03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC30.2 - Arte, produção de saúde e vida |
46144 - DA QUIETUDE À VIBRAÇÃO: BLOCO IMPÉRIO COLONIAL, UMA EXPERIÊNCIA DO AFETO. JOSÉ ARTUR RIBEIRO TORRES - UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Contextualização O presente relato foi desenvolvido a partir de experiências vivenciadas no Polo Experimental de Convivência, Educação e Cultura, centro de convivência do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea - MBRAc, que está localizado no território da Colônia Juliano Moreira, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Dentre as atividades, oficinas e ações educativo culturais desenvolvidas neste espaço destaca-se a atuação do Bloco Império Colonial.
Descrição O Bloco foi criado no ano de 2011 por usuários da rede de saúde mental e atualmente funciona em parceria com o MBRAc, tendo na composição de sua bateria moradores da comunidade, ex-usuários internos e asilados de abrigos localizados no território, sendo estes em sua maioria. O Bloco é um misto de força e movimento, uma coletividade que funciona em vibração, conseguindo a partir de distintas abordagens agregar os diferentes atores sociais do bairro e assim estimular a perpetuação da história a qual percorre.
Período de Realização O trabalho apresenta-se como relato de experiência da atuação como articulador territorial, no período entre agosto de 2022 e fevereiro de 2023, intervalo de preparação para o desfile do Bloco Império Colonial. As informações foram elaboradas a partir da participação nas assembleias prévias, nas reuniões de equipe e nos encontros com as diferentes instituições parceiras as quais contribuíram para o processo.
Objetivos Os objetivos do trabalho são: apresentar o potencial unificador, os benefícios para a autonomia dos participantes, a articulação feita no território e os desafios a serem transpassados para a perpetuação das atividades do bloco.
Resultados Diante do trabalho desenvolvido no Polo Experimental, a convivência apresentou-se como ferramenta que, de acordo com León-Cedeño et al. (2017) tem favorecido a vivência de novas experiências, formas de expressão e encontros, possibilitando elos entre usuários nos vários espaços sociais e culturais, numa visão ampliada em práticas de saúde. A partir da experiência adquirida nos cursos formativos que participei ao longo de 2022, fui apresentado às referências e às atividades que puderam me conceituar e preparar para estar com o grupo do Bloco, atuando de forma colaborativa com os profissionais envolvidos, bem como na articulação interna de produção e planejamento no projeto de desfile para o ano de 2023. Desde o início pude também me envolver como ritmista nos ensaios do Bloco, e somente diante de análise holística posterior compreendi que esse foi o passo inicial para que a experiência vivenciada fosse tão potente. Frente a isso se criou um vínculo de confiança entre os diversos atores envolvidos, possível apenas por conta dessa imersão realizada, que segundo AMORIM e SEVERO (2019) na ligação entre os diferentes com vistas à transformação surge a tônica da reinserção social. Na participação se constrói a liga da convivência, na presença se fortalece o laço e na escuta ativa, se cativa o afeto. Comecei junto ao mestre de bateria, oficineiro de música e a assistente de saúde a organização e o retorno das assembleias do Bloco, ferramenta norteadora na tomada das decisões e andamentos para o desfile. Essa prática mostrou-se vigorosa, a assembleia deu voz ao Bloco, levando corpo e organização a uma força coletiva, ponto focal do protagonismo do usuário da rede de saúde mental. Esse protagonismo só pode ser vivenciado na constituição de espaços em que há liberdade para os usuários pensarem, sentirem, decidirem e agirem sobre suas vidas singulares, tendo suporte do coletivo ao qual compõe e os compõem subjetivamente (COSTA e PAULO, 2015 apud BOSSATO et al., 2021). Desses encontros surgiu a possibilidade de visualizar e realizar um cronograma de ações, que contava com ensaios regulares, ensaios de canto e montagem de repertório, ensaios abertos e participação em eventos, além da reativação do encontro de compositores e o retorno dessas atividades de forma regular ao calendário do centro de convivência.
Aprendizados O Bloco apresenta-se como grupo e atividade de potencial unificador para o centro de convivência. Durante o período analisado, ficou evidenciado que suas assembleias e ensaios contam com a adesão massiva dos participantes, sendo perceptível a melhoria contínua na interação social e sonora, na mobilidade, na atenção e na memória dos integrantes. A partir de metodologias participativas, em todos os encontros incentivou-se a autonomia, a autoconfiança e a emancipação para seguir com o processo criativo e de aprendizagem, buscando de forma crescente a atuação conjunta para melhoria dos resultados de diversos parceiros do território e de territórios vizinhos, tanto no campo cultural, social e psicossocial.
Análise Crítica Salienta-se a necessidade de manter a regularidade das assembleias e a construção conjunta de um cronograma de ações para prosseguir com a autonomia dos integrantes do Bloco. Cada movimento vem sendo construído e desenvolvido em parceria com os participantes, ação presente que gera felicidade, aproximação e pertencimento. Assim, potencializa a importância de uma articulação integrada, da comunicação interna e externa e da aproximação de todos os envolvidos.
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