Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC30.2 - Arte, produção de saúde e vida

48064 - A IMPROVISAÇÃO COMO ELEMENTO PSICODINÂMICO NA PRODUÇÃO DE SAÚDE COLETIVA: A EXPERIÊNCIA EM UM CENTRO DE CONVIVÊNCIA E CULTURA
CHARLES ROOSEVELT ALMEIDA VASCONCELOS - PROFISSIONAL AUTÔNOMO, NATÁLIA CAMPOS DA SILVA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE NATAL, ROXANE MANGUEIRA SALES - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE NATAL, LANNUZYA VERÍSSIMO E OLIVEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


Contextualização
No contexto nacional, a garantia legal do direito ao cuidado em liberdade é conquista recente e coletiva do movimento de Reforma Psiquiátrica Brasileira (RPB) a partir de meados dos anos 1980. Tal movimento propôs a substituição do modelo manicomial por uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial e de base comunitária, cujo texto foi aprovado e sancionado como Lei nº 10.216/2001, com repercussões no fechamento de hospitais psiquiátricos e na construção da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
Como forma de contribuir na construção de uma sociedade pautada na cidadania, na liberdade, no respeito às diferenças e que acredite na potência de vida de cada sujeito, orienta-se o acesso a arte e cultura nos contextos do cuidado em saúde mental. Neste cenário, destaca-se os Centros de Convivência e Cultura (CECCO), os quais oferecem espaços de sociabilidade, produção cultural e intervenção na cidade, pensados para circulação e promoção de encontros entre os usuários da saúde mental e a população/comunidade geral.
Embora os CECCOS tenham emergido como dispositivo de uma rede articulada de atenção à saúde mental, utilizam estratégias de ações diferentes dos demais equipamentos de saúde, tendo como foco a produção de encontros e convivência por meio de oficinas, grupos e ações comunitárias, alinhado com a ideia de promoção da saúde.
Nesse cenário, destaca-se o CECCO do município de Natal, Rio Grande do Norte, inaugurado em agosto de 2017, o qual tem desenvolvido distintas oficinas com foco na ocupação da cidade, promoção a saúde mental e incentivo a economia solidária. Dentre estas iniciativas, destaca-se a oficina de teatro intitulada “Grupo Tons da Vida”.


Descrição
Segundo Freud, a raiz teórica da psicodinâmica dá-se pelo princípio da livre associação de ideias que descortina os atos inconscientes. Posteriormente Jung sugeriu a existência de ideias-palavras que estimulavam grande afeto nos pacientes, a saber: complexos afetivos, abarcando formas diversas, como símbolos, imagens e mitos. Por sua vez, no cenário brasileiro, Nise da Silveira, eleva o conceito de livre associação em seu trabalho no Hospital Pedro II. Através de um consistente trabalho de produção de pinturas juntos aos esquizofrênicos crônicos internos na instituição, acompanhou-os em ato a produção criativa, inspirada nas ideias de Espinosa.
É mister destacar também, que a experiência vivenciada no CECCO de Natal, inspira-se também na práxis de Vitor Pordeus, que aplica este método de livre associação às imagens corporais e personagens que surgem na improvisação teatral, bem como na Cenopoesia (movimento de educação popular nordestino) e ainda nos ensinamento de Paulo Freire.
Acrescente-se que a realização da oficina, dá-se através das seguintes etapas: I- Aquecimento através de jogos teatrais e /ou músicas para ativar a memória, concentração, integração do coletivo, etc; II- Cenopoesia com construção coletiva do roteiro e contação da histórias; e III- Roda de conversa para identificação das impressões, aprendizados e sentimentos evocados pelo encontro.


Período de Realização
Tais oficinas, têm sido realizadas há cinco anos, acontecem uma vez por semana, com duração média de três horas, participação livre de todos os que estiverem no CECCO (profissionais, usuários do serviço/ convivas, estagiários e voluntários) . Desde maio de 2022 organizadas a partir dos pressupostos teóricos-metodológicos da psicodinâmica. Realça-se que neste estudo o termo usuário será substituído por convivas, marcando assim uma tentativa de deslocamento na relação deles com o Centro e com os trabalhadores da equipe.

Objetivos
Objetiva-se relatar a experiência desta oficina quanto ao uso da improvisação como elemento psicodinâmico na produção de saúde coletiva.

Resultados
Nestes fundamentos construímos nossos ensaios teatrais: livre associação dos atos, o afeto catalisador, a desespecialização do ator e o improviso coletivo. Apesar da experiência estar em curso, identifica-se a potência desta ferramenta na melhoria das relações interpessoais, na resolução de conflitos, no gerenciamento dos afetos e crises, na ampliação das estratégias de comunicação e de autonomia dos sujeitos. Esta experiência contou com a formação de redes de aliança e amizades participativas e consistentes, um dos objetivos maiores do CECCO.

Aprendizados
Tivemos como aprendizado auto-analisados: a melhora da expressividade, performance vocal e sensibilidade na relação com o outro(O jogo teatral). Como desafios percebemos certo estranhamento do grupo à inexistência de personagens fechados em um ator, bem como a falta de um roteiro estruturado proposto, reflexo de um entendimento clássico do fazer teatral. No entanto, o grupo logo se acostumou e cada ensaio, apesar de diferente um do outro, começou a ganhar sua própria estrutura popular e coletiva.

Análise Crítica
Destarte, acredita-se que a experiência em tela é uma ferramenta potente no âmbito da atenção psicossocial, com repercussões éticas, técnicas e estéticas para todos os atores envolvidos.