47937 - COMUNICAÇÃO SOCIAL CULTURALMENTE APROPRIADA PARA A CAMPANHA DE VACINAÇÃO CONTRA COVID-19: ESTRATÉGIAS DE AUTONOMIA E DISSEMINAÇÃO DECOLONIAL DA INFORMAÇÃO EM SAÚDE MARIA PAULA PARANHOS CALDAS - ISC/UFBA, MARCELE CARNEIRO PAIM - ISC/UFBA
Apresentação/Introdução A baixa cobertura vacinal consequente da hesitação para se vacinar é historicamente um problema de saúde pública, tem-se como exemplo o fenômeno de “vacinophobia” (CHALHOUB, 2006) que se constituiu a partir de uma decisão verticalizada e que pouco se comunicou com a população sobre efeitos, benefícios e riscos. Apesar da globalização ter transformado a forma como as comunicações são produzidas, deixando de ser verticalizada para ser horizontalizada, a respeito das instituições de saúde ainda pouco se faz na prática. Reconhecendo que a participação social é um princípio organizativo do SUS (BRASIL, 1988), a produção de produtos comunicacionais para campanhas de vacinação de forma vertical fortalece um tipo de interação que é quase-interação mediada, sendo uma interação que se estende no tempo e no espaço, mas não estabelece uma ligação direta entre os indivíduos e para que isso seja possível é essencial considerar as diferenças e hábitos culturais de cada comunidade, além da sua individual concepção de risco (GIDDENS, 2001). Quando se pensa estratégias para campanha de vacinação, o acesso não está garantido pela oferta ou pela simples adequação de códigos a um perfil médio dos desejados “receptores”, mas pela articulação dos contextos de circulação e apropriação, assim, saliento que respeitar os diferentes contextos aos quais a população está inserida, sabendo que existirá influência na recepção e apropriação dos produtos comunicacionais das instituições de saúde é essencial para um dialogismo adequado ao ponto de garantir que o direito à comunicação e informação seja cumprido de forma plena e o acesso aos serviços de saúde seja adequado (ARAÚJO; CARDOSO, 2014).
Objetivos O interesse é identificar através do olhar das comunidades, a necessidade e os produtos de comunicação social e comunitária desenvolvidas, a partir de uma necessidade de suprir as particularidades e heterogeneidades dos diversos públicos que não são consideradas na produção de comunicação institucional. A partir daí, reconhecer os processos de emancipação na saúde, na busca pelo direito à informação.
Metodologia A proposta metodológica partiu da realização de um trabalho mais amplo de revisão que identificou 199 artigos, nas bases de dados PubMed, BVS e Web of Science com os descritores “communication and vaccine and community engagement and covid”, publicados entre os anos de 2020 e 2022. Desses 37 foram selecionados a partir dos critérios de inclusão e foi observado um padrão de 12 artigos nos quais a população de estudada eram afro-americanos ou africanos, que derivou, portanto, na construção do recorte proposto para o presente estudo.
Resultados e discussão Ouvir, entender e responder às necessidades de um grupo específico, a partir de suas perspectivas e considerando suas características culturais pode aumentar a confiança nas informações que partem da ciência, que iram contribuir para a tomada de decisão de se vacinar. Em uma realidade de isolamento, no qual muitas das informações sobre a vacina de Covid-19 foram disseminadas através das mídias digitais, nos faz refletir para a necessidade de repensar essas estratégias e abandonar esse modelo de colonização digital, o qual se reflete nas campanhas tematicamente homogeneizadas. Para atender às adaptações culturais, os estudos convergiram em 5 necessidades: trabalhar de forma clara e com linguagem simplificada sobre a percepção de risco, ou seja, porque é importante tomar as doses de reforço e não apenas indicar imperativamente que deve-se tomar as doses de reforço; produzir campanhas com líderes religiosos e comunitários como interlocutores da campanha; produzir eventos que se aproximem da rotina da comunidade para fazer campanhas “boca a boca”; investir em vídeos e depoimentos pessoais de pessoas que se contaminaram e se vacinaram e investir em estratégias para quebrar as barreias para acessar informações confiáveis. Por outro lado, percebe-se ainda que, de acordo com os autores, a comunidade enfrenta uma barreira de desconfiança de profissionais de saúde, principalmente médicos, pelo histórico de barreiras e racismo estrutural do sistema de saúde.
Conclusões/Considerações finais Considerar as estratégias de comunicação culturalmente adaptadas, trata-se de uma perspectiva que contribui para o acesso à informação e garante a autonomia dessa comunidade para ser comunicada pelo sistema de saúde, numa perspectiva decolonial (TORRE et al, 2020) da produção de comunicação. na mesma forma que a lógica do biopoder (RABINOW, 2006), escolhendo quem tem o direito de viver, escolher formas homogêneas e que desconsiderem as diferenças culturais, escolhe mais uma vez quem tem o direito de viver, uma vez que não direciona a campanha de vacinação para população, permitindo assim que informações necessárias em saúde que poderiam contribuir para a garantia de proteção contra o vírus através da vacina, não cheguem nessas pessoas. Faz necessário, então, abandonar o modelo verticalizado de se comunicar e aderir a um modelo baseado na participação popular, horizontalizado.
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