOS DURANTE A ENTREGA DE CESTAS BÁSICAS PARA MIGRANTES DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19.
ERIKA ANDREA BUTIKOFER - UFABC, ALEXANDRA C.GOMES DE ALMEIDA - UNIFESP


Contextualização
Nossa atuação no Coletivo Conviva Diferente em Guaianases teve início em 2016, quando começamos a atuar como professoras no primeiro Curso de Português para Migrantes realizado no Centro Educacional Unificado (CEU) Jambeiro, localizado no extremo leste da cidade de São Paulo. No entanto, devido ao surto de COVID-19 em março de 2020, as aulas presenciais foram suspensas e ficamos incertas sobre quando poderíamos retomar as atividades. Durante esse período, nossos alunos e alunas começaram a nos questionar, por meio do grupo de WhatsApp, sobre o retorno das aulas de português. À medida que as semanas passavam, eles e elas entravam em contato conosco e com outros membros do Coletivo para compartilhar as dificuldades pessoais agravadas pelo isolamento social. Entre as situações relatadas, destacam-se demissões decorrentes da quarentena, problemas no envio e recebimento de remessas financeiras para o exterior, dúvidas sobre a elegibilidade para o auxílio emergencial e a diminuição dos orçamentos familiares. Esses fatores dificultaram o pagamento de aluguel e a compra de alimentos essenciais.

Descrição
Diante desse contexto, nossa equipe agiu prontamente, mobilizando recursos próprios e estabelecendo parcerias para garantir a distribuição de cestas básicas e kits de higiene aos migrantes de Guaianases e região. Conscientes das dificuldades econômicas enfrentadas por muitos de nossos estudantes, seus vizinhos, familiares e demais moradores, que foram agravadas pela perda de empregos e pela falta de suporte governamental adequado, o Coletivo empreendeu uma ação conjunta visando suprir as necessidades básicas de alimentação dessas comunidades vulneráveis. Para isso, adotamos uma abordagem que incluiu a divulgação de suas demandas por meio de uma Carta-Manifesto, que se tornou a base para a criação do abaixo-assinado "Imigrantes e refugiados precisam de ação do poder público!", aumentando a pressão popular sobre a prefeitura de São Paulo.

Período de Realização
As cestas básicas foram distribuídas no período de abril de 2020 a maio de 2022, com o objetivo de garantir a segurança alimentar e fortalecer os laços de apoio entre migrantes, organizações que atuam com essa população no bairro e a sociedade civil que se mobilizou para auxiliar essas pessoas.

Objetivos
Aqui estão alguns objetivos que elencamos para a nossa ação durante a pandemia:
1. Minimizar situações de fome e atender necessidades básicas;
2. Fortalecer comunidades e redes locais;
3. Incluir migrantes de Guaianases e região em programas de entrega de cestas básicas promovidos pela prefeitura.


Resultados
A entrega de cestas básicas como estratégia de segurança alimentar contribuiu para mitigar a carência alimentar e promover a saúde geral dos migrantes em Guaianases. Ao longo de dois anos, o Coletivo se mobilizou e coordenou o cadastro e a entrega mensal dessas cestas para migrantes residentes na região. Cerca de 130 famílias foram beneficiadas com essa ação. Inicialmente, as famílias que já estavam matriculadas no curso de português foram as primeiras a serem incluídas. No entanto, à medida que as medidas de isolamento social se intensificaram, os próprios estudantes passaram a indicar outras famílias que também necessitavam receber as cestas. Com o aumento da demanda, foi dada prioridade às mulheres, mães e/ou chefes de família, assim como às pessoas desempregadas ou que se encontravam sem emprego formal. Dessa forma, questões de gênero, raça e classe social foram consideradas no atendimento à população migrante periférica da cidade de São Paulo. Ao todo, foram entregues 1.247 cestas de alimentos em 2020, aproximadamente 1.300 em 2021 e 350 em 2022.

Aprendizados
Nossa atuação em Guaianases durante a pandemia teve uma incidência política significativa no âmbito local, resultando em mobilização e trabalho em rede. Um total de 25 entidades, incluindo organizações, igrejas, associações de migrantes, movimentos sociais, comunidades indígenas, cátedras e programas de várias universidades, assinaram a nossa Carta-Manifesto, demonstrando apoio e comprometimento com a população migrante periférica da cidade.

Além disso, contamos com parceiros diretos envolvidos na entrega e distribuição das cestas básicas e kits de higiene, como o Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI), Instituto Accordes, Igreja Batista de Guaianases, Igreja Batista Haitiana de Guaianases, Igreja Pentecostal Perfeita Fé em Deus, além de familiares e amigos dos membros do Conviva Diferente. Essa colaboração fortaleceu nossa capacidade de causar um impacto positivo em diversas famílias migrantes de diferentes nacionalidades.

Análise Crítica
Após a pandemia, constatamos que nossa atuação se ampliou para além do propósito original do curso de português, abrangendo também demandas relacionadas ao direito de acesso às políticas públicas e estabelecendo diálogo com os diversos agentes sociais que trabalham com essa população.