03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC24.3 - "Nada sobre mim, sem mim": racismos, territórios e saúde integral |
47875 - ABORDAGENS E PERCEPÇÕES DAS INIQUIDADES EM SAÚDE NA FORMAÇÃO MÉDICA: UMA REVISÃO DE ESCOPO LILIANA SANTOS - ISC/UFBA, ROMÁRIO CORREIA DOS SANTOS - ISC/UFBA, JULIANA LIMA FERREIRA - ISC/UFBA E SMS/SSA, ANA MARÍA RICO - UNIVERSIDAD NACIONAL DE JOSÉ C. PAZ Y UNIVERSIDAD NACIONAL DE TRES DE FEBRERO, ARGENTINA
Apresentação/Introdução Embora o Brasil apresente importantes mudanças nas políticas de formação médica e ampliação de vagas nas universidades, nas duas últimas décadas, com consequente aumento na oferta de médicos no país, principalmente após o ano de 2013 (BRASIL, 2022), esse processo soma-se a uma tendência global da privatização do ensino médico, sobretudo nos países de renda média e baixa (POZ et al., 2022). Essa expansão, associada à financeirização do setor, confere um valor/caráter de mercadoria não apenas ao profissional, mas para o produto do cuidado, à saúde (PAIM, 2022), além de escassa ou inexistente compreensão dos médicos sobre as iniquidades em saúde, geradas por disparidades injustas e evitáveis que condicionam como diversas populações nascem, vivem, adoecem e morrem.
Objetivos Sistematizar a produção científica internacional sobre como as iniquidades em saúde (nos marcadores de raça, etnia, gênero, sexo, classe) são abordadas na formação médica, considerando temas, estratégias e percepções acerca da sua importância no cuidado do processo saúde-doença.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo revisão de escopo, seguindo os pressupostos estruturados do Joana Briggs Institute (JBI) (JBI, 2015), apresentando como características a capacidade de mapear conceitos, teorias, sintetizar evidências e apontar lacunas de uma área do conhecimento (SANTOS et al., 2022).
Realizou-se uma consulta eletrônica entre os dias 10 de março à 13 de maio de 2023, nas seguintes bases de dados e/ou bibliotecas virtuais: PubMed, SciELO; Web of science. Além da consulta a especialistas sobre o tema para indicação de outros estudos a serem ser incluídos na análise. Na estratégia de busca utilizou-se como descritores principais os termos “iniquidades em saúde” e “educação médica”, adaptando-os segundo a necessidade para o inglês e/ou espanhol, conjugando-os, também, com os operadores booleanos AND e OR.
Foram filtrados artigos em língua portuguesa, espanhola ou inglesa, sem delimitação de uma data inicial de publicação, para capturarmos o primeiro estudo publicado sobre o tema dentro da conjuntura histórica, mas com data limite para 31 de dezembro de 2022.
As buscas foram efetuadas por dois pesquisadores independentes norteados pelos critérios de elegibilidade: i) inclusão: estudos que mencionassem como as iniquidades em saúde são abordadas ou percebidas na formação médica. ii) exclusão: estudos duplicados; documentos emitidos pela administração pública; teses; dissertações; revisões; ensaios ou anais de congressos; estudos que embora tratassem de formação médica e iniquidades em saúde, não analisam a iniquidade no processo de cuidado ou saúde-doença, mas outras questões que não aportam nova informação sobre o tema. Os dissensos foram resolvidos por uma terceira pesquisadora.
Resultados e discussão Foram incluídos 27 artigos de doze países de três continentes sendo por ordem decrescente do quantitativo de produções América, Europa e Oceania.
A organização temática demonstra que as produções sobre iniquidades em saúde na formação médica no mundo, em número decrescente, apresentam o seguinte recorte: raça; etnia; iniquidades em geral, mas em populações específicas, como pessoas com deficiência (PCD); iniquidades em geral sem apontar um público específico; gênero; sexo e classe.
As iniquidades em saúde durante a formação médica tem sido elencadas em disciplinas obrigatórias, eletivas, transversais ao curso, em palestras, workshops, tutorias ou ações extracurriculares como simulações clínicas, fórum de discussão, clube do livro, estágio de verão, atuação territorial (GOSTELOW et al., 2018), eletivas; CABRAL et al., 2022), transversais ao curso (CABRAL et al., 2022; (CUNHA et al., 2020).
Todavia, embora os estudos apontem diversas abordagens das iniquidades em saúde ao longo da formação médica, na literatura revisada há contradições na sua operacionalização com escassa contextualização das suas relações com o processo saúde-doença dos indivíduos.
Salienta-se que alguns outros estudos mostram ganhos importantes para a formação de médicos quando as iniquidades, dentro do seus diversos marcadores, são operacionalizados de forma eficiente ao longo do curso, por exemplo na aquisição de habilidades clínicas (PITAMA et al., 2019), desenvolvimento de práticas equitativas em saúde que contextualizam o paciente nos seus modos de vida (NOVAK et al., 2022), reflexão crítica (NOVAK et al., 2022); responsabilização social dos futuros médicos (PITAMA ET et al., 2019); empatia e sensibilidade à história social dos pacientes (BERT et al., 2022).
Conclusões/Considerações finais A literatura revisada aponta para a permanência de desafios para a formação dos profissionais médicos, na medida que as iniquidades em saúde parecem, ainda que presentes ao longo do curso, pouco contextualizadas de uma forma crítica e emancipadora.
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