Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC25.5 - Usuários, gestão do cuidado e vulnerabilidade

47277 - ENTRE A CRISE E A RESISTÊNCIA: O CUIDADO EM SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS (A&J) EM TRÊS REGIÕES DA CIDADE DE SÃO PAULO.
VALÉRIA MONTEIRO MENDES - USP, ISABELLA SILVA DE ALMEIDA - USP, GABRIELA JUNQUEIRA CALAZANS - USP, JAMILE SILVA GUIMARÃES DE JESUS - USP, JOSÉ RICARDO DE CARVALHO MESQUITA AYRES - USP


Apresentação/Introdução
Adolescentes e Jovens (A&J) são afetados no Brasil pelas epidemias de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), HIV/AIDS e sífilis, integrando uma população-chave para o controle de tais agravos. Somou-se sindemicamente, a este contexto, a Covid-19 e o sofrimento psicossocial. Diante desse quadro, está em desenvolvimento um projeto de pesquisa/extensão sobre saúde de A&J de 8 escolas de ensino médio em 3 cidades do estado de São Paulo. Partimos do quadro da Vulnerabilidade e do Cuidado, na perspectiva Multicultural dos Direitos Humanos, para propor o desenvolvimento de atividades integradas de prevenção e promoção da saúde em escolas, de modo articulado a ações em unidades básicas de saúde (UBS) de referência nos territórios escolares abordados.


Objetivos
Compartilhar os resultados preliminares da investigação do Eixo Saúde em UBS de três regiões da cidade de São Paulo (Heliópolis, Campo Limpo e Jardim Ângela), visando identificar facilitadores e obstáculos para a produção do cuidado em saúde voltado a A&J, promovendo integração intersetorial entre escolas e serviços de saúde.


Metodologia
Estudo de intervenção e a avaliação qualitativa de processo que utiliza métodos mistos, tendo como instrumentos a observação densa dos serviços e entrevistas com profissionais de saúde e A&J. A construção e interpretação do material empírico são orientados pela Teoria do Processo de Trabalho em Saúde e pelos eixos qualificadores da integralidade (necessidades; finalidades; articulações; interações).


Resultados e discussão
Das quatro UBS investigadas, apenas uma ainda está na fase de estruturação de ações específicas para A&J e há pouca articulação com escolas de ensino médio, onde estão esses grupos. De modo geral, o cuidado em saúde ofertado para A&J nos serviços compõem a rotina das UBS investigadas, mas restringe-se ao atendimento da demanda espontânea, à pequena participação de A&J interessadas em iniciar a contracepção em grupos de planejamento familiar, sem assegurar abordagem singular às demandas de A&J; e/ou à realização de campanhas/ações individuais por profissionais, com maior afinidade com as questões dos A&J dos serviços. Notamos a ausência de protocolos, orientações técnicas e materiais educativos voltados para o cuidado em saúde de A&J, aspectos que alguns profissionais relatam sentir falta; a deficiência de formação de equipes profissionais responsáveis pelo diagnóstico de situação de saúde e o planejamento/avaliação de atividades de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação voltado para esses grupos; e a pressão das metas exigidas por contratos de gestão e os tempos exíguos das consultas são referidos como importantes obstáculos para a efetivação do cuidado e da articulação entre UBS e escolas. Dentre os facilitadores, observamos que os trabalhadores consideram necessária uma formação para o atendimento de A&J, de acordo com suas especificidades. Assim como, profissionais de diferentes subáreas reconhecem a relevância da articulação entre as UBS e as escolas e com outras instituições que atendem A&J do território. Frequentemente, os ACS são identificados pelos jovens como referências para dúvidas ou informações e por outros profissionais dos serviços como importante ponte com esses grupos no território.


Conclusões/Considerações finais
Embora preliminares, os resultados possibilitam reflexões acerca dos modos de organização do processo de trabalho em saúde que ressoam no cuidado ofertado para A&J. Em que pese os atravessamentos provocados pela pandemia no setor saúde, incluindo a ênfase na atenção hospitalar em detrimento da atenção básica e as mudanças nos serviços para o atendimento de demandas emergentes, percebe-se uma retomada gradual de práticas grupais de promoção da saúde e prevenção de agravos reprimidas no período. Contudo, persistem vários desafios enfrentados pelas equipes nas UBS. No caso do município de São Paulo, há significativas diferenças quanto à disponibilidade dos serviços para colocar em análise o cuidado produzido, considerando os diferentes modos de organizar o trabalho pelas organizações sociais de saúde parceiras da gestão. Nesse contexto, observa-se uma fragilização do cuidado de A&J, ainda que ações tenham sido identificadas. Considerando que a promoção, garantia e sustentabilidade da saúde de A&J, exigem renovação de concepções, compreensão do que favorece a continuidade e a eficácia das ações e avaliação de processo, torna-se fundamental adensar as discussões acerca de arranjos e estratégias a serem viabilizados, a fim de que o cuidado integral de A&J em rede intersetorial possa caber nas práticas cotidianas no contexto da atenção básica.