03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC29.2 - Produzindo epidemias: epistemologias críticas , risco e racismo em saúde |
45996 - ENTRE A HISTÓRIA NATURAL E A HISTÓRIA SOCIAL DA DOENÇA: O QUE APRENDEMOS COM A EMERGÊNCIA DA MPOX EM 2022 FERNANDA MARIA DA ROCHA - SES-RS/UFRGS, FERNANDA CRESTINA LEITENSKI DELELA - SES-RS/UFRGS
Contextualização Em maio de 2022, uma série de casos de mpox foram registrados em países que nunca haviam reportado casos da doença, como o Brasil. Em julho de 2022, o aumento do número de casos culminou na declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O final da ESPII foi declarado em maio de 2023. Neste período, mais de 80.000 casos da doença foram confirmados em 111 países. Além de lidar com os elementos relacionados aos aspectos biológicos da doença, questões sociais como racismo, homofobia e a necessidade de uso de nomenclaturas éticas para identificar a doença e seu agente etiológico, tiveram de ser enfrentadas.
Descrição Este é um relato sobre a experiência de atuação na vigilância epidemiológica da mpox, no período da declaração de ESPII relacionada ao surto de 2022. As ações de diagnóstico, tratamento e vigilância epidemiológica foram estruturadas com a celeridade que o avanço de uma doença infectocontagiosa exige. As evidências de transmissão sexual da doença entre homens que fazem sexo com homens trouxeram de volta a preocupação vivida no advento da Aids: o temor do (res)surgimento do estigma e do preconceito. Outra preocupação foi o fato de que a mpox já ocorria no Continente Africano, sendo historicamente negligenciada pelas autoridades sanitárias. A doença, anteriormente chamada de “monkeypox”, cuja tradução para a língua portuguesa é “varíola dos macacos”, suscitou questões como racismo e colonialismo nas ciências da saúde.
Período de Realização A experiência descrita foi realizada no período de vigência da declaração de ESPII relacionada ao surto de mpox, de maio de 2022 a julho de 2023.
Objetivos Relatar a experiência de estruturação da vigilância epidemiológica da mpox, no Rio Grande do Sul, em meio à declaração de ESPII relacionada ao surto da doença, entre os anos de 2022 e 2023, considerando questões sociais como racismo e homofobia.
Resultados A estruturação da vigilância epidemiológica da mpox foi pautada em elementos sociais, que não só a história natural da doença, baseada na história clínica, transmissibilidade ou diagnóstico. Reiterou-se a importância do preenchimento, na ficha de notificação dos casos, dos campos de raça/cor e orientação sexual, visando à produção de informações que pudessem retratar um perfil epidemiológico compatível com a realidade. Foram produzidas notas informativas para grupos populacionais específicos, como população privada de liberdade, gestantes e puérperas, comunidade escolar e instituições de longa permanência de idosos (ILPIs), com o objetivo de comunicar sobre o risco e a necessidade de medidas de prevenção e controle nessas populações, evitando a direção única para o risco entre homens que fazem sexo com homens. Desde o início, buscou-se abolir o uso do termo “varíola dos macacos”, utilizando-se “monkeypox”, apesar do estrangeirismo, e, logo após, “mpox”.
Aprendizados Uma Emergência de Saúde Pública exige que o conhecimento sobre ela seja construído praticamente em tempo real. A mpox foi uma ESPII que trouxe demandas para além dos elementos biológicos de uma doença, envolvendo esforços intersetoriais e trabalho interdisciplinar. A comunicação clara e a cooperação entre autoridades de saúde, instituições médicas e comunidades foram essenciais para compartilhar informações, implementar medidas preventivas e garantir a prestação de cuidados adequados aos pacientes. A produção de Documentos técnicos como Comunicados de Risco, Notas Técnicas e recomendações sobre medidas de prevenção e controle foi apoiada sobre a contribuição de diversos setores e instituições atuantes na Emergência. A colaboração interdisciplinar resultou em esforços coordenados, que elevaram a qualidade da resposta à ESPII, considerando, inclusive, os aspectos sociais. Houve estreita interação da vigilância em saúde com os demais pontos da rede de saúde, intensificando a potência da resposta oferecida.
Análise Crítica O trabalho da vigilância epidemiológica não se encerrou com o fim da ESPII. A mpox segue como uma doença de Notificação Compulsória, mesmo com uma redução significativa do número de casos. É um desafio significativo à saúde pública, que necessita de resposta coordenada e proativa. O combate ao estigma e ao preconceito que uma determinada doença possa causar passa pela abordagem da vigilância epidemiológica, pelo modo como as informações em saúde são produzidas e como serão comunicadas ao público. A Vigilância Epidemiológica precisa atuar de forma integrada aos demais atores que apresentam contribuições ao enfrentamento das condições que possam resultar em ameaças à saúde individual e coletiva. O sistema de saúde para responder efetivamente a emergências de saúde pública, precisa envolver a capacitação dos profissionais de saúde, o acesso a recursos diagnósticos e terapêuticos, e a utilização de planos de contingência resolutivos.
|
|