Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC31.3 - Pesquisas e experiências em saúde e direitos humanos das e com as comunidades atingidas

47497 - DESASTRESRIO: BANCO DE DADOS DE DESASTRES HIDROLÓGICOS POR NOTÍCIAS DE JORNAIS, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 1960-2019.
JULIANA VALENTIM CHAIBLICH - EPSJV/FIOCRUZ, CARLOS MACHADO DE FREITAS - ENSP/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Os desastres de origem natural vêm sendo um grande desafio para as sociedades no mundo. Ações de gestão de risco também são discutidas com o propósito de prevenir e reduzir riscos, preparar respostas, responder e reabilitar após situações de desastres e, por fim, recuperar e reconstruir. O município do Rio de Janeiro possui alta suscetibilidade para ocorrências de eventos hidrológicos causados por chuvas fortes (inundações, enchentes, deslizamentos e enxurradas), resultando em desastres catastróficos conforme a ocupação do território. O desenvolvimento de capacidades para gestão do risco de desastres é uma das funções essenciais de saúde pública. Os bancos de dados possuem relevância nesse processo de gestão de risco de desastre, de modo a auxiliar na tomada de decisão; contudo, muitos bancos ainda são limitados em sua alimentação de dados, especialmente em escala local, porém os bancos oficiais atualmente possuem uma fragilidade em seus dados

Objetivos
Construir um banco de dados histórico de desastres hidrológicos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro com base em notícias de jornais, entre os anos de 1960 a 2019.

Metodologia
Foram criados alguns critérios com o objetivo de selecionar os jornais locais que seriam utilizados na construção da base. O jornal O Globo foi o único que se enquadrou nos critérios constituídos. O acervo do jornal foi de fácil manipulação, mas com limitações em relação aos filtros de busca. Foram feitas duas etapas de leitura, a primeira para extração da informação de desastres ocorridos no município (total de exemplares 31.488) e a segunda leitura de forma mais critério desta primeira extração, onde foram extraídos um número de 936 com as matérias que foram utilizadas para a construção do banco de dados de desastres. A unidade de análise foi o município do Rio de Janeiro e por bairro do Rio de Janeiro. Qualquer caso de desastre hidrológico encontrado nas notícias do jornal, como enchente, inundação, alagamento e deslizamento de terra, sendo suficiente para ser divulgado pela imprensa, foi armazenado no banco de dados da pesquisa, nomeada de DesastresRio, independentemente da quantidade de óbitos, feridos, pessoas desabrigadas, desalojadas, número de pessoas afetadas e outros impactos sociais e ambientais. Assim, considerou-se que todos os eventos de desastres são relevantes para a pesquisa. A manipulação dos dados foi realizada em planilhas no formato Excel.

Resultados e discussão
Foram identificados entre 1960 a 2019 o total de 249 ocorrências de eventos por desastres. Destas, 101 foram por enchentes, inundações e alagamentos, 18 por deslizamentos de terra; e 130 ocorrências de chuvas fortes ocasionaram os dois tipos de categoria de desastres na cidade. A quantidade desses casos de desastres hidrológicos por chuvas fortes pode acometer a cidade do Rio de Janeiro, acarretando casos de desastres em variados bairros. Dos 249 eventos hidrológicos, 6.872 desencadearam casos de desastres ocorridos nos bairros do município no decorrer dessas seis décadas. Deve-se considerar também que os eventos hidrológicos nem sempre impactam todos os lugares (bairros) da mesma forma. Sendo assim, pode acontecer de um determinado evento hidrológico impactar poucos bairros. A relação dos desastres com a ocupação espacial, conforme a cidade se expande e os bairros vão sendo habitados à medida que a população cresce, os casos de desastres tendem a aumentar.

Conclusões/Considerações finais
O banco de dados Internacional sobre Desastres (EM-DAT) notificou 13 desastres hidrológicos ocorridos no município do Rio de Janeiro, entre as décadas de 1960 e 2010. No entanto, os dados sobre seus impactos estavam agrupados por vários outros municípios que foram atingidos concomitantemente, impossibilitando análise pelo município. Os dados do S2ID (da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil), são disponibilizados por decretados como calamidades públicas, houve somente 1 (uma) notificação em sua base, por causa de deslizamento em 2010. Nos arquivos digitais disponibilizados na plataforma, foram identificadas 20 ocorrências de desastres por deslizamentos, enxurradas e enchentes, desde a década de 1960. Os dados referentes aos impactos sociais não estavam disponibilizados na plataforma do S2ID. A pesquisa apontou a relevância dos bancos de dados de desastres, pois é uma boa ferramenta para subsidiar indicadores, análises e controle, a fim de oferecer melhor qualidade e visibilidade das informações, contribuindo para o processo de gestão de risco. Concluiu-se que a construção de banco com dados de fontes alternativas, como as notícias de jornais, pode oferecer uma ampliação e melhor qualificação dos dados de desastres, e que permite complementar os dados de bases oficiais.