03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC26.3 - Cuidados, estigma, apagamentos: a necropolítica como projeto de Estado |
47283 - REFLEXÕES SOBRE O LUTO ENTRE A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA AÇÃO EXTENSIONISTA LUIZA HUGHES BARRETO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA, EMANUELLE RIBEIRO DE OLIVEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA, LEANDRO CRUZ RODRIGUES - CONSULTÓRIO NA RUA - CNAR, PATRÍCIA PAES LANDIM SODRÉ - CONSULTÓRIO NA RUA - CNAR, VÂNIA SAMPAIO ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA
Contextualização O termo “vulnerabilidade” expressa que o estar vulnerável implica susceptibilidade ao ferir-se, não só em nível físico, mas também, psicossocial. Logo, considerar um grupo social como vulnerabilizado é reconhecer que há aspectos que tornam seus integrantes susceptíveis nas dimensões individual, social e programática. A partir de uma análise contextual, nota-se que a População em Situação de Rua (PSR) depara-se com diversas situações de vulnerabilidade, o que inclui vivências marcadas por pobreza extrema, vínculos sociais interrompidos, falta de habitação regular e violação de direitos. Estas situações entrelaçam-se com cotidianas perdas significativas, as quais podem ser vivenciadas como processo de luto pela PSR, com repercussões para a sua condição de saúde e relação com o território.
Descrição A experiência relatada nesse trabalho resulta de uma vivência junto à equipe do Consultório na Rua (CnaR) do Centro Histórico - Pelourinho, em Salvador-BA, a qual foi desenvolvida como atividade prática da Ação Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS) intitulada Redução de Danos, Saúde e Cidadania. A ACCS é um componente curricular onde estudantes e professores da UFBA constroem uma relação com grupos específicos da sociedade com o objetivo de desenvolver ações de extensão, promovendo o intercâmbio, a reelaboração e a produção de conhecimento sobre a realidade com a perspectiva de sua transformação. A vivência no CnaR do Centro Histórico - Pelourinho contou com a participação de duas estudantes dos cursos de Enfermagem e de Psicologia no acompanhamento semanal de um turno de trabalho da equipe no território, com a realização de observação participativa e produção de diários de campo.
Período de Realização A experiência relatada refere-se ao período de agosto a dezembro de 2022.
Objetivos Refletir sobre as vivências de luto entre a população em situação de rua a partir de uma ação extensionista desenvolvida junto à equipe do CnaR do Centro Histórico de Salvador-BA.
Resultados O CnaR Centro Histórico - Pelourinho realiza, quinzenalmente, às quartas-feira, estratégias em Redução de Riscos e Danos (RRD) em um campo que a equipe denomina como “Sindicato”, o qual é formado, em sua maioria, por homens, na faixa etária de 25 a 58 anos, que fazem uso abusivo de álcool. O “Sindicato” era formado por um grupo de sujeitos considerados engajados nas atividades propostas pela equipe e que construíam com esta vínculos satisfatórios. No entanto, durante o período das vivências da ACCS, observou-se uma alteração na sua dinâmica social. O campo estava enfraquecido e o motivo era associado à morte de duas pessoas que integravam aquele território, ocasionando a diminuição da frequência de demais assistidos, a intensificação do uso de substâncias psicoativas (SPA) e, notadamente, aumento de demandas relacionadas a projeto de vida, como, por exemplo, o desejo de sair da rua, o que revelou a percepção destes sujeitos quanto à vulnerabilização ao qual estavam sujeitados.
Aprendizados Pensar em como um campo é capaz de se reconfigurar a partir do que sentem as pessoas assistidas, levanta a reflexão do quanto nós, como sociedade, invisibilizamos além dos corpos, as suas subjetividades. O luto é uma experiência processual, instalado no psíquico dos sujeitos, capaz de oferecer os suportes necessários para a elaboração de perdas. Por ser objetal não é restrito a morte física, sendo também simbólico, pois é significado de forma singular a partir das diferentes vivências de perda e é sentido pela PSR, não só quando se perde um companheiro de rua, mas nos olhares de nojo ou medo, na negação de entrada em um serviço público e na impossibilidade de atender necessidades básicas, como comer e tomar banho, por exemplo.
Análise Crítica A observação participante do cotidiano da equipe do CnaR Centro Histórico - Pelourinho promoveu às extensionistas uma maior visibilidade das pessoas em situação de rua, das suas demandas e necessidades biológicas, sociais e psicoemocionais. De forma específica, foi possível compreender o estado afetivo do luto entre essa população e em como esta condição sensibiliza os sujeitos e os territórios. Essa compreensão é importante para aprimorar o tratamento ofertado pelos serviços e contribuir para a efetividade das Políticas Públicas que contemplam esses sujeitos, a exemplo, da Política Nacional para População em Situação de Rua (PNPSR), da Política Nacional sobre Drogas e da Política de Redução de Danos. Ressalta-se que as ações voltadas para a PSR, em conformidade com os pressupostos da Redução de Danos, precisam ser desenvolvidas para garantir a cidadania e o bem-estar social das pessoas, sendo assim imprescindível levar em consideração as suas histórias de vida, seus sentimentos, necessidades, desejos, contradições, seus afetos e desafetos.
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