46714 - EU, NÓS… ELAS QUILOMBOLAS: DOCUMENTÁRIO SOBRE VACINAÇÃO CONTRA COVID-19 EM QUILOMBOLAS ENQUANTO DISPOSITIVO ANTIRRACISTA TATIANA ENGEL GERHARDT - UFRGS, RICARDO PALMEIRO LUBISCO - UFRGS, NATÁLIA BRISTOT MIGON - UFRGS, JAQUELINE OLIVEIRA SOARES - SES-RS, ROSEMERI DA SILVA MADRID - UFRGS, JOSEANE DOS SANTOS - UFRGS, JOANA DA COSTA ESCHILETTI - UFRGS
Processo de escolha do tema e de produção da obra No Brasil, diante da omissão do governo federal, fundamentada na necropolítica e no negacionismo, a falta de informações levou as comunidades Quilombolas a se responsabilizarem pela construção das listas de aptos a receberem a vacina contra a COVID-19. A vacinação foi um passo importante no reconhecimento identitário e do direito dessa população, no entanto, ao longo do processo de operacionalização, questões estruturais emergiram quando se precisou vincular números de doses a braços de cidadãos. Imersos nessa que está sendo uma das mais importantes crises sanitária, social, econômica e política, e atentos à problemática onde a invisibilidade marca os processos de tomadas de decisão, buscamos na produção audiovisual, além do registro deste contexto, a possibilidade de um dispositivo político-pedagógico capaz de abordar a ausência do estado, a necropolítica, o racismo estrutural e institucional, o privilégio e o direito que afetam as populações quilombolas. Ao associar ciência e arte, produzimos um caminho metodológico a partir do método de produção audiovisual, entrelaçado com os referenciais da sociologia das imagens e da antropologia visual. O processo de se pensar o projeto e produção do documentário, colocá-lo em execução e ver/ouvir/registrar vozes tão potentes ao contarem suas narrativas movidas pela ancestralidade, memórias e relações, tornaram evidente duas práticas executadas pela modernidade desde a colonização das Américas: o racismo estrutural e o institucional, que, durante a vacinação, dificultou atender às priorizações da vacinação e às condições sanitárias, conferindo desvantagens e privilégios com base na raça.
Objetivos Documentar e dar visibilidade para a ação das mulheres quilombolas de Morro Alto para a produção das listas de vacinação contra COVID-19.
Ano e local da produção 2022, Morro Alto/RS
Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso Dar visualidade à vivência cotidiana das comunidades quilombolas como exercício científico de investigação e compreensão das potências na produção do cuidado em contextos e cenários de negligência e vulnerabilização, possibilita ao campo da Saúde Coletiva considerar e se apropriar da multiplicidade de gêneros discursivos em suas práticas de pesquisa e dar melhor devolução à sociedade daquilo que a ciência produz, assim como potencializa no campo científico a interação das experiências dos indivíduos no que diz respeito a sua saúde, historicamente invisibilizadas pelo racismo epistêmico que universaliza e legitima as concepções eurocêntricas de análise dos modos de cuidado. Apesar de conhecidas as proporções dos impactos de produções imagéticas, há, ainda, desafios envoltos na elaboração e na aceitação destes materiais: epistemológicos, metodológicos e de fomento. Joaquín Barriendos aborda a colonialidade do ver como constitutiva da modernidade, agindo como padrão heterárquico de dominação, decisivo para todas as instâncias da vida contemporânea, e problematiza a relação entre produção visual da alteridade e do racismo epistemológico. A análise do processo de construção das listas de vacinação, expressa na linha narrativa do documentário, permite aprofundar a natureza do laço social e compreender as condições e as possibilidades de certos grupos concretizarem suas reivindicações na arena da disputa política, pois as imagens contribuem para construir o imaginário social a partir de uma história contada por ELAS. Estamos no cerne de fazer falar o silêncio de Cida Bento, diante das opressões em relação a diversidade de saberes e manifestações do viver e do cuidar, das formas de experiências, conhecimentos e práticas de sobrevivência, cuidado com a saúde e a doença, que nascem da luta, da resistência contra o privilégio epistêmico do modelo biomédico e as formas de dominação, sobretudo pela sinergia colonialismo- capitalismo-patriarcado. O trabalho com o visual contribui não só com a memória, pois ele nos lembra do que esquecemos, como oferece possibilidade de escape na qual a ontologia política relacional realoca o mundo moderno em um mundo dentro de outros mundos, tarefa fundamental das academias e de movimentos sociais. Por fim, as imagens: 1) permitem visualizar mundos silenciados, mover a imaginação e mergulhar nos mundos e sua rede de inter-relações; 2) apresentam-se como dispositivo político-pedagógico antirracista capaz de abordar a complexidade que envolve as populações invisibilizadas e vulnerabilizadas; 3) permitem compreender e aprender sobre diferentes epistemologias, concepções e práticas em saúde e tornam-se potentes aliadas na construção de espaços de diálogos interepistêmicos e interculturais no Sistema Único de Saúde e área da saúde como um todo.
Formatos e suportes necessários referentes à apresentação multimídia, computador
Breve biografia do autor Professora Titular em Saúde Coletiva UFRGS. Pós-doutorado em Antropologia Visual em 2012, trabalho a relação imagens e conhecimento científico nos temas itinerários terapêuticos, iniquidades sociais e de saúde, interculturalidade, corpo-território a partir da decolonialidade.
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