Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC30.2 - Arte, produção de saúde e vida

47290 - ARTE COMO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA PRISIONAL NA IMPLEMENTAÇÃO EM CURSO DO PNAISP - RJ
MARCOS VINICIOS FIALHO DOS SANTOS DE SOUZA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, ANDREA SOARES VIANA DA COSTA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, BIANCA GHIRLINZONI DOS SANTOS - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, CAMILA SOARES RIBEIRO - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, FABIO FERNANDES DE ARAÚJO - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, MARCOS VINÍCIUS ROCHA FERNANDES - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, RAQUEL DE MORAES BARBOSA CAPRIO - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO


Contextualização
A privação da liberdade pode provocar diversos danos à saúde em geral, sendo necessária uma atuação para a promoção e prevenção de saúde. Entretanto, nem todas as unidades prisionais oferecem esses serviços aos custodiados, que muitas vezes já vêm de uma situação de vulnerabilidade social.

Descrição
Trata-se de um relato de experiência vivenciada como psicólogo na Cadeia Pública José Antônio da Costa Barros, onde foi elaborado um programa multidisciplinar de cuidado em saúde com o objetivo de utilizar a arte como um recurso terapêutico para a elaboração do processo de encarceramento e a redução do sofrimento. A unidade possui população masculina e LGBTQIA+, em sua maioria, pretos e jovens. Muitos deles possuem diagnósticos clínicos e/ou psiquiátricos, o que exige cuidados constantes que nem sempre ocorrem, seja por negligência ou por preconceitos advindos de estereótipos do contexto de institucionalização. Os custodiados possuem diversas queixas, como a dificuldade de socialização, de relacionamento e adaptação à condição de confinamento, além de lidar com o luto e a insônia, que provocam o comprometimento da saúde mental e podem impactar na qualidade de vida desses sujeitos. Após mapear o território identificando suas potencialidades e fragilidades, foram traçadas as estratégias de cuidado para atender às necessidades dos custodiados, onde foram criados grupos terapêuticos, que acontecem de segunda a quinta-feira nos turnos da manhã e tarde, com a duração de 90 minutos, tendo de oito a quinze encontros.

Período de Realização
Este é um projeto contínuo que ocorre há cerca de sete meses em que datas importantes são adotadas como temáticas para as atividades realizadas, como o Dezembro Vermelho, que é o mês de prevenção e conscientização do HIV e de outras ISTs, a Ação Janeiro Branco, dando sequência na atividade de prevenção e promoção de saúde mental e o “Arraiá da Saúde” em julho.

Objetivos
Oferecer oficinas terapêuticas de arteterapia, ações de educação em saúde, saraus, atividades psicomotoras e oficinas manuais, a fim de promover a ressignificação de questões acerca do tempo de reclusão e as consequências dessa condição, como a distância da família, a marginalização social e a adaptação a uma nova condição de vida.

Resultados
Ao final dos grupos, os custodiados apresentam melhora na saúde mental e adesão a tratamentos de doenças e uso de preservativos.
Em maio, foram apresentados os trabalhos executados nas oficinas terapêuticas que denominamos de SARAU. Onde tivemos a exposição de: pinturas e gravuras, artesanato, poesia, músicas e dança, todas essas atividades realizadas pelos custodiados. Deste modo, a psicologia em conjunto com a equipe multidisciplinar, vem construindo um espaço subjetivo, livre e acolhedor, que tem gerado mudanças significativas. O projeto terapêutico arteterapia, tem contribuído para o fortalecimento de vínculos entre os usuários, melhora da relação interpessoal, estabilização das crises e surtos, melhor adesão ao tratamento, redução de psicotrópicos, redução das queixas de ansiedade, insônia, irritabilidade, agressividade e sintomatologia depressiva, além disso, o projeto possibilita ao usuário, perceber uma possibilidade ressocializadora, devolvendo assim, a esperança e sonho de um reingresso social possível. Essas ações têm provocado uma diminuição considerável dos encaminhamentos dos casos mais graves para as UPAs e para o Hospital de Custódia Roberto de Medeiros. Isso destaca a importância de um olhar atento e humanizado às subjetividades e necessidades de pessoas em situação de reclusão. O acolhimento da equipe da saúde, o desenvolvimento de uma rede de apoio e o fortalecimento dos vínculos vêm promovendo uma ressignificação do período de reclusão e, consequentemente, uma redução das queixas. Isso fomenta o autocuidado e protagonismo desses indivíduos, uma vez que se sentem mais fortalecidos no território no qual estão inseridos, ainda que privados da liberdade.


Aprendizados
Essa ressignificação do tempo de encarceramento, bem como a promoção do protagonismo pode, inclusive, preparar esses indivíduos para a adaptação à vida pós-reclusão, que pode ser diferente da anterior em diversos sentidos.

Análise Crítica
Assim, com o avanço do trabalho realizado, é perceptível uma quebra de paradigma, otimizando o relacionamento de trabalho com os custodiados e os servidores e mostrando ser possível a promoção de saúde de qualidade também no sistema prisional.