03/11/2023 - 13:10 - 14:40 OL10 - Potencialidades e desafios das linguagens da ESCRITA DE MEMÓRIAS, DANÇA e TEATRO para pensar o cuidado como práxis decolonizadora |
47393 - O POTENCIAL TERAPÊUTICO DO TEATRO NA SAÚDE MENTAL: A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE TEATRO RAÍZES DA ARTE NO MUNICÍPIO DE MARICÁ-RJ PRISCILA CALMON GARCIA - IMS/UERJ | CAPS III MARICÁ-RJ, PRISCILA HEUSNER GONÇALVES DE SOUSA - CAPS III MARICÁ-RJ
Processo de escolha do tema e de produção da obra Dentro da perspectiva da Reforma Psiquiátrica e da Atenção Psicossocial os profissionais são convidados a pensar e repensar suas práticas e construir novas estratégias de cuidado para e com os usuários, criando intervenções que promovam ações terapêuticas que resgatem a cidadania e autonomia dos sujeitos. A arte é compreendida como uma dessas alternativas desde Nise da Silveira. Tendo isso como norte, propõe-se a realização de uma oficina de teatro no CAPS, após uma apresentação do Teatro do Oprimido no evento da Luta Antimanicomial da cidade. Nesse processo, um usuário, que ao longo de sua trajetória de vida já atuou com artes cênicas e plásticas, deu força à ideia e, por ser bastante articulado no serviço, divulgou aos demais usuários que conhecia, convidando-os para a formação desse grupo. Em agosto de 2022 ocorreu o primeiro encontro com a presença de sete participantes contando com a mediadora, enfermeira do CAPS. A partir de então, semanalmente, passaram a elaborar um roteiro, fazer dinâmicas teatrais e ensaiar as cenas à medida que eram idealizadas. Ao longo dos encontros, uma média de 10 a 15 usuários participavam e, a proposta inicial era produzir uma apresentação para a festa de final de ano do serviço. À medida que a data se aproximava, os atores iam demonstrando alguma ansiedade e preocupação, com receio de que não houvesse tempo hábil para que tudo ficasse pronto. Com isso, apostamos em adiar a apresentação para fevereiro de 2023. Ao longo desses seis meses o espetáculo teatral tomou forma com sete atos e intitulou-se Delírios Em Cena. Foram realizados 26 encontros, além de três ensaios gerais extras em janeiro.
Objetivos Essa proposta tem como objetivos transmitir conteúdo audiovisual sobre o Grupo de Teatro Raízes da Arte, composto por usuários-atores de um CAPS III, e propiciar um espaço crítico, reflexivo e de trocas de experiências e vivências acerca do potencial terapêutico da arte no campo da saúde mental. O principal objetivo desse grupo foi estimular a autonomia e o protagonismo dos usuários a partir da promoção de atividades artísticas coletivas que valorizassem a potencialidade e criatividade de cada um deles e que não se limitasse ao espaço interno do serviço, mas que também tivesse potencial de ocupar os espaços da cidade, enquanto prática emancipatória, cidadã e de resgate de direitos. Os ensaios aconteceram em teatros e auditórios da cidade, e houve articulação com a Secretaria de Cultura do município, que fez a divulgação do espetáculo, aberto ao público.
Ano e local da produção Agosto de 2022 a fevereiro de 2023, no CAPS III da cidade de Maricá/RJ.
Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso A linguagem audiovisual possibilita ampliar o alcance da discussão e criar um espaço de expressão, tal qual a proposta teatral se propõe, de modo que os espectadores presentes possam ser afetados pela produção. Entendemos a experiência audiovisual no campo da Saúde Coletiva como relevante, pois possibilita a democratização da produção de sentidos da saúde e pode subsidiar a participação cidadã nos debates públicos, através de algo que é visual/artístico e que dialoga com o tema do congresso. Entendemos a arte como uma prática emancipatória e o conteúdo do espetáculo tem como norteador os princípios da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, uma luta por uma reparação histórica, e a reconstrução crítica associada às práticas de cuidado.
Em todo o processo de construção do espetáculo procuramos estimular a criatividade, a autonomia e o senso crítico do grupo. As cenas foram criadas a partir de dinâmicas propostas com a técnica do improviso. Vislumbramos a participação ativa do usuário-ator, seja na criação do roteiro, figurino, cenário, definição dos personagens, elaboração das regras e divulgação do espetáculo. No desenrolar das atuações, os usuários revelaram corpos com pulsão de vida, mas ainda muito engendrados por uma expectativa de normas e da voz do outro, para que lhes dissessem o que fazer e como agir. Sair dos moldes clínicos convencionais e oferecer outros espaços e formas de cuidado exige certa ousadia e capacidade para permitir que o conhecimento técnico/científico não seja protagonista, mas sim coadjuvante, e permitir que o saber dos usuários, suas vivências e afetações sejam colocadas em cena.
Formatos e suportes necessários referentes à apresentação Será apresentado um vídeo, indexado no Youtube, com duração de 14 minutos, que tem como conteúdo fotografias e filmagens do espetáculo teatral e making-off, além de entrevistas com os usuários e profissionais envolvidos no processo artístico, com suas narrativas e percepções a respeito da produção.
Breve biografia do autor Priscila Calmon é enfermeira pela UFBA, especialista em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ e mestranda em Saúde Coletiva (IMS/UERJ), área de concentração Política, Planejamento e Administração em Saúde. Priscila Heusner é psicóloga pela UFRRJ, especialista em Psicologia Hospitalar pelo INI/FIOCRUZ e mestre em Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ), área de concentração Política, Planejamento, Gestão e Cuidado em Saúde. Ambas atuam no CAPS III de Maricá-RJ.
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