03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC32.4 - Saúde mental, ciências sociais e psicanálise |
47089 - FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE E INTERSECCIONALIDADES: DO DESMENTIDO INSTITUCIONAL AO TESTEMUNHO FERENCZIANO MARIA CECÍLIA DOS SANTOS ARAÚJO DE OLIVEIRA - UFRN, MARIO FRANCIS PETRY LONDERO - UFRN, BRÍGICA CAVALCANTI ALVES - UFRN, VINICIUS CAMPELO PONTES GRANGEIRO URBANO - UERN
Apresentação/Introdução Os lugares da interseccionalidade, enquanto importante temática aos tempos atuais faz emergir questão frente às demandas de diálogo com diversos campos, sendo um deles o campo psicanalítico e suas instituições. É importante considerar que a formação psicanalítica, desde os primórdios da história do movimento, é atravessada por questões de cunho político e institucional que, por muitas vezes, se reproduziram em tons de dominação e poder transmutados nos ditames de suas instituições (Katz, 1977). Entre esses casos, em que o exercício da “força” e do “poder” institucional se efetivaram, no que tange aos que não deviam circular no meio psicanalítico, recordo o de Ferenczi. O psicanalista, um dos principais discípulos de Freud, ao denunciar e criticar as práticas de doutrinação pedagógica teve seu lugar de diálogo interrompido na cena psicanalítica de sua época (BIRMAN, 1996). Da mesma forma, os homossexuais, atravessados pela homofobia institucional, não encontravam espaço para a livre circulação e trabalho (BULAMAH, 2020), assim como as mulheres. No Brasil, em especial, as mulheres negras vivenciaram entraves no campo psicanalítico para inaugurarem e preservarem os seus lugares na psicanálise brasileira, ao exemplo de Virgínea Bicudo (LIMA, 2021) e Neusa Santos (SOUZA, 2021). Contudo, nesse debate, em que o reconhecimento seria o avesso do desmentido, se torna fundamental às exigências políticas contemporâneas de desterritorializar estes lugares, como nos casos das minorias raciais, dos conflitos culturais, das questões de gênero (Gondar, 2012). É necessário voltar os olhares para o interior das instituições psicanalíticas e observar quais são e como funcionam os seus movimentos de poder, e que possibilidades mobilizam e/ou inviabilizam aos grupos das diversidades e pluralidades no campo da psicanálise. Pois, qual se torna o valor da psicanálise sem que haja uma profunda viabilidade social, enquanto forças do campo político e histórico em nosso tempo?
Objetivos O presente trabalho de pesquisa tem como objetivos escutar e analisar, com alguns psicanalistas, quais os efeitos produzidos pelas instituições de psicanálise em suas formações, e como estas instituições e seus pares dialogam com as forças do campo social e político das interseccionalidades.
Metodologia Essa pesquisa aborda a dimensão das experiências com a clínica psicanalítica, através do contato com as trajetórias de formação de alguns psicanalistas, escutando os efeitos produzidos nestas formações, a partir de suas relações e vínculos com as instituições de psicanálise e os destinos e manejos frente às questões com os grupos minoritários e as suas interseccionalidades. Para isso, são realizadas entrevistas com alguns psicanalistas na cidade de Natal-RN, pertencentes a escolas psicanalíticas. Como base para tal construção e análise dos discursos se utiliza a escuta flânerie (Gurski 2018), que terá como produto, além de tais análises, a escrita de um diário de experiências da pesquisadora principal, na qual irá associar livremente seus pensamentos a partir dos encontros com os entrevistados.
Resultados e discussão O campo da interseccionalidade quando procura entender as consequências estruturais e dinâmicas de dois ou mais eixos de subordinação (AKOTIRENE, 2021), parece movimentar possibilidades frente às problemáticas das opressões em sociedade, abrindo espaço para que seja visto o impacto da discriminação na vida das pessoas, fazendo da luta contra os padrões que normatizam a vida cotidiana, uma urgente necessidade, em que o silenciamento provocado pelos discursos opressores deverá ceder espaço não só à fala, como ao testemunho.
Este último termo que aqui apreendo em Ferenczi (1933) é proposta fundamental do autor em sua teoria do trauma, na qual a ausência do testemunho produzirá o desmentido, ou seja, a não-validação perceptiva e afetiva da violência sofrida (Gondar 2012), que se tornará cerne do traumático.
Assim, para pensar a psicanálise, enquanto lugar ético de oferta de cuidado radicalmente singular e da ordem do desejo, é preciso irromper com essa lógica opressora de assujeitamento, se fazendo indispensável testemunhar as condições e possibilidades em que as instituições operam e movimentam a interseccionalidade, seja com os pacientes, como também as do próprio analista, sendo possível a este repensar os seus lugares e atravessamentos.
Conclusões/Considerações finais Trazer problematizações sobre os efeitos que a experiência com as legendas interseccionais promovem à formação do analista é, em alguma medida, por em diálogo a interseccionalidade nas instituições, tendo em vista a indissociabilidade desses lugares, recordando aos analistas sobre suas implicações, ainda que estejam, e em alguma medida, apassivados frente aos ditames impostos pelas instituições que os atravessam.
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