Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.5 - Saúde mental, formação e processo de trabalho

48139 - A FORMAÇÃO DOS CUIDADORES EM SAÚDE MENTAL NOS SERVIÇOS RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICOS DE NITERÓI
TATIANA DO REGO SIMÕES - FESAÚDE, DÉBORA RAFAELA DE CARVALHO FÉLIX - FESAÚDE


Contextualização
O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) faz parte da Política Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, que redireciona os recursos da assistência psiquiátrica hospitalar para um modelo substitutivo que tem como premissa básica a implantação e consolidação de um modelo de atenção à saúde mental voltado para a inserção social dos portadores de transtornos mentais na comunidade.
Diferente do cuidador de idosos, a categoria do cuidador em saúde mental ainda não está formalizada. No entanto, a principal política do processo de desinstitucionalização em curso no país depende destes trabalhadores, formados em serviço e em ato por seus gestores e pares.


Descrição
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Niterói conta hoje com 11 residências terapêuticas, 68 moradores e 88 cuidadores em saúde mental concursados pela Fundação Estatal de Saúde de Niterói (FeSaúde) e sem exigência de formação ou trabalho prévio nesta função. Desde a assunção destes trabalhadores uma série de esforços vêm sendo realizados no sentido de formalizar e qualificar o trabalho nos SRT com algumas perguntas guia: O que qualifica um cuidador em saúde mental? Há uma formação específica? Há uma sensibilização específica? A maneira como este profissional é selecionado para o trabalho influencia em sua prática posterior?
Foi realizado, no momento de chegada dos primeiros cuidadores, em março de 2022, um curso introdutório de contextualização da reforma psiquiátrica e do campo da atenção psicossocial. Com a convocação e chegada de grupos menores, os cuidadores passaram a ser recebidos em uma roda de conversa onde fazia-se uma contextualização breve destas temáticas e recolhia-se as expectativas sobre o trabalho. Não foi possível, em função da organização dos plantões, incluir os cuidadores nas reuniões e supervisões regulares de equipe, mas, ao longo do percurso, ofereceu-se a possibilidade de reuniões menores, de cada SRT, com participação voluntária. Além disso, constituiu-se uma representação dos cuidadores de cada SRT com os quais se realizava reuniões mensais ou bimensais discutindo temas concernentes ao processo de trabalho e categoria profissional.


Período de Realização
Buscou-se neste relato reconstruir o percurso realizado com os cuidadores concursados desde março de 2022, quando da posse do primeiro cuidador em saúde mental pelo concurso público da FeSaúde, a reflexão sobre este processo e o que colheu-se da posição destes profissionais, além da problematização sobre a formação necessária para o que é essencial para este cargo/função.

Objetivos
Refletir acerca da formação do cuidador em saúde mental, profissional sem formação específica, mas fundamental para os processos de desinstitucionalização que incluem reabilitar, inserir socialmente, construir o morar e ligar à vida pessoas que estiveram privadas de liberdade, de processos cotidianos considerados banais e de direitos fundamentais.

Resultados
Verificou-se que este percurso não foi suficiente para que os cuidadores, em sua maioria, pudessem se constituir enquanto trabalhadores empenhados no cuidar, estabelecessem uma relação de identificação com seu trabalho e nem se identificassem como trabalhadores do SUS cuja função principal é produzir acesso e reabilitar pessoas alijadas de seus direitos fundamentais.

Aprendizados
O cuidador em saúde mental é fundamental no trabalho que se realiza em uma residência terapêutica com usuários provenientes de longa institucionalização. Este processo pode ser mais bem sucedido se o cuidador se reconhece como protagonista deste processo e operador da saúde e de direitos. No entanto, para que isto aconteça, é necessário formação e sensibilização adequadas destes profissionais sem preparação específica, mas que precisam se sentir incluídos enquanto trabalhadores. Isto não se dá sem a oferta de um espaço de identificação e de reflexão produzidos em reunião e supervisão.

Análise Crítica
O fato de não se ter podido incluir neste percurso a reunião e supervisão de equipe no CAPS não permitiu que estes cuidadores se identificassem com estes outros trabalhadores, também cuidadores, mantendo-se em um lugar de queixa e exclusão, assim como não conseguiram se colocar como atores fundamentais do processo de reabilitação. As problemáticas levantada pelos mesmos nos espaços coletivos e no dia a dia do trabalho aparecem como discussão de atribuições, desvio de função e direitos trabalhistas, pouco se falando sobre o cuidado prestado e o direito dos moradores do SRT de serem cuidados.