03/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC34.2 - Cuidados territoriais emancipatórios para as populações do campo, da floresta e das águas |
46336 - O FAZER MULTIPROFISSIONAL NA SAÚDE DO CAMPO ENQUANTO ESTRATÉGIA FORMATIVA E POLÍTICA PARA O SUS ALEXSANDRO DE MELO LAURINDO - UFBA/ISC, FABIANA DE OLIVEIRA SILVA SOUSA - UFPE/CAV, ITAMAR LAGES - UPE, MATEUS DOS SANTOS BRITO - UFBA/ISC, THAIARA DORNELLES LAGO - UFSC, PRISCYLLA ALVES DO NASCIMENTO - IAM/FIOCRUZ., LUIZA CARLA DE MELO - IAM/FIOCRUZ.
Apresentação/Introdução As equipes que atuaram na Atenção Primária à Saúde (APS) tiveram que reorganizar o processo de trabalho frente ao surgimento da pandemia da Covid-19, com isso os programas de residência multiprofissional em saúde caminharam em meio à necessidade formativa e politica e a manutenção nos campos de trabalho. Devido ao momento histórico-político de descoordenação técnica e estratégica no âmbito federal, muitos trabalhadores do SUS foram realocados, transferidos ou remanejados de suas funções. No entanto algumas experiências e pesquisas apresentam a potencia da APS e sua capilarização nos processos de vigilância e educação popular nos territórios, produzindo cuidado em saúde e combatendo as Fake News em saúde.
Objetivos O presente relato de pesquisa busca apresentar algumas dimensões do processo de trabalho de uma equipe multiprofissional em saúde que atuou na zona rural do município de Caruaru-PE durante a Pandemia de Covid-19.
Metodologia A pesquisa foi realizada a partir da vivência de sete profissionais que aturam em territórios rurais e quilombolas do municipio de Caruaru/PE junto ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase em Populações do Campo da Universidade de Pernambuco/Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra/Movimento Quilombola Pernambucano. Caracterizando enquanto um estudo descritivo, qualitativo com desenho de estudo de caso, a partir de grupo focal, realizada de Março a Dezembro de 2021. Devido ao contexto sanitário o grupo focal aconteceu de modo virtual, através da Plataforma Google Meet. O instrumento de coleta foi um roteiro semiestruturado, composto por seis questões relacionadas ao processo de trabalho na perspectiva do contexto rural. Analisaram-se os dados por meio da técnica da análise de conteúdo de Laurence Bardin seguindo uma sequência cronológica de pré-análise, exploração do material coletado, tratamento e interpretação, o mesmo permitiu a identificação de categorias de análise emergentes ou terminais. Emergiram três categorias temáticas: 1) as disputas no processo de trabalho multiprofissional; 2) o fazer saúde com base territorial; 3) as atividades desenvolvidas e ferramentas utilizadas. A pesquisa teve sua aprovação no CEP HUOC/PROCAPE com o parecer Nº 4.892.981.
Resultados e discussão Os resultados revelam a existência sócio histórica de disputas entre os modelos e práticas de atenção á saúde adotados na zona urbana e rural, alguns participantes enfatizam que o modelo operacionalizado na “cidade” se contrapõe à realidade do campo e às propostas de organização e desenvolvimento do trabalho que as equipes NASF-Ab de residentes implementavam, sob uma perspectiva de base territorial, possuía diversos entraves políticos-organizacionais. No entanto, alcançaram-se a partir da atuação conquistas, projetos e grandes iniciativas que se tornaram modelo no municipio e no Estado. Na segunda categoria enfatizam-se que os territorios possuíam grandes distâncias geográficas, apresentando dificuldades históricas de acesso aos serviços de saúde. Neste cenário os profissionais precisaram elaborar estratégias de combate às barreiras de acesso, sendo uma delas a reafirmação na rede municipal de um cuidado com base territorial enquanto estrátegia de uma APS próxima às famílias e as necessidades de saúde. Na terceira categoria a ampliação, adaptação e fomento as práticas de saúde interculturais, atividades e instrumentos de cuidado, evidenciaram a possibilidade e necessidade concretada de ampliação e fortalecimento das equipes multiprofissionais (NASF-Ab) na realidade do campo, bem como o fomento a dimensão formativa de profissionais da saúde instrumentalizados para atuarem em territorios rurais e tradicionais. Contudo, tais ações têm esbarrado em dificuldades no financiamento e estruturação do eNASF-Ab e das residências multiprofissionais a nível nacional com reflexões nos Estados e municípios, bem como nas relações historicamente hierarquizadas entre campo-cidade, onde se prioriza o investimento na saúde em territórios urbanos em detrimento do campo, florestas e águas.
Conclusões/Considerações finais O estudo evidenciou a necessidade da ampliação técnico-pedagógica de formações com base na educação popular voltadas à saúde das populações do campo enquanto prioridades político-sociais no SUS, bem como a ampliação estratégica e manutenção de equipes multiprofissionais que atuem numa perspectiva de base territorial para além das estruturas da UBS, além de políticas públicas e programas que garantam o acesso equânime à saúde em comunidades rurais e tradicionais de modo transversal e participativo respeitando os aspectos interculturais que atravessam as identidades territoriais destas comunidades.
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