03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC26.3 - Cuidados, estigma, apagamentos: a necropolítica como projeto de Estado |
47195 - PERCEPÇÃO DE SAÚDE DAS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: ESTUDO TRANSVERSAL EM UM MUNICÍPIO DE MÉDIO PORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO GABRIEL VINÍCIUS REIS DE QUEIROZ - FACULDADE DE MEDICINA DE JUNDIAÍ - FMJ, MARÍLIA JESUS BATISTA DE BRITO MOTA - FACULDADE DE MEDICINA DE JUNDIAÍ - FMJ
Apresentação/Introdução Apresentação/Introdução: A existência dos viventes de rua é um fenômeno secular e representa o reflexo do processo de exclusão econômica e política. A concepção de saúde dos indivíduos está ancorada nas condições reais de existência a partir de eventos subjetivos, simbólicos, culturais e comportamentais. Logo, é relevante conhecer a população em situação de rua e seu entendimento de saúde para as tomadas de decisões respeitarem as particularidades e serem mais assertivas no âmbito da gestão em saúde.
Objetivos Objetivo: Conhecer a percepção das pessoas em situação de rua acerca da saúde, bem como o perfil sociodemográfico desta população em um município do estado de São Paulo.
Metodologia Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo transversal, realizado com pessoas em situação de rua na cidade de Jundiaí, São Paulo, Brasil. Realizou-se a coleta de dados no período de agosto de 2022 a junho de 2023 nos diversos logradouros do município com a equipe do Consultório na Rua (eCR). Os critérios de inclusão foram: ambos os sexos, possuir idade igual ou superior a 18 anos e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Excluiu-se as pessoas em situação de trânsito, pessoas com inabilidade de fala oral e os que não consentiram ou retiraram o consentimento em participar do estudo. Os dados foram obtidos por meio da aplicação de questionário semiestruturado de saúde e vulnerabilidade, constituído de dados sociodemográficos: cor ou raça, sexo, gênero, orientação sexual, profissão, escolaridade, meio de sustento financeiro, benefícios socioassistenciais, tempo em situação de rua, vínculos familiares, motivo de estar em situação de rua, bem como a percepção quanto ao estado de saúde. Utilizou-se a estatística descritiva com o auxílio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0 para análise das variáveis supramencionadas. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Jundiaí sob protocolo nº 4.915.622.
Resultados e discussão Resultados e discussão: Participaram 241 pessoas em situação de rua. A população em situação de rua percebe seu estado de saúde atual como razoável (29%, N=70), seguido de muito ruim (28,2%, N=68) e ruim (23,7%, N=57). Observou-se que após ficar em situação de rua a saúde piorou muito (55,6%, N=134), assim como apenas piorou (22%, N=53) ou manteve-se (18,3%, N=44). A amostra tem como característica a média 39 anos de idade e majoritariamente é composta por pessoas do sexo masculino correspondendo a 85,5% (N=206), com o nível de escolaridade ensino fundamental incompleto (51,4%, N=124), sendo que a maior parcela se autodeclarou parda (50,2%, N=121). Dessa forma, 71,8% (N=173) da amostra são pessoas negras, dada a soma de pretos e pardos conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quanto ao gênero, 80,9% se declararam homem cis (N=195), 13,7% mulher cis (N=33), 4,1% mulher trans (N=10) e 0,8% homem trans (N=2). Em relação a orientação sexual, a maior parte (88%, N=212) se declarou heterossexual. Identificou-se que 94,2% (N=227) relataram possuir alguma profissão e isso representa o sentido de utilidade social durante a trajetória de vida. O trabalho e a dignidade humana estão fortemente embricados para a valorização do indivíduo na conjuntura social, mesmo que a profissão seja realizada na informalidade. Referente ao meio de sustento financeiro, observou-se que a coleta de material reciclável foi mais prevalente (27,8%, N=67), subsequente da inexistência de trabalho (22%, N=53) e a atividade de “mangueia” – Jargão utilizado pela população em situação de rua para pedir esmolas (19,9%, N=48). Considerando os programas sociais de transferência de renda do governo para populações em vulnerabilidade social, 46,1% (N=111) mencionaram receber o atual Bolsa Família. Em contrapartida, 47,7% (N=115) declararam não receber nenhum tipo de benefício socioassistencial, o que demonstra a necessidade de fortalecimento dos serviços da assistência social para a inclusão integral e acompanhamento desta população na base de dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), a fim de garantir o direito aos benefícios e gerar indicadores socioeconômicos que auxiliam no combate à desigualdade social. 45,6% (N=110) da amostra encontra-se em situação de rua por mais de 5 anos e a maioria perdeu o contato e/ou nunca mais se comunicou com os familiares (34,4%, N=83). Sobre o motivo de estar em situação de rua, o uso de substâncias psicoativas foi mais prevalente (35,3%, N=85), acompanhado das tragédias pessoais (19,9%, N=48) e da violência doméstica/conflitos familiares (17,4%, N=42).
Conclusões/Considerações finais Conclusão/Considerações finais: O estudo apontou a percepção negativa de saúde pela população em situação de rua. Foi possível perceber a necessidade do fortalecimento intersetorial para o cuidado integral, além de conhecer as características dos viventes de rua para nortear as estratégias de saúde e possibilitar a efetivação de políticas públicas.
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