46869 - ACALENTO: GRUPO DE ACOLHIMENTO DE ANTÔNIO PEREIRA, OURO PRETO, MINAS GERAIS.
ANA CAROLINA APARECIDA DE SOUZA RAMOS - UFOP, CAIO FELIPE SILVA GOMES - UFOP, MARLENE REIS - UBS DE ANTÔNIO PEREIRA / UFOP, AISLLAN DIEGO DE ASSIS - UFOP
Contextualização
O distrito histórico de Antônio Pereira, localizado em Ouro Preto, estado de Minas Gerais, abriga uma população estimada de 5200 habitantes. Todavia, ressalta-se a imprecisão desses dados, devido à natureza predominantemente mineradora do distrito, o que resulta em uma população flutuante que se junta aos residentes, formando a comunidade tradicional. Nesse sentido, nota-se uma área onde indivíduos, muitas vezes, são socialmente invisíveis e enfrentam vulnerabilidades. Em diversos contextos sociais, eles compartilham características individuais, coletivas e fatores territoriais que os colocam em maior risco de adoecimento e ausência de proteção social e, constantemente, possuem recursos limitados ou até inexistentes, o que dificulta usufruir plenamente de seus direitos como cidadãos e, ainda mais, como seres humanos. Assim, nasce o programa de extensão e pesquisa ‘’De mãos dadas com Antônio Pereira’’, que além de ofertar ações extensionistas voltadas para o acolhimento e empoderamento da comunidade do distrito, conta com projetos de pesquisa sobre a situação e necessidades de saúde da comunidade do distrito.
Descrição
O ACALENTO faz parte de um programa de extensão na comunidade de Antônio Pereira que promove grupos de acolhimento, dispondo um espaço seguro para que os participantes expressem seus sofrimentos e medos. É coordenado pelo professor da área de saúde mental e coletiva da Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto, pela psicóloga da Unidade Básica de Saúde (UBS) do distrito e por dois estudantes do curso de medicina da UFOP. O grupo começou em fevereiro de 2022, com treinamento de profissionais de saúde e membros da comunidade. Os encontros ocorrem semanalmente às terças, 13:30 na UBS de Antônio Pereira.
Período de Realização
24/01/2023 à 20/12/2023.
Objetivos
Propósito geral: criar um espaço para ouvir, acolher e aprofundar demandas de saúde mental na unidade básica de saúde da família em Antônio Pereira - MG. Objetivos específicos:
a) Realizar encontros semanais de acolhimento para profissionais de saúde, membros da comunidade e visitantes.
b) Reestruturar o atendimento de saúde mental na unidade de saúde em Antônio Pereira.
c) Reorientar o processo de trabalho da equipe de saúde em Antônio Pereira, adotando práticas grupais de atendimento.
d) Aprimorar o vínculo do serviço com a comunidade, unindo os princípios da humanização e cuidado na saúde.
e) Criar um mapa de referências para o cuidado em saúde mental em Antônio Pereira.
Resultados
O grupo de acolhimento do distrito de Antônio Pereira realizou 20 encontros dentro do período de 24/01/2023 à 13/06/2023, totalizando 39 horas e 45 minutos nos 4 meses analisados, já que as sessões de acolhimento têm duração média de 1 hora e 59 minutos. Ademais, até a data 20/12/2023 irá completar 47 encontros.
Os registros documentais das sessões demonstram que um total de 83 pessoas passaram pelo grupo de acolhimento, sendo que 37 delas participaram de três ou mais encontros; 11 participaram de dois encontros e 35 participaram de um encontro. O número médio de participantes por sessão foi de 15,3 e destaca-se a disparidade de gênero dentro desse valor, uma vez que o número médio de mulheres por sessão foi 12,1 - idade média de 42,35 anos; já a média de homens por sessão foi 3,3 - com idade média de 35,4 anos.
Aprendizados
A princípio, a importância do processo grupal é evidenciar sentimentos que afligem o inconsciente de cada um, assim como a coragem necessária para enfrentá-los, seja com palavras, choro ou manifestações artísticas. A relevância está ligada à sensação de pertencer ao espaço seguro construído - fator declarado pelos próprios integrantes - pois ao escutar relatos dos outros, cria-se a força para falar e a sabedoria para entender suas próprias emoções.
O sofrimento pelo processo de adoecimento e morte é um dos temas mais presentes na roda. Nesse sentido, a religião é mencionada como uma forma de superação, mas também surgem declarações de ideações suicidas como maneira de acabar com o sofrimento. Essas declarações são preocupantes, pois há aumento de tentativas de suicídio e depressão relatadas pela comunidade.
Análise Crítica
O processo grupal envolve a participação da comunidade e representantes de várias instituições do distrito. Diante disso, durante a roda, os participantes são convidados a se apresentar e compartilhar seus sentimentos. Os principais tópicos abordados são: fases do luto, sobrecarga feminina, rotinas exaustivas, solidão, preocupações financeiras e ideações suicidas.
Logo, a roda é formada principalmente por mulheres, que são filhas e, muitas vezes, também são esposas, mães e avós, que carregam com si o cansaço da jornada dupla de trabalho, o sofrimento pela solidão e desamparo familiar, a exaustão de assumir deveres que lhe foram designadas, mas nunca questionadas. E frente a isso, a omissão masculina, abandonando-as quando buscam apoio. Assim, o grupo demonstra sua relevância, apoiando a saúde mental da comunidade afetada e dos profissionais de saúde da família.
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