Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC30.2 - Arte, produção de saúde e vida

47535 - ARTENOGRAFIA E PRÁTICAS PERFORMATIVAS EM COMUNIDADES DO BAIXO SUL DA BAHIA ATRAVÉS DO PROJETO ECLIPSE
SAULO SILVA MOREIRA - UFBA, TAINÁ AZEVEDO DE ALMEIDA - UFBA, RAIÇA BOMFIM DE CARVALHO - UFBA, LARA BECK - UFBA, JÚLIA MOTA DE BRITO - UFBA, LENY ALVES BOMFIM TRAD


Apresentação/Introdução
Quando o ECLIPSE* – projeto multidisciplinar composto por profissionais das áreas da Antropologia, Sociologia, Artes, Enfermagem, Psicologia e Medicina – começou, já havia uma certeza: a arte produz saúde. Ao lado dessa certeza, os pesquisadores/artistas/etnógrafos foram experienciando um duplo movimento: a prática etnográfica interpelava uma prática artística na mesma medida que prática artística se avizinhava como prática etnográfica. A nossa experiência nos levou a formular algumas notas iniciais sobre o que temos chamado, contigencialmente, de artenografia. A palavra artenografia sugere, a princípio, uma ligação entre as palavras etnografia e arte, mas não se trata apenas de uma justaposição dos dois significantes. Queremos fazer um investimento epistemológico e afetivo que complexifique os modus operandi dos dois campos de atuação. Alguns pontos são fundamentais para entender a artenografia como um gesto performativo:
1. Não queremos tratar a artenografia como algo acabado. Pelo contrário: queremos abrir possibilidades para pesquisas futuras. É por isso que preferimos escrever algumas anotações. Elas são aberturas para um dialogo com outros jeitos de fazer pesquisa.
2. Não gostaríamos de pensar em artenografia como mais uma noção para aumentar o glossário acadêmico. Queremos pensar a artenografia como um gesto que toma forma à medida que é feito.
3. A prática da amizade é muito importante para pensar artenografia. A amizade é entendida como uma "forma de subjetivação coletiva" e uma "forma de vida" que nos permite promover tanto as necessidades individuais quanto as metas coletivas. A amizade é um convite, um chamado para experimentar formas de vida e comunidade.
4. É importante dizer que a artenografia expande a prática artística e também expande a prática etnográfica. Na prática artenográfica, a arte não perde sua especificidade e nem a etnografia perde sua especificidade, mas ambas se expandem, se avolumam. Ou seja, é como se estivéssemos querendo criar uma terceira linguagem ou uma terceira margem.
5. Também há uma expansão da saúde. Esse quinto ponto é muito importante. Nós temos defendido que os encontros produzem vidas mais saudáveis, produzem afetos alegres que aumentam nossa vontade de vida.
6. Não pensamos na arte como uma produção estética, mas como uma ética de vida. Perguntamos o seguinte: é possível pensar a vida como uma obra de arte? Nesse sentido, por exemplo, não existe um valor estético melhor ou pior entre uma mulher que planta e uma mulher que dança. O que existe é uma produção política e ética nas produções artísticas e cotidianas. Não queremos pensar o ético fora do estético e nem o estético fora de uma ética. Tudo acontece ao mesmo tempo e tudo acontece no cotidiano.
7. A artenografia não tem uma vontade de ineditismo ou originalidade. A artenografia é mais uma travessia do que um ponto de partida ou um ponto de chegada.
8. Nós falamos no ponto 3 que a artenografia é um gesto que pode fazer movimentar a imaginação das comunidades. Talvez isso se conecte com um dos traços da prática decolonial – quando movimentamos a imaginação, movimentamos corpos, movimentamos perspectivas subalternizantes e mudamos a chave de estigmas. Aparecem outros jeitos de pensar a comunidade.
*O ECLIPSE pretende agenciar modos de superação dos desafios biopsicossociais associados à leishmaniose nos contextos locais de quatro distritos do Baixo Sul da Bahia: Orobó (distrito do município de Valença); Alto alegre e São Paulinho (distritos do município de Teolândia); Corte de Pedra (distrito do município Presidente Tancredo Neves).


Objetivos
• Ampliar e atualizar, numa perspectiva contemporânea, uma epistemologia sobre Arte e Etnografia.
• Compartilhar a experiência performativa, artística e etnográfica no Projeto ECLIPSE.
• Compartilhar as produções artísticas nos territórios de pesquisa do ECLIPSE.


Metodologia
Nossa investigação se dá na própria prática artística. Fazemos o que alguns intelectuais artistas têm nomeado como pesquisa-criação ou prática como pesquisa ou pesquisa performativa. Ao invés de produzirmos conhecimento apenas a partir das experiências com as comunidades e de uma epistemologia, performatizamos uma relação do mundo fundada na presença. Pesquisamos em trânsitos afetivos, artísticos e intelectuais, acordando as forças mágicas – macumbas, pajelanças, curandeirias, conexões carinhosas entre visíveis e invisíveis – como alguém que passeia entre seres amigos.

Resultados e discussão
Durante o projeto ECLIPSE, foram realizadas a produção dos filmes “Orobó e o cinema delas” e “O tempo das coisas” além do livro Historia de uma terra da pedra cortada.

Conclusões/Considerações finais

A pesquisa artenográfica quer se apresentar, nessa possível conclusão, como travessia feita na fresta arte-etnografia que vagalumeia nos planos de afecção de comunidades que forjam paisagens artísticas e caminhos etnográficos como dispositivos contra-hegemônicos para rasura narrativas pautadas em estigmas subalternizantes.