Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.5 - Saúde mental, formação e processo de trabalho

46687 - DISTÂNCIAS E APROXIMAÇÕES DA CLÍNICA AMPLIADA: ATUAÇÃO DE RESIDENTES DE PSICOLOGIA NO NASF
NATHÁLIA DA SILVA SOARES ALVES - UPE, LAYTA SENA RIBEIRO - UPE


Contextualização
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) foi criado por meio da Portaria GM/MS nº 154 de 24 de janeiro de 2008 buscando melhorar a qualidade da assistência e efetivar a atenção integral aos usuários, tendo como núcleo estruturante do seu processo de trabalho o matriciamento às equipes da Estratégia de Saúde da Família, a criação de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) e o trabalho interprofissional. O NASF busca a criação e implementação de um novo modo de cuidado na assistência à saúde: a clínica ampliada, uma diretriz importante da Política Nacional de Humanização que prevê a autonomia do usuário no seu processo de cuidado em relação a sua condição de saúde. Assim, a centralidade não se fixa no diagnóstico do usuário, mas nas formas de enfrentamento aos contextos de risco e o fortalecimento dos seus contextos de proteção, priorizando a formação de redes ligadas aos serviços assistenciais, protetivos ou educacionais e, também, as conexões com o território comunitário. O NASF sofreu múltiplos ataques, tendo um ponto crítico com a Nota técnica nº3/2020 que revogou os parâmetros e custeio dessa modalidade de equipe gerando consequências que incluíram a dissolução de muitas equipes. Ademais, uma série de ações governamentais intensificaram pensar a saúde como mercadoria através de avanços neoliberais e criação de um “SUS Operacional” que possibilitasse mais lucro e otimização pelo viés capitalista. Os atuais parâmetros de avaliação da Atenção Básica não refletem fatores reais de universalidade e promoção à saúde

Descrição
A prática foi realizada junto a equipe NASF prefeitura que se vincula a 8 equipes de saúde da família em unidades na periferia do município de Recife.

Período de Realização
As autoras iniciaram a atuação no território em março de 2022 e continuam até o presente momento.

Objetivos
O presente trabalho propõe discutir as distâncias e aproximações na construção de uma clínica ampliada para profissionais psicólogos na residência multiprofissional de saúde da família.

Resultados
Apesar do NASF existir há mais de quinze anos e os cursos de graduação na área da saúde terem se modificado de forma significativa, a formação dos profissionais não os prepara para a construção de uma clínica ampliada, inclusive porque essa formação se sustenta em bases ideológicas alienantes que impossibilitam uma percepção complexa da realidade. Nota-se no trabalho junto às equipes que a formação deficitária prejudica a compreensão do sujeito no contexto do seu processo de saúde-doença: uma sociedade capitalista, racista, capacitista e patriarcal. O processo de trabalho do NASF presente, não rompeu por completo com a lógica biomédica individualista, visto que ainda lida com questões de saúde com foco na patologia em detrimentos dos determinantes de saúde. A falta de compreensão do papel do NASF também é um problema que gera uma alta demanda de atendimentos individuais transformando o processo de trabalho em ambulatorial, descartando a possibilidade de atendimento comunitário coletivo para as demandas comuns. Os maiores instrumentos de atuação do NASF - apoio matricial e PTS - estão pouco presentes na atuação das equipes.

Aprendizados
A equipe de residentes do NASF conseguiu construir práticas que iam ao encontro da construção de uma clínica crítica voltada para o território como a discussão contínua de PTS; estudos de caso aprofundados; criação de grupos de adolescentes, de mulheres e de hipertensos; ações de prevenção com crianças e adolescentes nas escolas; matriciamento de profissionais da ESF e da educação; assim como a atuação política em pautas da saúde, o que demonstra que ações inventivas e de baixa complexidade construídas coletivamente e impulsionadas pela articulação interprofissional e intersetorial são práticas e aproximações possíveis para uma clínica genuinamente ampliada.

Análise Crítica
A crítica e a criatividade são essenciais na construção de práticas inovadoras e potencializadoras das práticas de saúde. É por isso que se nota que modos de trabalho arrojados e alinhados com a práxis do serviço se encontram asfixiados pela lógica dominante que gera e gere concepções medicalizadoras como ordenadoras da vida. Com isso, sabe-se também que analisar o processo de saúde-doença a partir de um viés emancipador, torna-se um desafio fora de padrões prescritivos e padronizadores, visto ser legitimado pela autoridade profissional-cientificista do trabalhador da saúde. Nesse sentido, cabe oxigenar o processo de trabalho com aproximações possíveis a uma clínica ampliada, compreendendo que o respeito às dinâmicas do território, enquanto um espaço vivo e pulsante são a base de um trabalho em saúde para autonomia. Vislumbra-se como potencialidade o estreitamento de redes solidárias a partir do apoio da comunidade por meio de algumas instituições como a igreja e a escola, dado que são abertas a parcerias para ações coletivas. O que se faz, no entanto, urgente é fortalecer esses vínculos de modo persistente, a fim de que o trabalho da residência não seja o único canal propulsor dessas atividades.