Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC29.3 - Refletindo sobre práticas sanitárias, risco e emancipação

47836 - O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NAS DIMENSÕES PESSOAL E PROFISSIONAL: A PERCEPÇÃO ENTRE GESTORES DE SAÚDE PÚBLICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO
ANDRÉA CARLA REIS ANDRADE - IAM-FIOCRUZ, SYDIA ROSANA DE ARAUJO OLIVEIRA - IAM-FIOCRUZ, ANA LÚCIA RIBEIRO DE VASCONCELOS - IAM-FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
No início de 2020 a Organização Mundial da Saúde declarou o surto do novo coronavírus como pandemia, com rápida disseminação entre todas as regiões do mundo. O aumento de casos e a alta velocidade de disseminação, além do conhecimento científico insuficiente no início, geraram incertezas, trazendo um desafio ainda maior aos gestores dos sistemas de saúde. As incertezas diante do desconhecido e de como a pandemia iria se desenvolver culminou em trabalhadores com alterações de ordem de saúde mental. Dessa forma, torna-se importante compreender a percepção dos gestores sobre os impactos causados pela pandemia de COVID-19 na vida pessoal e profissional.

Objetivos
Descrever a percepção de gestores de saúde pública sobre o impacto da pandemia de COVID-19 nas dimensões pessoal e profissional.

Metodologia
Estudo avaliativo, de abordagem qualitativa com gestores de secretarias de saúde. Participaram gestores da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, secretários de saúde e gestores de Secretarias Municipais de Saúde do estado totalizando dezoito participantes. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas entre abril e outubro de 2020, seguindo o guia de entrevistas elaborado pelos pesquisadores, composto por doze perguntas subdivididas em quatro temáticas. Nesse estudo, abordaremos as respostas obtidas na “Temática 4: O impacto do COVID-19 na vida e sentimentos pessoais do(a) entrevistado(a)”. Após a transcrição, as entrevistas foram avaliadas de acordo com a análise de conteúdo de Bardin (2016). A partir da leitura das transcrições, procedeu-se à marcação de trechos e a classificação das informações. Os resultados foram agrupados em duas dimensões: impactos na dimensão profissional e impactos na dimensão pessoal.

Resultados e discussão
Os achados evidenciaram que a vida pessoal dos gestores foi impactada, no aspecto familiar, pelo medo de infectar as pessoas do convívio, diminuindo assim o contato entre os indivíduos. Sentimentos como angústia e medo também foram citados, principalmente associados ao adoecimento de algum indivíduo próximo ou ao próprio adoecimento. O fato dos familiares estarem “saudáveis” foi relatado como importante estimulo para o equilíbrio emocional. Foram relatadas alterações nos hábitos e na rotina, como diminuição de atividade física, aumento da ingestão de bebidas alcóolicas e diminuição dos estudos. Na dinâmica familiar, também foram relatadas mudanças como a permanência em quartos separados dentro da mesma residência, mudanças para outro domicílio e a diminuição das demonstrações de afeto (como abraços, beijos), que impactaram significativamente no emocional dos entrevistados. Foi citado que, devido ao aumento da carga de trabalho, aspectos da vida pessoal foram negligenciados. A espiritualidade e a estabilidade emocional foram citadas como importantes diante do cenário vivido naquele momento. Na dimensão profissional foram relatadas mudanças na rotina e dinâmica de trabalho, como aumento da carga horária, gerando um desgaste físico e emocional. Sentimentos como cansaço, estresse, medo, ansiedade, angústia (principalmente ao lidar com colegas de trabalho adoecidos) foram mencionados. Apesar disso, foi evidenciado a importância de acalmar, tranquilizar, ter paciência e empatia com a equipe de trabalho. As relações de trabalho, o trabalho em equipe, além da solidariedade e cooperação coletiva foi bastante citada. A pandemia de COVID-19 alterou todo o cotidiano e dinâmica de vida da sociedade. As dinâmicas familiares, bem como as relações de trabalho, ensino e lazer foram modificadas. As medidas de segurança rígidas, como o isolamento social e o aumento da demanda de trabalho e responsabilidade resultam em pressão física e mental aos trabalhadores, acarretando sintomas como ansiedade, estresse, cansaço e medo. Por estarem expostos a contaminação e a possibilidade de infectar os familiares e pessoas do convívio, os profissionais de saúde e gestores sentem-se ainda mais ansiosos e receosos. Pesquisas demonstraram que houve uma maior prevalência de sintomas relacionados a distúrbios como ansiedade e depressão em profissionais de saúde na pandemia. É importante o estímulo a ambientes de trabalho mais humanizados e acolhedores.

Conclusões/Considerações finais
É evidente que as repercussões trazidas pela pandemia de COVID-19 se estenderam não apenas as questões fisiopatológicas da doença, mas perpassaram também questões relacionadas a dinâmica de funcionamento da sociedade. Os gestores da área da saúde apresentaram, além dos fatores estressores comuns a sociedade naquele momento, outros em decorrência da sua atuação de trabalho: medo de infectar pessoas do convívio e de se infectar, sobrecarga de trabalho, mudanças na dinâmica e no processo de trabalho entre outros. É imprescindível que sejam construídas políticas públicas que visem lidar com os aspectos relacionados a saúde mental dos trabalhadores e gestores decorrentes da pandemia.